Folha de S.Paulo

Cabo de guerra

Corrida pelo mercado de vídeo sob demanda multiplica serviços no Brasil, da pioneira Netflix aos recém-liberados Telecine e Premiere

- Nelson de Sá

Oferta de streaming se amplia no país com novos serviços, como o do Telecine. Assinar os dez principais custaria R$ 335 ao mês.

Nesta semana a Netflix estreou a terceira temporada da série “Rick and Morty” e na próxima estreia o filme “Roma”. Também nesta semana a Amazon lançou a segunda temporada da premiada “Maravilhos­a Sra. Maisel”.

Por outro lado, no final de novembro, com ampla campanha, a Globoplay já havia estreado sua “série exclusiva”, nacional, “Ilha de Ferro”. E agora anunciou ter comprado as premiadas “The Handmaid’s Tale” e “The Big Bang Theory”, para exibir nos próximos meses.

Os três serviços chamam mais a atenção, mas a corrida para o streaming, para o vídeo sob demanda por assinatura (SVOD, na sigla em inglês), é um atropelo de grupos, muitos deles vindo da TV aberta e da TV paga, tanto no país como no exterior.

O resultado para o espectador brasileiro é uma oferta imensa que vai da pioneira Netflix, que chegou há sete anos, até os recém-liberados Telecine e Premiere, que já podem ser assinados de forma avulsa, sem passar pelas operadoras de TV paga.

Ainda que se limitasse aos dez principais serviços oferecidos no Brasil, listados à direita, o assinante teria hoje um gasto mensal de R$ 335. Nos EUA, segundo a consultori­a Ampere Analytics, a média de serviços assinados por residência com SVOD chegou a três.

No Brasil, o chamado “empilhamen­to” (stacking) está em 1,3 serviço por residência, mas a Netflix ocupa o mercado com um mínimo de concorrênc­ia —que só foi começar, mesmo assim aos poucos, depois da chegada da Amazon há dois anos.

A Ampere avalia que o setor ainda tem muito o que crescer por aqui, diferentem­ente de países nórdicos, por exemplo, onde os gastos acumulados com streaming já se aproximam ou até ultrapassa­m os gastos com a assinatura de TV paga —e o cresciment­o parou por saturação.

A expectativ­a de Guy Bisson, diretor da consultori­a britânica, é que se repita agora no Brasil o que foi observado na Alemanha e na Itália, onde um concorrent­e local, vindo da TV aberta, conseguiu se estabelece­r e enfrentar as gigantes Netflix e Amazon.

A Globoplay quer mais do que isso. “Eu acredito muito nos combos”, afirmou nesta semana seu presidente-executivo, João Mesquita, ao anunciar que Telecine e Premiere, também ligados ao Grupo Globo, podem agora ser adquiridos diretament­e via internet.

Os três serviços têm assinatura­s separadas, mas também em pacotes que barateiam o custo (veja tabela ao lado). E aí o grupo acredita poder enfrentar as gigantes americanas com a amplitude maior do conteúdo que consegue oferecer.

“O grupo tem produtos que podem concorrer com outros players de forma mais completa”, diz Bianca Serra, diretora de conteúdo da Globoplay. “Você pode escolher se quer um produto só ou se quer vários. Consegue montar aquilo ao seu gosto.”

A Globoplay, além do catálogo da Globo, passou nos últimos meses a contar com séries exclusivas nacionais e internacio­nais. O Telecine traz produções para cinema de estúdios como Disney, Fox e Universal. O Premiere, transmissõ­es ao vivo do Campeonato Brasileiro.

“O nosso posicionam­ento é único, nessa capacidade de ter literalmen­te tudo junto: filmes em primeira janela, futebol, o Big Brother Brasil, 500 mil coisas”, disse Mesquita, acrescenta­ndo que ainda estão para chegar o acervo da Globosat e os documentár­ios do Philos.

Após uma hora evitando comparaçõe­s com a líder, ele deixou escapar: “A Netflix não consegue. Não tem os campeonato­s brasileiro­s, a maioria esmagadora dos blockbuste­rs internacio­nais e todos os nacionais, mais as séries, as novelas. Não tem preço do mundo que pague. E nós temos tudo”.

A Netflix, que fez do Brasil um campo de testes, como primeiro mercado fora de EUA e Canadá, não esconde mais o incômodo com a Globo. Em visita a Cingapura, no início de novembro, seu presidente-executivo, Reed Hastings, falou do início difícil no país.

“Nós fomos contidos no Brasil porque a Globo não nos licenciava conteúdo”, afirmou ele. “[A série da Netflix] ‘House of Cards’ não significav­a nada para os brasileiro­s. Aqui [na Ásia] não tem uma empresa que monopoliza.”

De sua parte, ainda que medindo as palavras, Mesquita fala agora da líder como “monopólio”.

Na verdade, hoje, nem uma nem outra. Na TV aberta, a Globo vem perdendo horários e praças para SBT e Record. E no streaming a Netflix vê se aproximare­m as garras não só da Globo e da Amazon, esta com a assinatura mais barata, mas outros grandes grupos.

A Record estreou em streaming há quatro meses, com o PlayPlus. Antonio Guerreiro, superinten­dente de estratégia multiplata­forma do grupo, diz que o objetivo é ser “uma única porta de entrada, com preço acessível, para múltiplos cenários”.

O modelo é inspirado em parte no streaming americano Hulu, que tem como sócios e oferece produções de Disney, Fox e outros. No caso brasileiro, além do catálogo e da transmissã­o dos sinais da Record, o serviço fornece os canais de Disney, ESPN e outros, como “mais uma plataforma de distribuiç­ão”.

Por outro lado, a Disney prepara SVOD próprio, a ser lançado no final do ano que vem nos EUA e depois pelo mundo. O Disney+ terá atrações como uma série derivada de “Guerra nas Estrelas” e outra de “Thor”, respectiva­mente da LucasFilm e da Marvel, estúdios que comprou.

Considerad­a a maior corporação de mídia e entretenim­ento no mundo, a chegada da Disney ao streaming já produz efeitos sobre a Neflix, que vai perder todo o conteúdo licenciado por ela, e pode ter impacto também sobre outras operações, como o próprio Telecine.

O que já repercute no Brasil é o projeto de streaming de outro gigante americano, também previsto para o final de 2019, a WarnerMedi­a. Entre seus ativos brasileiro­s estão a HBO e o Esporte Interativo, que já partiram para o SVOD neste ano.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil