Folha de S.Paulo

Megalicita­ção dos ônibus fica mais cara em nova tentativa da prefeitura

Maior contrataçã­o da cidade de São Paulo vem sendo barrada por Tribunal de Contas desde 2015

- Fabrício Lobel

são paulo A gestão Bruno Covas (PSDB) publicou nesta quinta-feira (6) o edital de concessão do sistema de ônibus da cidade de São Paulo. Desde 2013, quando os contratos atuais se encerraram , essa é a terceira vez que a prefeitura tenta tocar a licitação de seu maior contrato. Desde então, os contratos são renovados com as mesmas empresas de maneira emergencia­l.

O novo edital traz um aumento do valor dos contratos em 4%, saindo de R$ 68 bilhões, previstos em abril deste ano para R$ 71 bilhões. Os contratos terão vigência de 20 anos e a prefeitura espera assiná-los já no início de 2019.

Outra mudança foi a criação de um fundo das empresas para operar e manter os terminais de ônibus. O TCM (Tribunal de Contas do Município) havia criticado a forma de financiame­nto dos terminais no edital anterior e disse que havia poucas explicaçõe­s sobre o custeio desta operação.

O problema, diz o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), é que a prefeitura diz que quer no futuro conceder os mesmos terminais à iniciativa privada. Um projetopil­oto de concessão do terminal Princesa Isabel, no centro, foi lançado em agosto.

“Isso traz incertezas do empresário sobre o custeio do fundo neste contrato. É um custo que ele não consegue prever até quando ele terá de arcar, traz inseguranç­a financeira. Não sei como o TCM enxergará essa questão que já tinha sido apontada antes pelo próprio tribunal”, diz Rafael Calabia, pesquisado­r em mobilidade do Idec.

Outro questionam­ento foi a mudança na legislação que permitiu que os novos contratos tenham 20 anos de duração, quando antes tinham 15. No fim de novembro, o diretório estadual do PSOL chegou a acionar o Tribunal de Justiça do Estado alegando ter sido inconstitu­cional a mudança. A alegação do partido com a Adin (ação direta de inconstitu­cionalidad­e) é de que o longo prazo engessa a prefeitura e a prende aos mesmos prestadore­s de serviço. Esse processo ainda será julgado.

O novo edital foi apresentad­o após o TCM apontar 51 irregulari­dades, 20 improbidad­es e 19 recomendaç­ões ao edital anterior, que foi suspenso pelo próprio TCM dias antes da abertura das propostas das empresas de ônibus.

O TCM já havia suspendido a tentativa do prefeito Fernando Haddad (PT) de licitar o sistema, em 2015.

Entre as principais diferenças do novo edital para o sistema atual de ônibus é a divisão dos coletivos em três modalidade­s, em vez dois dois atuais.

Hoje a capital é dividida em oito setores, identifica­dos pelas cores dos ônibus, com dois tipos de atendiment­o.

O primeiro tipo é prestado pelas antigas cooperativ­as de vans e kombis nos bairros. É o sistema local. O segundo abrange distâncias maiores entre regiões diferentes da cidade. Esse é o sistema estrutural, que abarca os grandes ônibus das principais vias.

A ideia agora é criar um terceiro sistema, intermediá­rio entre o local e o estrutural. Ele coletará passageiro­s em áreas mais adensadas nos bairros e os conectará com ônibus que cumprem distâncias maiores.

O objetivo é que o sistema deixe os ônibus locais mais livres, ao permitir que atendam mais ruas, com esperas menores e que haja menos interferên­cia desses veículos menores nas avenidas, destinadas aos grandes ônibus.

Um dos obstáculos da nova licitação será atrair viações que ainda não prestam os serviços na cidade —já que a quantidade de ônibus e funcionári­os e a dimensão das garagens necessária­s tornam a operação complexa.

A prefeitura diz que será possível reduzir a quantidade de ônibus nas ruas de 13.603 para 12.667 (uma redução de 7%), eliminando linhas que hoje percorrem o mesmo percurso. Apesar disso, a intenção é que os veículos sejam maiores e, assim, aumente a disponibil­idade de assentos, de 1,03 milhão para 1,14 milhão de lugares (10% a mais).

O passageiro que percorre distâncias maiores terá que fazer mais trocas de ônibus. A estimativa é que haja aumento de baldeações de 4%.

 ?? Jardiel Carvalho/Folhapress ?? Pedestre passa em frente a ônibus na rua Xavier de Toledo, no centro de São Paulo
Jardiel Carvalho/Folhapress Pedestre passa em frente a ônibus na rua Xavier de Toledo, no centro de São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil