Folha de S.Paulo

Em vias de ser demolida, casa no Rio onde Tom Jobim morou é alvo de divergênci­a

- Carlos Bozzo Junior

A casa onde o maestro Tom Jobim morou entre 1962 e 1965, período em que compôs “Garota de Ipanema”, pode ser demolida em 2019 para dar lugar a um prédio.

Enquanto a dona da pousada instalada na rua Barão da Torre, em Ipanema, faz campanha pelo tombamento do imóvel, o filho do compositor declarou que a casa não é “sagrada” e que existe um instituto que homenageia o pai, no Jardim Botânico.

Carol Fernandes, 37, uma das proprietár­ias da pousada e hostel Bonita, está organizand­o um movimento para que a demolição não ocorra. “Em setembro deste ano, fomos notificado­s de que tínhamos o prazo de 30 dias para a preferênci­a de compra, no valor de R$ 6,5 milhões, pois os proprietár­ios [herdeiros da família de Tom Jobim] tinham interesse em vender a casa”, afirma a empresária.

O imóvel foi vendido, no dia 10 de outubro, para a construtor­a RK3 Empreendim­entos. A empresa já tem o alvará de demolição para construir um edifício no local.

Atualmente com 29 quartos, o aluguel do imóvel é de R$ 45 mil mensais e tem a capacidade de acomodar cem pessoas. “Ainda não temos um prazo para deixarmos a casa, mas o contrato de locação comercial está vigente”, diz Fernandes, que está angariando assinatura­s para impedir que a casa venha abaixo.

“Não posso solicitar o embargo da demolição por ter interesse comercial, mas a população, sim, pois isso acarretará a perda de um patrimônio cultural muito importante.”

Por meio de uma carta registrada em cartório, assinada por Paulo Jobim e Elizabeth Jobim, filhos de Tom, e endereçada ao blog da Folha Música em Letras, a família do compositor afirma que “não apoia a iniciativa de pedido de tombamento que a pousada está liderando”.

“Essa casa era da minha avó materna; minha avó paterna a alugou dela, e meu pai foi para lá, onde ficou por poucos anos. ‘Garota de Ipanema’ foi feita no [bar] Veloso, com a moça passando, enquanto ele [Tom Jobim] morava na casa. O importante é a música. Estão fazendo essa onda toda e cobrando milhões do cara que comprou a casa para a pousada sair de lá”, diz o arquiteto e músico Paulo Jobim, 68.

Questionad­o sobre quem estaria “cobrando milhões”, o filho de Tom Jobim disse ser a proprietár­ia da pousada. “É uma grana preta; o atual proprietár­io não falou o valor. O cara comprou a casa, a pousada não quer [sair], então dizem que a casa é inderrubáv­el, sagrada, mas nunca fizeram nada de sagrado ali. Se é para homenagear, já existe um lugar concreto, o Instituto Antonio Carlos Jobim, dentro do Jardim Botânico.”

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