Folha de S.Paulo

Pitágoras não é o autor do teorema matemático que carrega seu nome

- Marcelo Viana Matemático e diretor-geral do Impa. Ganhador do prêmio francês Louis D.

Embora seja o matemático mais conhecido do público, pouco se sabe sobre a vida e a obra de Pitágoras. Pior, as escassas informaçõe­s de que dispomos são contraditó­rias.

Foi pioneiro genial que deu os primeiros passos na transforma­ção da matemática em ciência rigorosa? Ou místico obcecado com temas esotéricos, como reencarnaç­ão, e regras peculiares, como a proibição de comer feijões?

Parte da confusão se deve

aos seus partidário­s terem se

dividido após sua morte, transmitin­do visões antagônica­s de

suas ideias.

Ao que sabemos, Pitágoras

nasceu na ilha grega de Samos, por volta de 560 a.C., e morreu na Itália, cerca de 480 a.C.. Na

juventude, viajou por Egito e

Babilônia, absorvendo conhecimen­to matemático.

Por volta de 530 a.C., fixouse na colônia grega de Crotona, onde fundou uma sociedade filosófica e religiosa que exerceu influência política consideráv­el na Magna Grécia, o conjunto das colônias gregas no sul da Itália.

Pitágoras dividia seus seguidores em “akousmatik­oi” (ouvintes), que estavam proibidos de falar e só podiam memorizar as palavras do mestre; e

“mathematik­oi” (matemático­s,

ou aprendizes), os mais avançados, que podiam perguntar e até expressar opiniões.

Só transmitia seus princípios com clareza aos últimos. Os “akousmatik­oi” recebiam só

esboços vagos e misterioso­s.

Depois que morreu, os dois

grupos teriam evoluído para

facções rivais, transmitin­do

versões distintas dos ensinament­os: mística e esotérica, pelos “akousmatik­oi”, racional e científica, para os “mathematik­oi”. Mas é possível que a distinção não fosse tão estrita. O alicerce da filosofia pitagórica era a ideia de que tudo é número. Ela estava baseada na descoberta de que as harmonias musicais podem ser expressas mediante números. Harmonias mais bonitas são dadas por notas cujas frequência­s estão em relações simples,

tais como (2:1) ou (3:2).

Outro fundamento de sua crença estava na astronomia, que Pitágoras aprendera com

os babilônios. Acreditava que

os movimentos periódicos dos

planetas estariam relacionad­os de alguma forma com os

intervalos musicais, sugerindo

que o movimento dos corpos

celestes produz uma espécie

de harmonia nos céus, a “música das estrelas”.

Sua contribuiç­ão científica

mais conhecida é o teorema de

Pitágoras: num triângulo retângulo, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

Mas vestígios arqueológi­cos

comprovam que o teorema já era conhecido dos babilônios

por volta de 1800 a.C.. Também parece duvidoso que Pitágoras tenha dado a primeira prova rigorosa, como acreditara­m alguns historiado­res.

Seu papel parece ter sido o

de apresentar o teorema ao

mundo grego e, dessa forma,

a toda a civilizaçã­o ocidental.

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Bassam Khabieh - 6.jan.2018/Reuters POY (PICTURES OF THE YEAR) A 75ª edição do tradiciona­l prêmio de fotojornal­ismo selecionou as melhores imagens de 2018. Mave, 11, e sua irmã, 2, na República Democrátic­a do Congo 1 ; sudanês se lava após resgate no Mediterrân­eo 2 ; criança é carregada em Damasco 3
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Goran Tomasevic - 12.abr.2018/Reuters Juan Medina - 3.ago.2018/Reuters
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