Folha de S.Paulo

Academia aposta em treinos à base de pulos com molas nos pés

Movimentos no estilo canguru ajudam no fortalecim­ento dos músculos de membros inferiores, do abdome e das costas

- Gabriel Alves Bruno Santos/Folhapress

Academias especializ­adas estão na moda. Há unidades apenas para spinning, outras só para exercício funcional ou até as especializ­adas em terceira idade. Agora, uma academia recém-inaugurada em São Paulo resolveu chamar a atenção nesse mercado disputado com aulas com botas que têm uma espécie de mola em sua base que ajudam a propulsion­ar os usuários em aulas de ginástica funcional, dança e até corrida.

Para quem (como eu) não morre de amores pela musculação e procura variação, brincar de canguru parece divertido. Fortalecer membros inferiores, além de abdominais e outros músculos importante­s para o equilíbrio seriam alguns dos demais benefícios.

As botas Kangoo Jumps não são exatamente novidade: elas existem há uma década, mas não tinham uma academia para chamar de sua. A empresária Viviane Laginha então se juntou ao casal Fabiana e Julio Neves, que comerciali­za o calçado no Brasil, para abrir o estúdioSp ri ng Fit, na zona oeste da capital paulista. Desembolsa­ram cerca de R $300 mil.

Segundo Laginha, as botas são higienizad­as periodicam­ente, mas é possível comprar seu próprio par por R$ 1.000 ou parte interna da bota, de tecido, por pouco mais de R$ 100.

À aula: primeiro uma explicação rápida de como calçar abota e, muito importante, como sair do chão e ficar em pé. Eu não consegui levantar do jeito demonstrad­o graças à uma fraqueza na perna direita, mas arrumei um outro caminho eme ergui comas pernas esticadas. Já duvidei da história de que a modalidade seria amigável par apessoas com problemas nas articulaçõ­es.

Não leva muito, porém, paras e acostumar. Adicaé não ficar parado e andar de um lado para o outro e saltitar. É prudente economizar energia.

“Você consegue fazer os movimentos, mas tem que dosar o gás. Eu tive que me controlar para não desmaiar”, disse o arquiteto Cássio Vinícius Pereira, 35, que já estava em seu quarto treino na modalidade. Uma pena eu ter recebido o conselho só depois da aula.

O treino tem duas partes. Na primeira, ao som de versões eletrônica­s de músicas pop, o professor Adan Conceição explica com o auxílio de um microfone (mesmo assim nem sempre dá para entender) o que se deve fazer: saltos em todas as direções ou elevação de joelhos —sem contar o esforço para se manter equilibrad­o em uma mola a 15 cm do chão.

Foi difícil acompanhar com fidelidade os movimentos vistosos do professor. Boa parte dos alunos, como eu, fazia versões ligeiramen­te mais tímidas, sem saltos tão longos ou chutes tão altos (senti um pouco de instabilid­ade no joelho, achei melhor não abusar).

Depois de um pouco menos de meia hora de atividade, tiramos as botas: era hora da parte de exercícios funcionais. “Ninguém aguenta uma hora inteira com as botas naquela intensidad­e”, diz Adan, 25, e que ensina a modalidade há cinco anos. Para o circuito daquele dia, o professor preparou movimentos que incluíam agachament­o, flexões e uma espécie de remada com o corpo a 45 graus do chão.

O pouco de energia que me restava acabou no meio da segunda parte, mas Nikaeelly Loiola, 34, estudante de educação física (e ex-gordinha), não parecia ter qualquer dificuldad­e, embora estivesse apenas na segunda aula. Ela, que já passou por step, zumba e jump, afirmou ter adorado a novidade. “É uma aula boa para quem não tem tempo, só uma hora, fácil de encaixar na agenda. Para as pessoas que não gostam de musculação, é uma boa alternativ­a.”

Laginha diz que a modalidade serve para todas as idades e biotipos. Cássio começou as aulas ao mesmo tempo que o pai, Ideraldo, 59, e, no treino que fiz, havia uma mulher, que aparentava estar perto dos 50 anos, se esforçando bastante. “A gente não quer criar estereótip­os de beleza, mas incentivar há- bitos saudáveis”, diz a dona.

Empresário no ramo fitness há quatro décadas, Waldyr Soares avalia como promissora a iniciativa da SpringFit, mas sugere que o público-alvo deve ser mais jovem. “Acho que velho não vai querer fazer, só quem tem até uns 30, 40 anos. É uma alternativ­a legal fortalecer as pernas brincando —você parece uma girafa andando com aquele negócio. As pessoas não querem mais puxar ferro (que é um pé no saco), elas querem a experiênci­a do bem-estar, e o Kangoo é compatível com essa revolução.”

Já Rodrigo Sangion, da badalada academia paulistana Les Cinq Gym, não é tão otimista: “Não vejo como uma tendência. Já teve sua época.”

O plano depois de estabelece­r a matriz, diz Laginha, é expandir a rede por meio de franquias.

Os alunos devem reservar vaga no horário desejado por meio de um app. No espaço, cabem até 45 pessoas por vez. Hoje, uma aula avulsa custa R$ 50 e um pacote com duas aulas semanais, R$ 249 por mês —o plano mais procurado. Além da modalidade funcional, existe uma versão de dança (um pouco menos intensa, na qual as botas são usadas por uma hora inteira) e a de corrida na rua.

Pedro Hallal, professor da Universida­de Federal de Pelotas, explica que é importante que exista oferta de um grande número de modalidade­s de atividade física, o que aumenta a chance de as pessoas encontrare­m alguma com a qual se identifiqu­em.

“Há uns 15 anos o profission­al de educação física passou a ter uma atuação mais direta na saúde pública, envolvendo-se em políticas públicas, seja na criação de ciclovias ou dando aulas para comunidade em programas de governo. Nesse contexto, quanto mais diversidad­e for ofertada, melhor. Tem gente que gosta de futebol, aeróbica, step, musculação… Vai ter gente que vai gostar de ficar pulando na botinha. Eu nunca pulei, mas deve ser divertido”, diz Hallal.

“Acho que velho não vai querer fazer, só quem tem até uns 30, 40 anos. É uma alternativ­a legal fortalecer as pernas brincando — você parece uma girafa andando com aquele negócio. As pessoas não querem mais puxar ferro (que é um pé no saco), elas querem a experiênci­a do bem-estar

Waldyr Soares empresário do ramo fitness

“Quanto mais diversidad­e for ofertada, melhor. Tem gente que gosta de futebol, aeróbica, step, musculação… Vai ter gente que vai gostar de ficar pulando na botinha. Eu nunca pulei, mas deve ser divertido

Pedro Hallal professor da Universida­de Federal de Pelotas

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Professor Adan Conceição comanda aula que mistura saltos com movimentos funcionais

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