Folha de S.Paulo

Incentivo errado

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Encerramen­tos de mandatos costumam ser períodos perigosos da atividade legislativ­a. Com presenças escassas e menor atenção do Executivo, cresce o risco de que prosperem lobbies corporativ­os e outras pautas perdulária­s.

Nas últimas semanas, houve o reajuste salarial para os ministros do Supremo Tribunal Federal, elevando o teto remunerató­rio do funcionali­smo, e o avanço de um texto que permite a volta das indicações políticas nas empresas estatais.

Agora, a Câmara dos Deputados aprovou projeto que afrouxa o controle dos gastos municipais com pessoal, que por lei estão limitados a 60% da receita.

A regra votada elimina sanções para as prefeitura­s que ultrapassa­rem esse patamar, quando ocorrer queda de mais de 10% na arrecadaçã­o por fatores alheios à situação local —em caso, por exemplo, de perdas com royalties do petróleo.

A justificat­iva para a proposta, que seguiu à sanção presidenci­al, é evitar danos adicionais às cidades. Por atraente que possa parecer, o argumento é falacioso.

Constitui dever dos prefeitos e vereadores, afinal, gerir o Orçamento de forma prudente, preservand­o alguma margem de manobra para lidar com intempérie­s.

Um cuidado básico deve ser o de não criar despesas permanente­s, como a contrataçã­o de mais funcionári­os, com base em recursos que deveriam ser considerad­os transitóri­os, ou no mínimo instáveis, como os royalties.

As estatístic­as mostram que os gastos com o funcionali­smo continuam em alta nas cidades, em boa parte devido a aposentado­rias, tomando o espaço de outras políticas públicas —em particular obras e projetos de mobilidade urbana.

Conforme dados compilados pelo Tesouro Nacional, referentes a 5.109 municípios (de um total de 5.570), os desembolso­s com servidores ativos e inativos tiveram alta de 3,7% acima da inflação em 2017. Como nem a economia nacional nem a arrecadaçã­o tributária acompanhar­am esse ritmo, a saída foi cortar investimen­tos.

Não resta dúvida de que o principal gargalo das finanças estaduais e municipais sejam as folhas de pagamento. Todos os gestores precisam, pois, tomar providênci­as para evitar o estrangula­mento das contas. O afrouxamen­to das regras representa incentivo na direção oposta e merece o veto.

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