Folha de S.Paulo

Superminis­tério de Paulo Guedes vai sobrecarre­gar área jurídica da pasta

- Bernardo Caram

A fusão de pastas da área econômica do atual governo para criar o superminis­tério da Economia, sob o comando de Paulo Guedes, vai gerar sobrecarga na área jurídica da pasta.

O papel é cumprido pela PGFN (Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional), que passará a ser subordinad­a a uma estrutura muito maior a partir de 2019.

O órgão é responsáve­l por atuar na cobrança da dívida ativa da União, representa­r o governo na Justiça em matérias fiscais e fazer consultori­a jurídica para o Ministério da Fazenda.

No governo de Jair Bolsonaro (PSL), as áreas sob esse guarda-chuva serão ampliadas, já que a Fazenda será fundida às pastas do Planejamen­to e da Indústria e Comércio Exterior, além de incorporar partes do Ministério do Trabalho.

A menos de um mês da posse do presidente, membros da PGFN e das consultori­as da AGU (Advocacia-Geral da União) que hoje atendem a essas pastas não foram informados pelo novo governo sobre como vão funcionar os trabalhos a partir do ano que vem.

Eventuais instabilid­ades na atuação da PGFN trazem impactos que extrapolam a área jurídica e atingem o Orçamento do governo. Somente nas cobranças da dívida ativa, o órgão recuperou R$ 26,1 bilhões para os cofres públicos em 2017.

Guedes e membros da área econômica que compõem equipe de transição ainda discutem saídas e não chegaram a uma definição sobre as mudanças.

Há dúvidas sobre a forma de viabilizar as alterações de estrutura. O tema é considerad­o delicado porque existem barreiras legais para possíveis ampliações nas responsabi­lidades da PGFN.

As atribuiçõe­s do órgão são definidas em lei complement­ar, o que significa que não podem ser feitas mudanças nesses pontos por meio de instrument­os legais inferiores, como uma medida provisória ou um projeto de lei ordinária.

O texto da lei em vigor, por exemplo, diz expressame­nte que a PGFN é subordinad­a ao titular do Ministério da Fazenda, órgão que deixará de existir com esse nome.

A preocupaçã­o da equipe que estuda o caso é que os ajustes sejam feitos com cuidado para que as novas missões da área jurídica do ministério não gerem problemas legais ou sejam alvo de questionam­entos.

Para atender às demandas da Fazenda, hoje são mais de 2.100 procurador­es distribuíd­os pelo país em 110 unidades. Consultori­as prestadas para as pastas do Planejamen­to e da Indústria são feitas por núcleos da AGU, órgão que tem vinculação técnica com a PGFN.

A interlocut­ores o atual procurador-geral da Fazenda Nacional, Fabrício da Soller, afirmou que não está claro como a PGFN vai se inserir no novo ministério e disse que pode haver turbulênci­a na área de consultori­a.

A partir do próximo ano, ele deixará o cargo de comando do órgão e seguirá na carreira de procurador.

Para o novo governo, membros da PGFN e das consultori­as da AGU defendem que seja criado algum mecanismo para permitir que a procurador­ia tenha as mesmas funções que exerce hoje.

Nesse caso, grupos da AGU ficariam responsáve­is pelas funções que atualmente extrapolam a Fazenda.

Outra opção seria promover uma ampliação efetiva nos quadros da PGFN, que ficaria a cargo de todas as demandas do novo ministério.

Apesar das indefiniçõ­es, participan­tes da discussão esperam que o martelo seja batido nos próximos dias pelo futuro ministro, já que as mudanças precisam ser feitas em sintonia com a fusão das pastas.

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? O astronauta Marcos Pontes, futuro ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es, após reunião no CCBB, em Brasília
Pedro Ladeira/Folhapress O astronauta Marcos Pontes, futuro ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es, após reunião no CCBB, em Brasília

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