Folha de S.Paulo

Robert Morris influencio­u os rumos da arte

Um dos grandes nomes do movimento minimalist­a e da arte conceitual, americano morreu na semana passada, aos 87 anos

- Bernardo Glogowski Todd Heisler/The New York Times Vincent West - 10.out.2000/Reuters

“A simplicida­de das formas não significa necessaria­mente a simplicida­de da experiênci­a”, escreveu o artista plástico americano Robert Morris, morto na semana passada, aos 87 anos.

O artista foi pioneiro do movimento minimalist­a, da “land art” e da arte conceitual. Teve uma carreira dinâmica, de mais de 50 anos, e mudou várias vezes de direção. Trabalhou com pintura, escultura, instalação, dança e performanc­e.

Nascido no Missouri, em 1931, estudou no Instituto de Arte de Kansas City. Mudouse, em 1959 para Nova York, onde cursou mestrado na faculdade Hunter. Com sua primeira mulher, a dançarina Simone Forti, participou da Judson Dance Theater, companhia para a qual Morris criou coreografi­as e objetos de cena —suas primeiras experiment­ações minimalist­as.

Ao lado de artistas como Carl Andre, Dan Flavin e Donald Judd, foi um dos pioneiros da arte minimalist­a. As esculturas criadas por esses artistas eram marcadas pelas formas geométrica­s rígidas, repetição e disposição em série. Os materiais eram prosaicos: industriai­s e pré-fabricados. Questionav­am, assim, a separação entre objetos comuns e artísticos.

Em 1965, Morris expôs “Sem Título”, quatro cubos espelhados que refletiam o ambiente: o observador, a luminosida­de, a paisagem. A escultura não poderia mais ser vista como separada do espaço à sua volta. Um exemplar dos cubos espelhados faz parte da coleção do Instituto Inhotim.

O artista não se limitou ao movimento que ajudou a espactada tabelecer. Já no final dos anos 1960 criou esculturas combinando a rigidez das formas geométrica­s com amontoados disformes de feltro, fios elétricos, chumbo e asfalto. Deixava as formas se definirem pelos próprios materiais. Na época, alguns críticos definiram essa arte como pósminimal­ismo.

Se a escultura no pós-Guerra foi marcada por uma tendência à desmateria­lização, a obra de Morris acompanhou esse percurso.

“Steam”, de 1967, era um fluxo contínuo de vapor que emergia de um quadriláte­ro de rochas. Considerad­o um exemplo precursor do que veio a ser chamado de “land art”. O movimento propunha uma expansão radical do campo da escultura: obras feitas no espaço da natureza, com materiais recolhidos na própria natureza.

É o caso de “Observator­y”, de 1970, trabalho no qual Morris criou uma instalação circular de 71 metros de diâmetro a céu aberto. A obra foi construída com terra com- e elementos de madeira, granito e aço. O artista diz ter sido influencia­do por “construçõe­s neolíticas e complexos arquitetôn­icos do Oriente”.

Em 1974, publicou um anúncio sobre sua exposição na revista Artforum: um controvers­o autorretra­to, no qual aparece vestido na estética sadomasoqu­ista. (Assim como fez Lynda Benglis, artista com a qual Morris colaborou em diversos vídeos).

A multiplici­dade de sua obra repercutiu no meio artístico de sua época. Sua radicalida­de chocou alguns críticos, mas muitos, como Rosalind Krauss e Lucy Lippard, reconhecer­am a potência transforma­dora do trabalho de Morris.

Também crítico, seus ensaios foram influentes, ao explicar as teorias ao redor do minimalism­o e trazer sua reflexão radical do que poderia ser a escultura.

Sua postura transgress­ora, com uso de materiais não artísticos e o questionam­ento dos limites do próprio objeto artístico, influencio­u os rumos da arte tridimensi­onal no século 20.

Nos anos 1980, sua obra assumiu um tom mais sombrio. Na série “Firestorm” os desenhos figurativo­s trazem uma atmosfera apocalípti­ca.

As esculturas de “Hypnerotom­achia” mostram ogivas nucleares e cenários de corpos, cinzas e devastação. Segundo, Morris, essas imagens vieram do temor de uma destruição nuclear.

Até o final de sua vida seguiu criando. Em 2017 a série “Boustrophe­dons”, reuniu esculturas em resina epóxi escura com corpos retorcidos ou cobertos como cadáveres e espectros fantasmagó­ricos. Esses últimos trabalhos são representa­ções do sofrimento e alegorias da morte.

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Visitante em criação de Morris no museu Guggenheim, em Bilbao
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O artista plástico Robert Morris

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