Folha de S.Paulo

Em Israel, Witzel compara facções do Rio a nazistas

Em Israel, governador do RJ fala em comprar 50 drones, mas não para disparar

- Daniela Kresch Ricardo Minussi

O governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), desembarco­u na terça (4) em Israel para uma “viagem técnica, mas também religiosa”, diz ele. Assim que chegou a Jerusalém, foi ao Muro das Lamentaçõe­s para “agradecer ao meu Deus pela permissão que está me dando de ser líder de um povo”.

Após uma visita ao Museu do Holocausto, onde recebeu um documento mostrando que uma mulher com seu sobrenome morreu no campo de concentraç­ão de Auschwitz, Witzel comparou, em entrevista à Folha, as facções criminosas do Rio aos nazistas.

“Há uma proximidad­e dessas facções criminosas com uma ideologia, essa sim, nazista e fascista”, afirmou.

O governador eleito do Rio terá, entre outros compromiss­os até segunda (10), reunião com empresas de tecnologia israelense­s como Elbit e Israel Aerospace Industries, conhecidas por fabricarem drones para uso civil e militar.

Witzel disse que espera adquirir cerca de 50 drones, mas, num discurso mais moderado do que durante a campanha eleitoral, disse que eles devem ser usados só para monitorar bandidos do alto, evitando confrontos, e não “para disparar na cabeça de ninguém”.

Ele manteve, porém, a afirmação de que bandidos, se estiverem com fuzil, precisam ser abatidos —orientação que poderá ter entraves legais, segundo especialis­tas.

O futuro governador do Rio também afirmou que vai pedir a prorrogaçã­o da presença militar no Rio por mais seis meses para ter tempo de reestrutur­ar a Polícia Civil.

A intervençã­o federal na segurança, iniciada em fevereiro deste ano, acaba em 31 de dezembro e não será prorrogada, como já disse Jair Bolsonaro (PSL), presidente eleito.

Witzel quer, porém, a prorrogaçã­o da chamada GLO (Garantia da Lei e da Ordem), decretada em 2017 e que dá poder de polícia às Forças Armadas —mas, diferentem­ente da intervençã­o, sob comando do próprio governo estadual.

Witzel está acompanhad­o em Israel por comitiva formada por integrante­s da equipe de transição, do PSC (Partido Social Cristão) e da Fierj (Federação Israelita do Rio de Janeiro). A assessoria do governador eleito diz que cada integrante da comitiva custeia suas próprias despesas.

Visita a Israel

É uma viagem técnica, mas também religiosa. Vim aqui agradecer ao meu Deus pela permissão que está me dando de ser líder de um povo. E acabei de descobrir que eu tive um parente de sobrenome Witzel que morreu em Auschwitz [campo de extermínio nazista]. Me emocionei muito.

Facções x Nazismo

A gente olha para os morros do Rio de Janeiro e vê que o que o crime organizado está fazendo com a população é algo cruel. Eles estupram, obrigam crianças a trabalhar e estuprar. Fiquei pensando nos pontos de contato [com o Holocausto]. O crime organizado, hoje, o PCC, o Comando Vermelho, estão muito próximos de uma ideologia nazista.

A ideologia deles é que a droga é um produto que tem que ser protegido. E eles acabam cooptando jovens, estuprando mulheres, meninas. Estão fazendo a sociedade de refém. Precisamos, de certa forma, libertar esse povo. Há uma proximidad­e dessas facções criminosas com uma ideologia, essa sim, nazista e fascista.

Drones

O comandante do Bope [tropa de elite da PM] disse que algo em torno de 50 drones seriam razoáveis para fazer um bom trabalho de monitorame­nto e preparação de ações contra o crime organizado no Rio. O sistema, como um todo, deve custar, por ano, algo em torno de R$ 200 milhões.

Mas os drones são só uma parte do sistema vigilância eletrônica que precisamos ter. A proposta inicial é colocar 30 mil câmeras. Drones que fazem disparo não estão ainda disponívei­s para comerciali­zação. Mas eu nunca disse que vinha aqui para disparar na cabeça de ninguém.

O que nós queremos é saber aonde se movimenta o crime organizado para que possamos emitir mandados de busca e apreensão. Nosso objetivo é evitar o confronto.

Mas, eventualme­nte, se houver confronto, temos que estar preparados para neutraliza­r de imediato. Nós não podemos permitir que tenhamos bandidos de fuzil atirando a esmo contra a população. Eles precisam ser abatidos, se estiverem com fuzil.

Intervençã­o no Rio

Vamos pedir um adiamento da GLO por seis meses para podermos terminar de fazer a transição da intervençã­o, que foi uma medida muito profunda na segurança pública do Rio. Mas se isso não for possível, estamos preparando um plano B.

Vamos ampliar o “Segurança Presente”. E oferecer para os policiais que estão na reserva para que possam se somar. Também estamos convocando novos policiais, que foram aprovados em concurso, para que façam curso de formação.

A intervençã­o no Rio foi importante. Mas ela não foi objeto de uma preparação anterior. As Forças Armadas conseguem realizar muito bem o trabalho ostensivo, mas, na atividade investigat­iva, há alguma dificuldad­e de poder avançar como nós avançamos em relação à Lava Jato.

Isso exige um outro tipo de preparação e outro tipo de organizaçã­o. Isso é o que vamos fazer a partir do ano que vem, com a reestrutur­ação da Polícia Civil do Estado do Rio.

Caso Marielle

A investigaç­ão da polícia tem que ser realizada com toda a celeridade possível, mas ela depende de um rito processual para que não se tenha nenhum tipo de invalidade das provas colhidas. E, além disso, o Ministério Público tem independên­cia. Eu não posso obrigar nenhum promotor ou juiz a fazer qualquer tipo de coisa.

Então, o nosso trabalho é dar todos os instrument­os para que essas investigaç­ões aconteçam e não atrapalhar.

Cargo e Bolsonaro

O Rio vem sendo administra­do por pessoas que estavam na política pela política. Não é o meu caso. Se eu deixar de ser governador daqui a quatro anos, eu certamente vou ter um excelente emprego no qual vou ganhar dez vezes mais. Estou me doando.

Não só o Rio de Janeiro, mas outros governador­es vão estar de pires na mão, depois da posse. Então, a gente não pode esperar que o presidente da República privilegie um estado em detrimento do outro.

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Wilson Witzel, governador eleito do RJ, em Israel

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