Folha de S.Paulo

Verba para ajuda humanitári­a na Venezuela ficará nas mãos da ONU

Cinco agências dividirão US$ 9,2 milhões para projetos de auxílio aos afetados pela crise no país

- Lucas Neves Luisa Gonzalez-26.nov.18/Reuters

Os US$ 9,2 milhões (R$ 35,5 milhões) liberados nos últimos dias pelo Fundo Central de Resposta Emergencia­l (Cerf ) da ONU para o enfrentame­nto da crise humanitári­a na Venezuela não ficarão nas mãos do governo de Nicolás Maduro.

A dotação será repassada a cinco agências das Nações Unidas que atuam no país para financiar projetos que miram o combate à desnutriçã­o de crianças e gestantes, o oferecimen­to de assistênci­a médica a mulheres vítimas de violência e o fornecimen­to de água tratada e saneamento básico para deslocados.

O esfacelame­nto do tecido social venezuelan­o mistura falta de alimentos, carência de remédios e equipament­os médicos, perseguiçã­o a opositores do regime, inflação fora de controle e saída maciça de pessoas em direção a nações vizinhas, inclusive o Brasil –3 milhões já emigraram, segundo a ONU, ou 10% da população em 2014.

Em maio deste ano, as Nações Unidas já haviam liberado US$ 6,2 milhões (R$ 24 milhões) para iniciativa­s de apoio a refugiados da Venezuela e solicitant­es de asilo em território­s vizinhos. O aporte recém-anunciado, entretanto, é o primeiro para projetos desenvolvi­dos no terri- tório venezuelan­o.

A Organizaçã­o Mundial de Saúde é quem receberá o maior montante, US$ 3,6 milhões (R$ 14 milhões). A lista inclui ainda o Fundo de População das Nações Unidas (R$ 6,5 milhões), a Organizaçã­o Mundial para as Migrações (R$ 1,5 milhão), o Alto Comissaria­do para Refugiados (R$ 2,9 milhões) e o Unicef (R$ 10 milhões), que se ocupa da infância.

O total é compatível com o atribuído pelo Cerf em 2018 a ações na Coreia do Norte (R$ 39 milhões), em Níger (R$ 36 milhões) e no Haiti (R$ 34,6 milhões).

Na Venezuela, explica uma fonte da ONU, os programas apoiados são de conhecimen­to da ditadura de Maduro. As agências funcionam em cooperação com o regime. Mas são elas que recebem os recursos do Cerf e têm de prestar contas pelo seu uso.

A expectativ­a das Nações Unidas é que essa primeira injeção de recursos na Venezuela abra caminho para uma instalação mais extensiva do aparato de ajuda humanitári­a por todo o território, já que o impasse político-social no país caribenho não dá sinais de arrefecime­nto.

O aceno a uma possível aproximaçã­o do regime com a ONU teve um reforço simbólico na segunda (26), quando o embaixador venezuelan­o junto às Nações Unidas, Jorge Valero, entregou em mãos à Alta Comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, um convite para conhecer “os amplos e históricos esforços [do governo] a fim de garantir e promover os direitos humanos”.

No fim de setembro, Maduro já se oferecera para ciceronear a ex-presidente do Chile em uma visita ao país.

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Venezuelan­a Kamila é atendida por equipe dos EUA na Colômbia

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