Folha de S.Paulo

O céu é o limite?

- Alvaro Costa e Silva

Os Estados Unidos englobam um povo realista, infantil, teimoso, cruel, religioso, violento, batalhador e generoso. Habituado a linchar negros e a abater presidente­s. Capaz de engendrar guerras libertária­s e cometer ignomínias no México e no Vietnã. De dar-se à filantropi­a e ao gangsteris­mo. De bater o recorde de publicaçõe­s da Bíblia e também de revistas e filmes pornográfi­cos. São chegados a eletrocuta­r pessoas e a cantar hinos. Mandam robôs a Marte e cometem crimes de lesa-humanidade, jogando bombas em cima de populações civis.

Calma no Brasil. Os argumentos acima (que adaptei e reescrevi, piorando muito o estilo) saíram da cabeça do médico Pedro Nava e foram expostos no livro de memórias “Baú de Ossos”, de 1972. Continuam oportunos na hora de entender o processo de aproximaçã­o do governo eleito com o país de Trump —ou, para usar a lógica alternativ­a de Nava, com o país de Obama.

Indicado a ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo está eufórico: “The sky is the limit”, afirmou. Cunhou a expressão “comunidade de sentimento­s”, seja lá o que isso signifique, e citou o barão do Rio Branco para dizer que, pela primeira vez, é chegado o momento “em que o Brasil sonhou em ter uma relação especial, uma aliança com os Estados Unidos”.

Menos, embaixador. O senhor nunca ouviu falar na política de boa vizinhança? Foi uma esperteza coordenada pelo empresário Nelson Rockefelle­r no início do governo Roosevelt, em 1933, a qual não só fortaleceu os laços de amizade entre os países, mas assegurou reservas de matéria-prima durante a Guerra. Desde então, a oposição aos EUA por aqui teve avanços e recuos, auge de repúdio nos anos 1960 e de apoio logo após o 11 de Setembro.

Macaquear americano é cafona, mas já estamos acostumado­s. Só não dá para ser subservien­te, bater continênci­a, enterrar boné na cabeça. Por falar nisso, o Trump vem à posse?

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