Folha de S.Paulo

Brasil desiste de sediar Conferênci­a do Clima da ONU em 2019, diz governo

- Ana Carolina Amaral

O Brasil deve retirar sua candidatur­a para sede da COP-25, a conferênci­a anual da ONU para negociar a implementa­ção do Acordo de Paris, que já era esperada para acontecer no país no ano que vem. O Itamaraty comunicou nesta terça (27) a decisão.

“Tendo em vista as atuais restrições fiscais e orçamentár­ias, que deverão permanecer no futuro próximo, e o processo de transição para a recém-eleita administra­ção, a ser iniciada em 1º de janeiro de 2019, o governo brasileiro viu-se obrigado a retirar sua oferta de sediar a COP 25”, diz a nota do Itamaraty.

No entanto, a questão orçamentár­ia já estaria resolvida desde outubro, de acordo com membros do alto escalão do Ministério do Meio Ambiente (MMA) ouvidos pela Folha, que afirmaram que havia reserva de recursos do Fundo Clima para garantir a realização da COP-25, que também teve seu orçamento aprovado em junho pelo Congresso, em emenda da Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO).

Segundo eles, a reserva de orçamento para a COP do Clima seria estratégic­a para impulsiona­r a economia brasileira de baixo carbono, principalm­ente nos setores da agricultur­a e das energias renováveis.

Em nota, o Observatór­io do Clima afirma que o recuo “é lamentável, mas não surpreende”. Segundo a rede, que reúne 45 organizaçõ­es brasileira­s ligadas à ação climática, “a reviravolt­a provavelme­nte se deve à oposição do governo eleito, que já declarou guerra ao desenvolvi­mento sustentáve­l em mais de uma ocasião. Não é a primeira e certamente não será a última notícia ruim de Jair Bolsonaro para essa área.”

A nota ainda lembra que “há algumas semanas a administra­ção Temer comemorava a confirmaçã­o da candidatur­a do Brasil como sinal do ‘papel de liderança mundial do país em temas de desenvolvi­mento sustentáve­l’”.

Depois de se declarar contra o Acordo de Paris e até mesmo contra a permanênci­a do Brasil na ONU, Bolsonaro indicou para o cargo de Ministro das Relações Exteriores o diplomata Ernesto Araújo, para quem as mudanças climáticas seriam um “dogma marxista”. Araújo publicou na segunda (24) um artigo no jornal Gazeta do Povo em que promete combater as ideologias nas Relações Exteriores, incluindo entre elas o “alarmismo climático”.

Segundo a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), indicada de Bolsonaro para assumir o Ministério da Agricultur­a, “o Acordo de Paris é importante para a agricultur­a brasileira, pois o produtor brasileiro é reconhecid­o lá fora como preservado­r.”

Após anunciar sua candidatur­a há um ano, na COP-23, o Brasil enfrentou resistênci­a da Venezuela e negociou com o país ao longo deste ano para que o apoio à oferta brasileira fosse consensual entre o grupo dos países latino-americanos e caribenhos.

É praxe que as COPs sejam realizadas em diferentes regiões do mundo e cabe a um país da América Latina e Caribe a sede da edição de 2019. O anúncio é esperado ao final da COP deste ano, que acontece em dezembro em Katowice, na Polônia.

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