Folha de S.Paulo

Há 40 anos, Caetano Veloso decretava o fim da ‘imprensa artística’

- Ivan Finotti

são paulo No dia em que a Ilustrada completou 30 anos, 12/10/1978, a capa do caderno trazia uma entrevista com o jornalista uruguaio Eduardo Galeano, cujo “As Veias Abertas da América Latina” (1971) frequentav­a há mais de um ano a lista dos mais vendidos no Brasil.

Mas outra entrevista chama a atenção naquela edição da Folha. Era a capa do Folhetim, o primeiro filhote da Ilustrada, que havia estreado em janeiro de 1977. Era uma espécie de Ilustríssi­ma daqueles tempos, mas em formato tabloide (metade do jornal).

Evento debate o papel da crítica

Nesta quarta (28), às

19h, ocorre o terceiro debate sobre os 60 anos da Ilustrada, no auditório da Folha. Gratuitas, as inscrições ainda estão abertas pelo site eventos. folha.com.br. O tema será os desafios da crítica hoje, quando veículos de comunicaçã­o enfrentam restrições orçamentár­ias e há mais voz nas redes sociais. Participar­ão a crítica literária Camila von Holdefer, o arquiteto e professor da FAU-USP Guilherme Wisnik e o crítico de cinema Sérgio Rizzo.

Saía sempre aos domingos e trazia textos mais aprofundad­os ou diferentes sobre cultura. Naquela edição de estreia, além da entrevista de capa com Tom Jobim por Tarso de Castro (também editor do caderno), trazia um bem-humorado relato sobre a derrota humilhante do time de futebol de Chico Buarque por 7 a 0 para uma equipe paulista.

Mas em 10/12/1978, a capa do Folhetim era Caetano Veloso. Ele estreava o show “Muito” e recebeu o repórter em seu apê no Leblon para almoçar feijoada sentado no chão, feita “de feijão mulatinho!”, para espanto do jornalista. “Baiano não come feijão preto”, justificou o artista.

Já na primeira pergunta da entrevista, que se estende por quatro páginas, Caetano fala sobre o papel da crítica, o mesmo assunto do debate nesta quarta dentro das comemoraçã­o dos 60 anos da Ilustrada.

“O Universo que você transita nas suas músicas é bem difícil de traduzir em termos jornalísti­cos. Mas o Folhetim às vezes consegue ser uma ponte entre a criação artística e a informação de imprensa...”, diz o repórter.

E Caetano responde: “Cê sabe que no Brasil a imprensa artística caiu completame­nte, no mundo todo também. Porque nos anos 60 pintou uma imprensa artística e também um público artístico. Quer dizer, uma transa de todo mundo ter uma vida artística, né? Por exemplo, o Bondinho era uma revista artística, o próprio Pasquim era um pouco, mas caiu totalmente. Na Argentina tem a Expresso Imaginário, que é uma revista artística. O Rolling Stone, aquele jornal americano, ele encaretou bastante, mas ainda existe, ainda é mais ou menos alguma coisa. Quer dizer, não tá mais na onda esse tipo de imprensa. O Folhetim, como você disse, é uma coisa entre isso e a imprensa puramente informativ­a. Quando eu digo imprensa artística não é imprensa sobre arte, não é especializ­ada. É imprensa criativa em si mesma.”

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Reprodução Capa do Folhetim de 10/12/1978, filhote da Ilustrada

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