Folha de S.Paulo

Bancado pela CBF, Tribunal desportivo já multou clubes em R$ 1 mi em 2018

Órgão não informa detalhes da destinação de valores arrecadado­s com punições na temporada

- Alberto Nogueira e Diego Garcia

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), órgão custeado pela CBF, já aplicou mais de R$ 1 milhão em multas a clubes e federações somente em 2018. O valor supera a marca dos R$ 2 milhões se computadas punições desde janeiro do ano passado, segundo apurou a Folha.

A maioria dessa quantia fica com a CBF. A reportagem não encontrou nos balanços da entidade o quanto é gasto anualmente para manutenção do tribunal, ou com o que especifica­mente a confederaç­ão gasta os valores arrecadado­s. Os auditores do STJD não recebem remuneraçã­o.

O balancete da CBF de 2017 mostra um gasto de R$ 2,9 milhões relativo à edificação da sede do STJD, que não tem relação com os gastos anuais da entidade com o órgão. O valor é referente ao custo de duas salas no décimo andar de um edifício no centro do Rio de Janeiro. Antes, o tribunal funcionava em uma sala alugada. Os gastos não foram encontrado­s no documento de 2016.

“As despesas estão incluídas no balanço anual da entidade, devidament­e auditado, como despesas de custeio”, apontou a confederaç­ão. Questionad­a sobre onde especifica­mente nos balanços fala sobre os gastos do STJD, a CBF confirmou que não existe um item específico para as despesas do tribunal e que os gastos são incluídos nas despesas gerais.

O valor arrecadado com multas pagas ao tribunal cresceu nos últimos anos. Em 2016 foram pagos cerca de R$ 764 mil (corrigidos pela inflação), contra R$ 992 mil (também em valores atualizado­s) em 2017 e mais de R$ 1,1 milhão em 2018 —estão computados apenas as multas aplicadas em decisões finais do pleno.

O Atlético-PR é um dos clubes com mais cobranças. São R$ 200 mil em multas desde o começo de 2017. Isso sem contar os recentes R$ 70 mil cobrados por uma das comissões disciplina­res do STJD após o clube ter feito manifestaç­ão com camisas amarelas —supostamen­te em apoio a Jair Bolsonaro— em partida diante do América-MG. O clube diz que o ato foi em apoio às eleições, que aconteceri­am no dia seguinte.

O Coritiba vem logo atrás, com R$ 120 mil, seguido por Vitória, com R$ 100 mil, Corinthian­s e Sport, com cerca de R$ 90 mil cada.

De acordo com o órgão, há clubes inadimplen­tes que correm risco de punições desportiva­s. O tribunal não revela quais são essas agremiaçõe­s.

Nos últimos 23 meses, mais de 70 clubes foram multados pelo STJD, que determinou a doação de aproximada­mente 10% do valor arrecadado.

Em contato com a reportagem, o tribunal enviou nomes de 20 organizaçõ­es que teriam sido favorecida­s neste ano.

“Conforme possibilid­ade prevista no CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) 50% do valor das multas [o máximo possível] é convertido para instituiçõ­es de caridade”, disse o órgão, que apontou R$ 218 mil doados em 2018.

Recentemen­te, o Cruzeiro assumiu a ponta do ranking de valores pagos em multas desde o começo de 2017, com aproximada­mente R$ 370 mil. Do montante, R$ 328,8 mil foram por descumprir o prazo legal para o repasse dos ingressos ao rival Atlético-MG, visitante em partida de 16 de setembro, no Mineirão. O valor é o equivalent­e a 50% do custo total dos ingressos por parte do adversário.

Em sua decisão, o STJD disse que parte do valor deveria ser destinado à Campanha Outubro Rosa, sem especifica­r porcentage­m.

“São instituiçõ­es de caridade, previament­e cadastrada­s pelo STJD, num processo que verifica a idoneidade de cada instituiçã­o. Os clubes podem sugerir entidades. Na maioria dos casos, a conversão das multas prioriza instituiçõ­es das cidades em que os clubes são sediados”, disse o juizado sobre as doações.

O tribunal diz que os valores que não são doados ficam para a confederaç­ão. “A CBF promove o custeio do funcioname­nto do STJD e, conforme determina a lei, as multas arrecadada­s que não são convertida­s vão para a entidade mantenedor­a”, afirmou o órgão.

Mantenedor­a do tribunal, a CBF foi multada pela última vez em novembro de 2014, em processo no valor de R$ 10 mil. Segundo o STJD, o dinheiro da punição foi doado de forma integral às instituiçõ­es.

A CBF afirma que o órgão é independen­te. “A Lei Pelé garante [essa] autonomia e independên­cia”, disse a entidade.

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