Folha de S.Paulo

Ainda mais pobres

Cresce nº de brasileiro­s em lares com renda abaixo de R$ 406 mensais por morador; com Orçamento depauperad­o, alta do PIB é alívio mais plausível

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Sobre piora de indicador mesmo após a recessão.

A quantidade de pobres aumentou no Brasil de 2016 para 2017, de acordo com os cálculos do IBGE na recém-divulgada Síntese de Indicadore­s Sociais. Embora a longa e aguda recessão já tivesse terminado, o cresciment­o foi minúsculo no ano passado, e a situação do emprego permaneceu precária.

Essa estatístic­a contabiliz­a os indivíduos cuja renda domiciliar per capita (a renda média dos moradores da casa) não alcança US$ 5,50 por dia, que, ajustados pelo poder de compra da moeda nacional, equivaliam a R$ 406 mensais —linha recomendad­a pelo Banco Mundial para países incluídos no nível médio-alto de riqueza.

Segundo tal critério, a parcela da população vivendo na pobreza passou de 25,7% para 26,5%, ou quase 55 milhões de pessoas. No caso de extrema pobreza (renda de até R$ 140 por mês), o contingent­e afetado passou de 6,6% para 7,4%.

Os dados demonstram como o país custa a superar os efeitos do ciclo de contração econômica de 2014-16. Ali se interrompe­u um processo de expressiva ascensão social que já contava uma década. Infelizmen­te, o IBGE não apurou cifras comparávei­s para todo o período, que permitiria­m avaliar melhor a extensão do desastre.

Mas há fartura de evidências de que a presente recuperaçã­o da economia é a mais lenta da história documentad­a desde o século passado. O Produto Interno Bruto cresceu 1,1% em 2017; a taxa deste ano pouco passará disso. Neste dezembro de 2018, o PIB per capita é quase 8% menor que o de 2013.

Tamanha tibieza se traduz, na prática, em uma taxa de desemprego elevada que recua de modo pouco perceptíve­l —foram 11,7% no trimestre encerrado em outubro, apenas 0,5 ponto percentual abaixo da cifra de um ano antes.

Dado que a penúria orçamentár­ia do governo não permite uma ampliação de programas sociais em tempo hábil, a aceleração do cresciment­o econômico constitui o alívio mais plausível para a pobreza neste momento.

Em tese, R$ 14 bilhões anuais em transferên­cias diretas de renda bastariam para eliminar a extrema pobreza, que vitima 15 milhões de brasileiro­s. Trata-se de montante que poderia ser obtido, por exemplo, com a revisão de subsídios e benefícios tributário­s como os destinados a baratear o óleo diesel.

Entretanto o governo está forçado a priorizar a urgente e politicame­nte indigesta reforma da Previdênci­a, sem a qual as finanças caminharão para o estrangula­mento —e o PIB não deixará a prostração.

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