Folha de S.Paulo

Pastora, nova ministra das Mulheres é contra aborto

Advogada Damares Alves é a 2ª mulher indicada como ministra; nova pasta abrigará a Funai

- Talita Fernandes, Laís Alegretti, Marina Dias e Anna Virginia Balloussie­r Leia mais sobre a Funai na pág. A8

Advogada e pastora, Damares Alves foi oficializa­da ontem no Ministério das Mulheres, Família e Direitos Humanos. Contrária ao aborto, a assessora do senador Magno Malta (PR-ES), que chegou a ser cotado para o cargo, disse que sua pasta lidará “com proteção de vida, e não com morte”. A Funai, cujo destino era incerto, ficará sob a alçada dela.

brasília e são paulo O presidente eleito, Jair Bolsonaro, escolheu a advogada e pastora evangélica Damares Alves para o novo Ministério das Mulheres, Família e Direitos Humanos. A pasta vai abrigar a Funai (Fundação Nacional do Índio), hoje na Justiça.

É a segunda mulher indicada para um ministério do próximo governo. Além de Alves, Bolsonaro confirmou a deputada Tereza Cristina para o Ministério da Agricultur­a.

O anúncio da ministra foi feito pelo futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ao lado do deputado federal eleito Julian Lemos (PSL-PB), que foi por três vezes alvo da Lei Maria da Penha, acusado de agressão pela irmã e pela exmulher. O caso foi revelado pela Folha.

Alves é assessora no gabinete do senador Magno Malta (PR-ES). O parlamenta­r capixaba é amigo de Bolsonaro e chegou a ser cotado para o Ministério da Cidadania, mas a ideia foi abandonada após críticas de apoiadores. A pasta ficou com o deputado Osmar Terra (MDB-RS).

Logo depois de ter sido anunciada, a futura ministra prometeu garantir que as mulheres ganhem o mesmo salário que os homens.

“Nenhum homem vai ganhar mais que uma mulher nessa nação desenvolve­ndo a mesma função. Isso já é lei e o Ministério Público está aí para estar fiscalizan­do. Se depender de mim, vou para porta da empresa em que o funcionári­o homem desenvolve­ndo papel igual à mulher está ganhando mais. Acabou isso no Brasil”, declarou.

Alves afirmou ainda ser contra a legalizaçã­o do aborto e disse que a gravidez é “um problema que dura só nove meses”, enquanto interrompe­r a gestação caminha ao lado da mulher “pela vida inteira”.

“Se a gravidez é um problema que dura só nove meses, o aborto é um problema que caminha a vida inteira com a mulher”, declarou.

Para ela, o aborto será admitido apenas em casos já previstos em lei. Hoje, o procedimen­to é permitida no Brasil quando há estupro e risco de morte para o feto ou para a mãe, além no caso de anencéfalo­s —liberado por entendimen­to do STF (Supremo Tribunal Federal).

Está na corte, sem data para julgamento, uma ação que pede a descrimina­lização da prática até a 12ª semana de gravidez.

A nova ministra ressaltou que sua pasta não vai tratar do tema aborto e lidará somente com assuntos relacionad­os à vida. Ela disse ainda que são necessária­s “políticas públicas de planejamen­to familiar” para que a interrupçã­o da gravidez não seja considerad­a “método anticoncep­tivo”.

Alves disse que o governo de Bolsonaro tem como priorida- de “combater a violência”, inclusive contra a comunidade LGBT, na tentativa de afastar a imagem de homofóbico que permeia o presidente eleito.

“Se precisar, estarei nas ruas com as travestis, na porta das escolas, com as crianças que são discrimina­das”, afirmou.

Bolsonaro já deu declaraçõe­s ofensivas a minorias e chegou a dizer que preferia que um filho seu morresse em um acidente a ser gay.

A decisão de levar a Funai do Ministério da Justiça para a nova pasta ocorreu após intenso debate no governo de transição. Pessoas próximas a Bolsonaro relataram à Folha que seus auxiliares não queriam assumir o órgão por verem nas falas do presidente eleito sua desvaloriz­ação, já que na campanha ele repetiu que acabaria com a demarcação de terras indígenas.

Houve tentativa de abrigar a Funai na Justiça, na Agricultur­a e na Cidadania, ideias que foram abandonada­s após resistênci­a dos titulares.

Alves disse não ter nenhum problema de resistênci­a por parte de indígenas, que estiveram nesta quinta-feira (6) no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) para pedir ao futuro governo que a Funai permaneça sob os cuidados da Justiça.

“Funai nãoéprob lema, índio nãoé problema. O presidente só estava esperando o melhor lugar para colocara Funai. E nós entendemos que éo Ministério de Direitos Humanos porque índioégen te. E o índio precisa ser visto de um aforma como um todo. Índio nãoé só terra, índiot ambé mé gente ”, afirmou.

Ela disse estar qualificad­a para assumira fundação por seu histórico com indígenas, citando ter participad­o de uma CPI no fim da década de 1990.

Anova já ministra já fez críticas ao feminismo. Em entrevista gravada em 8 de março, Dia Internacio­nal da Mulher, para o site conservado­r potiguar Expresso Nacional, ela disse que mulher “nasceu para ser mãe ”, seu“papel mais especial ”, eque afirmar que elas estão em guerra com os homens é uma lorota feminista.

Ela, que numa pregação de 2013 se descreveu como pastora, professora, advogada e corintiana, trabalha no gabinete de Magno Malta por um salário líquido de R$ 4.408.

Alves já fez a assessoria jurídica da Frente Parlamenta­r Evangélica. Afirma ser mestre em educação e em direito constituci­onal e da família. Suas pautas se alinham às da bancada que diz falar no Congresso em nome dos evangélico­s.

Ao Expresso Nacional, por exemplo, disse que a ideologia de gêneroé“morte,é morte de identidade”, além de maldizer o aborto e a legalizaçã­o das drogas. Todas as “pautas de esquerda”, aliás, são “a morte” em sua opinião. “O menino abestado por maconha e abusado não vai liderar uma nação, é massa de manobra, [...] não tem senso de crítico.”

Ela diz que, ao contrário do que feministas propagande­ariam, é possível, sim, ser do lar e do mercado de trabalho .“Me preocupo com ausência da mulher de casa ”, afirma apastora da Igreja Quadrangul­ar, que brinca em seguida: amaria passar atarde deitada na rede ,“e o marido ralando muito, muito, muito para me encher de joias”.

A nomeação de Alves foi elogiada por quatro parlamenta­res evangélico­s que a Folha consultou. Um mais próximo de Malta, contudo, disse que o senador não reeleito ses entiues canteado porBol sonar o eque vê na indicação de sua assessora uma vã tentativa de colocar panos quentes em sua mágoa com o presidente eleito.

“Essa pasta não vai lidar com o tema aborto, vai lidar com proteção de vida, e não com a morte [...] Nenhuma mulher quer abortar. Elas chegam até o aborto porque, possivelme­nte, não foi dada nenhuma outra opção Damares Alves futura ministra

 ?? Sergio Lima/AFP ?? Damares Alves fala à imprensa em Brasília após ser anunciada para ministério
Sergio Lima/AFP Damares Alves fala à imprensa em Brasília após ser anunciada para ministério

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil