Folha de S.Paulo

Na TV, indicações refletem impulso do streaming

- Luciana Coelho

Acabou a TV a cabo. Quatro de cada cinco indicados ao Globo de Ouro deste ano nas categorias televisiva­s estão em plataforma­s de streaming, sejam elas “raiz” (caso de Netflix, Hulu e Amazon Video) ou derivadas de canais a cabo premium (HBO, FX e Showtime).

Algumas reparações foram feitas neste ano pela associação de correspond­entes estrangeir­os em Hollywood, que finalmente faz jus a “The Americans”, indicando-a como melhor série dramática em sua temporada derradeira.

A profusão de produções, perto das 400, também trouxe uma leva de astros veteranos para a TV, enquanto o cinema é dominado por heróis adolescent­es. Concorrem Alan Arkin, Michael Douglas, Candice Bergman —na faixa etária mais avançada— e Jim Carrey, Hugh Grant e Julia Roberts —na menos.

Faz tempo que a TV aberta e o cabo convencion­al deixaram de ser motores de produção. Mas neste ano, segundo John Landgraf, executivo-chefe do canal FX, enquanto plataforma­s de streaming elevaram a produção em 46% e canais a cabo de prestígio com serviço avulso online, em 42%, a TV aberta encolheu a sua em 5% e os grandes do cabo, em 11%.

O Globo de Ouro sublinha o fenômeno: a FX lidera as indicações, com dez, seguida de HBO e Amazon —concorrend­o cada uma em nove categorias— e da Netflix (oito).

Showtime, cuja produção no Brasil se divide entre as outras três plataforma­s, ficou com seis, e o Hulu, de “Handmaid’s Tale”, com duas.

As gingantes NBC e CBS receberam juntas apenas quatro nomeações, e a ABC e a Fox, dona da FX, nem sequer estão na lista. Menos de uma década atrás, esses quatro canais dominavam a produção de séries nos EUA e, por conseguint­e, no planeta.

A força dessa renovação é vista na própria dramaturgi­a.

Das cinco indicadas a melhor série dramática, só “The Americans” não está em sua temporada de estreia, embora o mais justo seja que o prêmio fique com ela, que tratou impecavelm­ente da Guerra Fria e seus resquícios quando o tema esquenta Washington.

Será uma queda de braço com “Homecoming”, produção sublime da Amazon também na escaninho de thriller policial. As duas séries ainda disputarão os prêmios de atriz e ator dramático.

O drama LGBT de Ryan Murphy “Pose” (FX), o thriller britânico “Segurança em Jogo” (“Bodyguard”, no Brasil pela Netflix) e “Killing Eve” (aqui na Globoplay) correm atrás.

Das comédias, a nostálgica e agridoce “A Maravilhos­a Sra. Maisel” e a nonsense “The Good Place” não são estreantes.

O clima de conforto é reforçado por outras duas indicações: “Kidding”, produção da Showtime que marca o retorno de Jim Carey, e “O Método Kominsky”, série da Netflix pilotada pelo escaldado Chuck Lorre com Douglas e Arkin (mais na Crítica Serial).

Completa o páreo “Barry” (HBO), cuja história de um assassino de aluguel que se encanta pelo teatro também disputa melhor ator (Bill Hader, excelente) e coadjuvant­e (o veterano Henry Winkler).

Entre as minissérie­s, o favoritism­o é da boa mas meio histriônic­a “Objetos Cortantes”, da HBO, que deve levar coadjuvant­e com Patricia Clarkson e talvez atriz com Amy Adams.

A maior ausência é de Laura Linney, magnífica como a lobista mãe de família convertida em criminosa fria em “Ozark”, enquanto seu par em cena, Jason Bateman, foi lembrado. Mas até a bajuladora associação de correspond­entes estrangeir­os de Hollywood sabe que não se agrada a todos.

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