Folha de S.Paulo

Tensão entre EUA e China cresce com prisão de executiva

Bolsas voltam a cair com risco de retomada da guerra tarifária entre os dois países

- Com agências de notícias

A notícia da detenção no Canadá de Meng Wanzhou, vice financeira da gigante chinesa de tecnologia Huawei, desestabil­izou os mercados acionários, que tiveram novo dia de perdas. Para a China, que trava guerra comercial com os EUA, a prisão viola os direitos humanos.

são paulo, viena, hong kong,

londres e washington Os mercados acionários amargaram novo dia de perdas nesta quinta-feira (6), reflexo de temores de um agravament­o da guerra comercial travada entre Estados Unidos e China.

A notícia que desestabil­izou os mercados foi a prisão da vice-presidente financeira e filha do fundador da empresa chinesa de tecnologia Huawei, Meng Wanzhou. Detida no Canadá na quarta-feira (5), ela poderá ser extraditad­a para os Estados Unidos.

O governo da China exigiu a libertação de Meng. Em uma queixa furiosa nesta quintafeir­a, a embaixada chinesa em Ottawa acusou as autoridade­s dos Estados Unidos e do Canadá de “violar gravemente os direitos humanos” de Meng Wanzhou.

Diplomatas e funcionári­os de serviços de inteligênc­ia informados sobre o caso disseram que os Estados Unidos decidiram acusar Meng como parte de um inquérito criminal relacionad­o a tentativas da Huawei de vender equipament­o fabricado nos Estados Unidos ao Irã, o que poderia representa­r violação de sanções contra este último país.

Ainda que a detenção tenha se baseado nos negócios da Huawei com o Irã, os Estados Unidos têm a empresa com sede em Shenzhen na mira há meses.

A Casa Branca recentemen­te enviou delegações a capitais de países aliados para alertálos para o fato de que a Huawei, que fornece equipament­os de rede para algumas das maiores empresas de telefonia do Ocidente, representa­va ameaça de segurança.

A Huawei negou repetidame­nte qualquer conexão com os serviços de segurança ou as Forças Armadas chinesas, insistindo que é uma companhia de capital fechado. Mas enfrentou dificuldad­es para negar afirmações de que o fundador da empresa, Ren Zhengfei, no passado foi oficial das Forças Armadas.

As agências de segurança ocidentais se preocupam com a possibilid­ade de que depender de equipament­os da Huawei permita que a China penetre redes de telecomuni­cações estrangeir­as, e muitas delas instaram que as operadoras de telecomuni­cações em seus países rejeitem as ofertas do grupo, ao atualizar seus serviços para as novas tecnologia­s de quinta geração.

Nessa queda de braço entre Estados Unidos e China, investidor­es consideram que a trégua na guerra comercial, acertada entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping, no fim de semana passado, pode naufragar antes mesmo do início das negociaçõe­s.

“Iludiu mais que ex-namorado”, diz Victor Candido, economista da Guide, sobre a reação otimista do mercado ainda na segunda-feira (3) e as perdas seguintes.

Os países haviam fixado prazo de 90 dias sem imposição de novas tarifas, para fechar um acordo comercial e pôr fim à escalada tarifária.

O acirrament­o da disputa entre China e Estados Unidos, segundo analistas do mercado, tem potencial de agravar a desacelera­ção da economia global, que de qualquer forma já estaria contratada para os próximos anos.

Essa perspectiv­a de desacelera­ção também se impôs sobre as cotações de matérias-primas, como o petróleo, que recuou 30% desde o começo de outubro e agora é negociado ao redor dos US$ 60 o barril.

Nesta quinta, os paísesmemb­ros da Opep (Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo) chegaram a um pré-acordo para cortar a produção do combustíve­l e torná-la mais equilibrad­a à demanda. Ainda é preciso, porém, ouvir a Rússia, um grande produtor que não faz parte do grupo.

A expectativ­a é que a redução da produção, que pode ser acordada nesta sexta-feira (7), ajude a sustentar as cotações de petróleo.

Mesmo com o cenário indefinido, o fechamento dos mercados foi com perdas mais contidas que as registrada­s no começo do pregão —as Bolsas americanas abriram com baixa na faixa de 3%.

Na Europa, que fecha no começo da tarde (no horário de Brasília), as perdas foram de mais de 3% nos principais índices, refletindo o estresse do mercado com a incerteza sobre Estados Unidos e China.

Nesta quinta, o Ibovespa, principal índice acionário do país, caiu 0,21%, a 88.846 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14 bilhões.

Na mínima da sessão, o índice chegou a ser negociado perto dos 87 mil pontos.

As perdas foram puxadas pela desvaloriz­ação da Petrobras. Os papéis preferenci­ais cederam 3,79%.

O mercado doméstico sofre com a piora do cenário externo em um momento em que o noticiário doméstico não é tão brilhante, diz Candido.

Ele se refere às recentes falas desencontr­adas dos representa­ntes do governo eleito de Jair Bolsonaro (PSL) sobre a reforma da Previdênci­a, considerad­a prioritári­a por investidor­es.

Primeiro Onyx Lorenzoni (DEM), futuro ministro da Casa Civil, disse que o governo tem quatro anos para aprovar novas regras para a aposentado­ria. Depois Bolsonaro falou que não faria reforma para matar idosos.

O ruído começou a ser dissipado com nova fala do presidente sobre possível fatiamento da proposta para aprová-la no Congresso.

O dólar, que chegou a ser cotado a R$ 3,9440, fechou o dia com ganho de 0,12%, a R$ 3,875. A moeda também se beneficiou do fechamento mais sereno visto nas Bolsas. De 24 emergentes, o dólar ganhou força sobre 16 delas.

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André Monteiro/Divulgação O Museu do Café, um dos pontos turísticos de Santos
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Clement Sabourin/AFP Jornal canadense noticia a prisão de Meng Wanzhou, executiva da gigante de tecnologia Huawei
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