Folha de S.Paulo

Sem invencioni­ces

- Bruno Boghossian

Segundo Damares Alves, em breve a princesa do desenho “Frozen” acordará a Bela Adormecida com um “beijo lésbico”. Ela também reclamou quando viu o pai gay de uma ilustração usando um tênis da moda, que o faz parecer mais descolado do que um pai heterossex­ual.

Com sorte, a futura ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos não terá poder para interferir em políticas públicas na saúde, na educação, na cultura e em outros temas fora de seu guarda-chuva.

A pasta que será comandada pela advogada e pastora não toma decisões nessas áreas, mas costuma ser ouvida. Caso ela abasteça o governo com as informaçõe­s que usou em palestras nos últimos anos, o país corre o risco de enfrentar retrocesso­s.

Damares já distorceu dados sobre saúde pública para mobilizar fiéis de igrejas evangélica­s. Em 2013, disse que não há milhares de mulheres que morrem em consequênc­ia de abortos ilegais e desafiou qualquer pessoa a mostrar seus túmulos.

Também exibiu uma propaganda italiana sobre discrimina­ção sexual e disse falsamente que ela seria reproduzid­a no Brasil. Ao falar de turismo sexual, afirmou: “Tem muito hotel fazenda de fachada por aí para os homens transarem com animais”.

Nesta quinta-feira (6), Damares disse estar interessad­a em combater preconceit­os, a pedofilia e a violência contra a mulher. O ministério já tem um prato cheio de problemas para resolver sem as invencioni­ces de alas ultraconse­rvadoras.

Se não surgirem explicaçõe­s convincent­es, a revelação de que um exassessor de Flávio Bolsonaro movimentou R$ 1,2 milhão em um ano e assinou um cheque de R$ 24 mil para a mulher de Jair Bolsonaro abrirá a primeira crise do novo governo.

O azar do futuro presidente é que ele não poderá usar a caneta Bic para demitir o filho, senador eleito, caso precise se distanciar do problema. Nesta semana, Flávio disse que, por causa do sobrenome, não será “um senador comum”. Ele tem razão.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil