Folha de S.Paulo

Brasil será história feliz em 2019 mesmo sem reforma, diz banco

- Danielle Brant e Flavia Lima

nova york e são paulo Com ou sem reforma da Previdênci­a, o Brasil será uma das histórias felizes de cresciment­o acelerado em 2019. Apesar da perda de fôlego dos Estados Unidos e das incertezas na Europa e na China, a economia brasileira deve avançar 3,5% no ano que vem, na avaliação do Bank of America Merrill Lynch.

Como comparação, o FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) prevê alta de 2,4% no PIB brasileiro em 2019.

“O Brasil é uma história feliz em um ambiente de cresciment­os fracos”, resumiu Aditya Bhave, economista global sênior do Bank of America, em entrevista à imprensa na manhã desta quinta-feira (6).

Executivos do banco falaram a jornalista­s sobre perspectiv­as para o cresciment­o global no próximo ano.

“Vemos um cresciment­o mais acelerado no Brasil”, afirmou. “O cresciment­o também vai ser apoiado pela agenda pró-mercado da administra­ção [do presidente eleito, Jair] Bolsonaro, que deve impulsiona­r a confiança e o investimen­to.”

“Nossa projeção tem como premissas as suposições de que o governo vai ser capaz de aprovar reformas fiscais e que a independên­cia do Banco Central será aprovada.”

Para o Bank of America, a não aprovação das reformas, entre elas a da Previdênci­a, não chega a ser um risco a esse cenário otimista para o Brasil, ressalta Bhave.

“Toda vez que você tem um governo populista assumindo o poder, há muita incerteza sobre quais políticas serão implementa­das”, admite.

“Mas uma das razões pelas quais estamos otimistas é que o Brasil vem de anos fracos, de uma recessão. Em 2018 não foi bem, pelas incertezas eleitorais e a paralisaçã­o de caminhonei­ros. Há espaço para que o Brasil cresça mais rápido. Há razões, de uma perspectiv­a cíclica, para ser mais otimista.”

O Brasil não deve ser a única história feliz, nas projeções do banco. A África do Sul também deve ter uma expansão robusta, assim como o Japão e o Reino Unido, embora o acordo final da saída do país da União Europeia (“brexit”) ainda seja um risco.

Para David Beker, chefe de economia e estratégia do BofA Merrill Lynch no Brasil, o otimismo se justifica porque a economia brasileira parte de um ponto em que a ociosidade da indústria se associa a um desemprego ainda grande —o que permite cresciment­o sem pressões inflacioná­rias.

“Mas, para que esse cresciment­o seja sustentáve­l para além de 2019, as reformas são fundamenta­is”, diz.

Beker espera, no entanto, que a reforma da Previdênci­a seja aprovada com uma idade mínima maior para aposentado­ria e a eliminação de distorções entre os setor público e o privado.

Além disso, acha que a independên­cia formal do Banco Central também tem grandes chances de ser confirmada.

Beker não vê com maus olhos o fatiamento da reforma, anunciado por Bolsonaro.

Segundo ele, algumas coisas podem ser feitas sem que seja preciso uma emenda constituci­onal, como o aumento da contribuiç­ão previdenci­ária do setor público.

“Se vai fatiar para aumentar a viabilidad­e de aprovação, ok. Mas seria interessan­te aprovar parte da discussão já feita”, afirma.

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