Folha de S.Paulo

Bolsonaris­tas são alunos dos lulistas

Sigla vive ameaça de isolamento e disputa interna protagoniz­ada por Eduardo, filho do presidente, e Joice Hasselmann

- Angela Boldrini, Ranier Bragon e Camila Mattoso Colaborou Gabriela Sá Pessoa

Da militância petista, os bolsonaris­tas aprenderam a exibir seus adversário­s como “inimigos do povo”. Hoje é Lewandowsk­i, amanhã pode ser você. Os alunos imitam seus mestres —e os superam.

“Ele [Major Olímpio] comanda o partido com truculênci­a, aos gritos, com ameaças aos desafetos. Expulsou pessoas, tentou me expulsar, colocou os ‘seus’ nos diretórios e excluiu gente que deu a vida na campanha Joice Hasselmann (PSL-SP) deputada federal eleita

Em meio a uma disputa interna dentro do seu partido, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, deve fazer uma reunião com os deputados federais do PSL na próxima quarta-feira (12), em Brasília.

O objetivo é tentar apaziguar os ânimos na segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, com 52 parlamenta­res eleitos, que também está sob ameaça de isolamento devido à articulaçã­o para a formação de um “blocão” por várias outras legendas.

Na onda da eleição de Bolsonaro, o até então nanico PSL —1 deputado eleito em 2014— pulou para 52 cadeiras na próxima legislatur­a, que tem início em fevereiro. Apesar do tamanho, a legenda pode ficar de fora dos principais postos de comando da Casa.

Partidos que integram o centrão —PP, PR, PTB, PSD, entre outros—, aliados a MDB, DEM e PSDB, discutem há algumas semanas a formação de um bloco para disputar a presidênci­a da Câmara, hoje ocupada por Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tenta se viabilizar como o nome do grupo.

O “blocão” excluiria o PSL e o PT. Com isso, os outros seis cargos da Mesa, o órgão máximo administra­tivo da Câmara, ficariam apenas com políticos desse grupo. As comissões, portas de entradas do projetos, também teriam sua formação feita com base nessa proporcion­alidade, em detrimento de PSL e PT.

Em meio à discussão, o PSL tenta negociar uma aliança com algum desses partidos para tentar esvaziar o blocão e conseguir cargos de comando.

Integrante­s da sigla procuraram líderes do PSD e do PR em busca de um acordo. As conversas têm sido estimulada­s pelo futuro líder da Casa Civil de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni (DEM), que tenta minar a reeleição de Maia.

Leonardo Quintão (MDBMG), que não conseguiu a reeleição e faz parte de uma espécie de comitê criado para auxiliar Lorenzoni, também tem tentado articulaçõ­es.

Líder da bancada do PR, o deputado José Rocha (BA) confirmou ter sido procurado por Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente eleito e líder da bancada do PSL, mas afirmou não ter havido resultado prático na conversa.

“Não existe bloco para escantear ninguém. O que existe é um bloco para dividir as estruturas da Casa”, minimizou.

Os entendimen­tos ainda não avançaram, também, porque líderes dos partidos afirmam que a articulaçã­o do partido de Bolsonaro é amadora e caótica, além de ser afetada pela disputa interna, tornada pública nesta semana.

Eduardo Bolsonaro, o deputado federal mais votado do país, trocou acusações com a deputada eleita Joice Hasselmann (SP), a segunda mais votada, na quinta-feira (6).

Chamado por ela de infantil e de estar liderando uma articulaçã­o política “abaixo da linha da miséria”, Eduardo classifico­u a jornalista de “sonsa” e de ter “fama de louca”.

A troca de ofensas ocorrida no grupo de WhatsApp do PSL acabou vindo a público.

Vários deputados do partido ouvidos pela Folha nos últimos dias indicam que o grupo no entorno de Eduardo é majoritári­o. “A Joice tem tomado a frente das articulaçõ­es [no Congresso e na formação do novo governo], mas não tem apoio da maioria do partido para isso. O Eduardo é a grande liderança e tem tido uma postura íntegra”, diz, por exemplo, o deputado Cabo Junio Amaral (MG), um dos novatos da sigla.

Dos atuais 8 deputados federais do PSL, apenas três continuarã­o na próxima legislatur­a —49 serão novatos. Ao lado de Eduardo, que é o atual líder da bancada, estão Delegado Waldir (GO), que tem assumido a frente da bancada na atual legislatur­a, e Major Olímpio (SP), eleito senador.

Segundo Waldir (GO), apesar de Eduardo cumprir agendas externas com o pai, não há impediment­o para que siga no comando do partido na Casa.

“Aqueles que dizem isso estão plantando a discórdia, por ciúme”, afirmou. Waldir também disse que é necessário “respeitar a hierarquia”, mas botou panos quentes e chamou de “debate de alto nível” a discussão ocorrida no grupo.

A deputada eleita Carla Zambelli (SP) respondeu com um vídeo em que Joice diz ser a única candidata com o aval de Bolsonaro, e ironizou nesta sexta (7): “Faça o seu trabalho e me esqueça, você é a mulher de 1 milhão de votos, a única chancelada pelo Jair, eu sou só uma ativista que não tem onde cair morta, segundo você”.

Em evento em São Paulo, Major Olímpio também disse que Joice está isolada. “Não há conflito de todos contra um, é só um se adequar”, disse.

Em seu Twitter, a deputada eleita respondeu: “Ele [Olímpio] comanda o partido com truculênci­a, aos gritos, com ameaças aos desafetos. Expulsou pessoas, tentou me expulsar, colocou os ‘seus’ nos diretórios e excluiu gente que deu a vida na campanha”, afirmou.

Joice conta com apoio, entre outros, do deputado eleito Julian Lemos (PB), amigo de Jair Bolsonaro, que também sofreu críticas públicas recentes de um dos filhos dele, o vereador Carlos Bolsonaro.

Joice, sua fama já não é das melhores. A continuar assim vai chegar com fama ainda maior de louca no Congresso Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) deputado federal eleito e filho de Jair Bolsonaro

A bancada do PSL não está em conflito. Não há conflito de todos contra um, é só um se adequar Major Olímpio (PSL-SP) senador eleito

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Jardiel Carvalho/Folhapress Major Olímpio em evento militar em SP

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