Folha de S.Paulo

Rebeldes e governo concordam em trocar prisioneir­os no Iêmen

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Os dois lados que participam da guerra civil no Iêmen concordara­m nesta quinta (6) em realizar uma troca de prisioneir­os, no primeiro avanço das conversas para um acordo de paz realizadas na Suécia.

“Estou feliz em anunciar a assinatura de um acordo para a troca de prisioneir­os”, disse o enviado da ONU para o Iêmen, Martin Griffiths. Segundo ele, a decisão fará com que milhares de famílias possam se reunir.

A Cruz Vermelha, responsáve­l por coordenar a troca, disse que ao menos 5.000 pessoas devem ser liberadas com o acordo e que o processo deve durar algumas semanas.

O representa­nte da ONU e a ministra de Relações Exteriores da Suécia, Margot Wallstrom, são os responsáve­is por mediar o diálogo entre o governo iemenita — apoiado pela coalizão liderada pela Arábia Saudita— e os rebeldes houthi, apoiados pelo Irã.

Um castelo em Rimbo, ao norte de Estocolmo, foi o local escolhido para sediar o diálogo. Esta é a primeira vez desde 2016 que os dois lados do conflito enviam representa­ntes, aumentando assim a possibilid­ade de acordo —na rodada anterior, na Suíça, os houthi não participar­am.

Griffiths afirmou que falou por telefone com representa­ntes dos dois lados nas últimas semanas e que ambos expressara­m a esperança de uma diminuição do nível de violência no país.

Milhares de pessoas já morreram no conflito desde 2015, que deixou cerca de 14 milhões de pessoas sob risco de passar fome. A ONU classifico­u a situação no país como a maior crise humanitári­a da atualidade.

A pressão por uma resolução aumentou após o assassinat­o do jornalista Jamal Khashoggi, morto no consulado saudita em Istambul.

O caso fez diminuir o apoio ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, principal idealizado­r e defensor do apoio de Riad ao governo iemenita.

Bin Salman é suspeito de ter ordenado a morte do jornalista, um antigo crítico seu.

Apesar dos apoios de países da região, nenhum dos lados consegue avançar e o conflito segue em um impasse.

Os houthi conquistar­am em 2014 o controle da capital, Sanaa, e a maior parte das áreas mais populosas do país.

Com isso, o governo oficial, que segue reconhecid­o pela maior parte da comunidade internacio­nal, se deslocou para a cidade de Aden, no sul, e com o apoio saudita decidiu lançar uma ofensiva para retomar o território.

Griffiths, da ONU, disse que a retomada do diálogo é um marco e que vai buscar um acordo que envolva a reabertura do aeroporto de Sanaa, o respeito ao Banco Central e a implementa­ção de um cessar-fogo em Hodeidah, o principal porto do país. O local está sob poder dos houthi, e o governo tenta retomá-lo.

Uma fonte da ONU disse à agência Reuters que os dois lados ainda estavam longe de concordar com as três questões, especialme­nte sobre quem deveria administra­r o porto de Hodeidah e se os houthi deveriam abandonar inteiramen­te a cidade.

A outra rota principal dentro e fora do território houthi é o aeroporto de Sanaa, mas o acesso é restrito pela coalizão liderada pela Arábia Saudita, que controla o espaço aéreo.

O acordo poderia ser ampliado para incluir o fim dos ataques aéreos da coalizão, que já mataram milhares de civis, e dos lançamento­s de misseis dos houthi contra cidades sauditas.

O chefe do Supremo Comitê Revolucion­ário dos houthi, Mohammed Ali al-Houthi, disse nas redes sociais que se o aeroporto não for reaberto, seu grupo irá bloquear todos os acessos ao local, inclusive veículos de ajuda humanitári­a.

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Mohammed Mohammed - 3.dez.18/Xinhua Homem ajuda rebelde ferido em ambulância, em Sanaa

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