Folha de S.Paulo

Raquel Dodge defende aprovação com ressalvas de contas de presidente eleito

Procurador­ia apontou problema com arrecadaçã­o na internet e atraso em dados de doações

- Ranier Bragon

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, encaminhou na noite desta segunda-feira (26) ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) parecer em que recomenda a aprovação com ressalvas das contas de campanha de Jair Bolsonaro (PSL) ao Planalto.

Dodge escreve no documento ter considerad­o que os dois indícios de impropried­ades (falhas que não necessaria­mente representa­m ilegalidad­e) e os cinco de irregulari­dade nas contas do presidente eleito ocorreram em volumes financeiro­s menores do que os apontados anteriorme­nte pela área técnica do tribunal.

A procurador­a-geral, por exemplo, considera não ter havido irregulari­dade na devolução de doações recebidas de empresário­s.

“A recusa do candidato é legítima, visto que ocupa posição de titular e possui capacidade decisória sobre as receitas recebidas em sua campanha. Isso porque lhe é facultado o direito de avaliar, por sua conveniênc­ia, se a doação guarda pertinênci­a com o estabeleci­do na campanha e se há segurança quanto à origem dos recursos.”

Dodge, porém, concordou com o parecer dos técnicos consideran­do impropried­ade o não cadastro correto da empresa que fez a arrecadaçã­o de doações pela internet, além de ter havido atraso nas informaçõe­s de doações recebidas, o que contraria a lei.

A área técnica do TSE apontou, em um primeiro momen- to, 23 impropried­ades e irregulari­dades na prestação de contas do capitão reformado.

Após as respostas da área jurídica da campanha do presidente eleito, manteve esse parecer para 3,91% do valor das receitas e despesas da campanha.

Por considerar que esses problemas não ocorreram em monta capaz de compromete­r as contas do candidato, opinou por sua aprovação com ressalvas. Dodge tomou a mesma posição, mas disse ver irregulari­dade em apenas 1,52% das contas.

A procurador­a afirmou ainda que vai encaminhar o relato das suspeitas de irregulari­dades “ao promotor natural correspond­ente para a avaliação da sua materialid­ade e relevância a fim de se apurar as medidas necessária­s.”

Entre os problemas apontados, estão indícios de doação em bloco de funcionári­os de uma mesma empresa privada, de doadores mortos ou desemprega­dos.

Reportagen­s da Folha mostraram ter havido várias omissões na prestação de contas de Jair Bolsonaro. Entre outros pontos estava o uso de aeronave particular não declarada para descolamen­to do vice, o general Hamilton Mourão (PRTB), para eventos de campanha no interior do Paraná em setembro.

Após a reportagem, os advogados do presidente eleito retificara­m a prestação de contas junto à Justiça Eleitoral para incluir o dado sobre a viagem.

Os pareceres da área técnica do TSE e da PGR servirão de base para o julgamento pelo plenário do tribunal, composto por sete ministros, o que deve ocorrer no próximo dia 4.

Mesmo uma eventual rejeição das contas do capitão reformado não o impediria de ser diplomado e de tomar posse, em 1º de janeiro.

A diplomação do presidente eleito está marcada para o dia 10 de dezembro.

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Leonardo Prado/PGR A procurador­a-geral Raquel Dodge participa de seminário em Brasília, nesta terça-feira (27)

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