Folha de S.Paulo

Próxima novela das sete reconstrói a zona sul carioca dos anos 1990

- João Perassolo

A cidade é Rio de Janeiro; o ano, 1990. Quem saía da praia ia até o BB Lanches, no Leblon, para tomar um suco, ou se dirigia ao restaurant­e Real Astoria em busca de cerveja e frutos do mar. Talvez antes desse uma passada na galeria Alaska, em Copacabana. Em seguida, saía para a balada, e o endereço era rua da Passagem, 169, em Botafogo —a moderninha Dr. Smith.

Estúdios da TV Globo, 2018. O BB Lanches foi convertido em ZZ Lanches, o Real Astoria atende por Real Astral, a galeria, é Sibéria, e Dr. Spock é a casa noturna do momento.

Recriados com fidelidade em uma cidade cenográfic­a que manteve até os orelhões amarelos, os locais icônicos da zona sul carioca são cenário da próxima novela das sete, “Verão 90”, que estreia no final de janeiro.

“Estamos fazendo uma homenagem àquela época, àquele astral”, diz José Cláudio Ferreira, responsáve­l pela ambientaçã­o externa da novela que vai suceder “O Tempo Não Para”. “São cantinhos para que as pessoas se reconheçam”, completa.

Segundo Ferreira, responsáve­l pelo cenário de novelas que marcaram a década, como “Vamp”, “Quatro por Quatro” e “A Próxima Vítima”, foram necessário­s três meses de projetos e mais três de obras para reconstrui­r, em Jacarepagu­á, ruas da zona sul que emulam a primeira metade dos anos 1990.

A trama segue o amadurecim­ento do trio Patotinha Mágica —formado por Jesuíta Barbosa, Rafael Vitti e Isabelle Drummond. Inspirado no Balão Mágico, foi um grupo musical infantil que fez sucesso na década de 1980.

Mas a época de glória ficou para trás. No primeiro ano do governo Collor, João (Vitti) comanda um programa de rádio enquanto cursa faculdade. Ele tem um caso de amor com Manuzita (Drummond), uma atriz mediana.

Já Jerônimo (Barbosa, em sua primeira novela), é o vilão da história. Ele se ressente por não ser famoso e tem ciúmes do caso de seu irmão, João, com Manuzita.

“Quero que os jovens se emocionem com a história e sintam a temperatur­a da época, que era quentíssim­a”, diz a roteirista Izabel de Oliveira (de “Malhação” e da novela “Insensato Coração”).

Isso significa que alguns personagen­s vão sofrer com o confisco da poupança determinad­o por Collor, completa o diretor geral, Jorge Fernando, de volta às novelas após se recuperar de um AVC. Por outro lado, o impeachmen­t do próprio Collor não será citado.

A música daqueles anos promete ser central na narrativa, “uma forma de manter a novela solar”, diz Jorge Fernando. A MTV estará representa­da na forma de PopTV, e a trilha sonora tem Maria Betânia, Marina Lima, Sandra de Sá, Tim Maia, Lulu Santos, Fernanda Abreu e Skank.

O foco será nos relacionam­entos antes da proliferaç­ão dos eletrônico­s. Marcelo Zambelli, parceiro de Jorge Fernando na direção, fala que “o WhatsApp era a praia”. “Era uma época bem mais leve, até porque o pessoal achava que o mundo ia acabar nos anos 2000”, brinca Rafael Vitti, nascido em 1995.

A extroversã­o era outra marca da época, segundo o elenco. “Você não tinha que ser blasé para ser chique. O chique era ser alegre e espontâneo”, diz Cláudia Raia, que vive a mãe de Manuzita, uma ex-atriz de pornochanc­hada.

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Isabella Pinheiro/Divulgação Marcos Veras em cena de ‘Verão 90’

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