Redes menores crescem no vácuo da crise das gigantes do varejo
A crise em que se envolveram as redes Cultura e Saraiva não retrata o atual cenário vivido por outras livrarias tradicionais no país.
Com um modelo diferente do adotado pelas duas gigantes —mais focado no perfil do consumidor da região em que estão instaladas—, varejistas menores dizem estar com as contas sob controle e preparam novos saltos.
É o caso da Livraria da Travessa, que, além do plano de abertura de uma nova loja no bairro de Pinheiros, em São Paulo, se expande para o exterior, com uma unidade em Lisboa em 2019.
Hoje com nove lojas, a rede deve faturar R$ 78 milhões neste ano, estima o fundador, Rui Campos —alta de 15%.
O segredo, segundo ele, é entender o perfil do bairro antes de instalar a loja, em um trabalho quase artesanal.
“É importante fazer uma curadoria. Em Pinheiros, por exemplo, eu comecei a frequentar e me apaixonei pelo lugar. Precisa entender a linguagem do local”, diz.
Para Samuel Seibel, presidente da Livraria da Vila, não há uma “crise do livro”.
Sua rede recentemente optou por reduzir o tamanho de algumas lojas para se readequar ao mercado e agora prevê crescimento.
“Os livros continuam sendo comprados. Os números mostram que não há uma queda brusca de hábito. Isso seria preocupante, mas não é o que acontece”, diz.
No acumulado do ano, as vendas de livros no país cresceram 5,7% em volume e 9,33% em valores, segundo a empresa de análise de dados Nielsen BookScan.
“O consumo de livros vai na contramão, se encaminhando para um bom fechamento de ano”, diz Ismael Borges, gestor do BookScan Brasil.
A dificuldade de abastecimento pela qual passam as duas grandes redes parece ter aberto uma via de oportunidades para as menores.
Nas livrarias Martins Fontes, em outubro, mês em que a Cultura pediu recuperação judicial, as vendas subiram 9,5% em relação a igual mês de 2017.
Em novembro, o crescimento saltou para 30%, segundo a empresa.
Para empresários, o mercado ainda tem potencial. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2016, mostra que o brasileiro lê 2,43 livros inteiros por ano, em média.