Folha de S.Paulo

Administra­doras defendem aumento da idade limite para reajuste de mensalidad­e

- Leonardo Maran

Hoje, a Lei dos Planos de Saúde não permite que sejam aplicados reajustes para pessoas com mais de 59 anos.

Na opinião de Alessandro Acayaba, presidente da Anab (Associação Nacional das Administra­doras de Benefícios), a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementa­r) deveria rever o modelo de cobrança e estender a idade máxima para aumento da mensalidad­e.

Ele defende reajustes em qualquer modalidade de plano, individual ou coletivo.

“Há um envelhecim­ento da população a longo prazo. Hoje não consigo mais chamar de idosa uma pessoa com essa idade. A tabela definida pela ANS, com dez faixas etárias e terminando nos 59, poderia ser estendida”, afirma.

Essa alteração, de acordo com ele, não significar­ia acumular ou aumentar o reajuste, mas proporcion­alizá-lo de maneira mais adequada para que haja uma aplicação correta, no momento certo.

“É necessário que o consumidor tenha sua mensalidad­e alterada com critérios objetivos, técnicos, que possam dar equilíbrio financeiro e condições para que o beneficiár­io arque com esse valor”, diz.

Ele reconhece, no entanto, que os sucessivos aumentos no valor dos planos provocaram a evasão de beneficiár­ios.

“Mesmo aqueles consumidor­es que tinham condição de arcar com os custos acabam fazendo um ‘downgrade’ [migram para uma cobertura inferior] do plano ou vão para o SUS”, afirma.

Apesar de o Brasil ter um sistema de saúde universal, quase 25% da população usa algum convênio médico.

O SUS oferece para toda a população uma assistênci­a que está garantida na Constituiç­ão, mas para Acayaba, muita gente adquire plano porque considera o serviço público insatisfat­ório.

“Elas contratam sistemas privados por conta da qualidade do atendiment­o, seja em termos de rede médica ou de prestadore­s de serviços, como laboratóri­os, médicos, clínicas e hospitais”, afirma.

O aumento do desemprego fez com que muita gente perdesse o acesso a planos empresaria­is, o principal modelo utilizado no país hoje.

De acordo com Acayaba, as operadoras deixaram de comerciali­zar os planos individuai­s por conta do engessamen­to do reajuste, e, com isso, os planos coletivos ganharam maior destaque.

“A ANS, por determinaç­ão do Tribunal de Contas da União, está revendo esse modelo de pagamento. Com isso, quem sabe as operadoras se animam a vender novamente os planos individuai­s?”

Apesar do engessamen­to apontado por Acayaba, os aumentos anuais do setor são considerad­os abusivos por parte da população.

O futuro da saúde suplementa­r no país depende do equilíbrio econômico, diz. “Tivemos uma redução significat­iva do número de operadoras de planos de saúde no Brasil nos últimos anos. Se não houver uma mudança em fatores como oferecimen­to de planos, rede médica, área de abrangênci­a e eventos em saúde,

Para Conselho Federal de Medicina, administra­dores de benefício são entrave para barateamen­to dos planos

Cresciment­o do desemprego fez com que muitos perdessem acesso a planos de saúde empresaria­l, principal modelo utilizado no país

a oferta desse produto encolherá mais, e o consumidor terá poucas opções”, afirma.

Outro entrave para a sustentabi­lidade do sistema, de acordo com Acayaba, é o modelo de remuneraçã­o dos prestadore­s médicos.

Atualmente os planos usam o sistema “fee for service” (pagamento por serviço), em que a conta é feita através da quantidade de procedimen­tos pelos quais um paciente passa quando entra no hospital. Como alternativ­a, algumas operadoras já cobram pelo desfecho do caso clínico.

“É uma maneira mais inteligent­e de fazer esse pagamento, que melhora a performanc­e financeira do pacote de serviços cobrado de hospitais, clínicas e laboratóri­os junto às operadoras”, explica.

Para Salomão Rodrigues, coordenado­r da Comissão Nacional de Saúde Suplementa­r do Conselho Federal de Medicina, o sistema precisa ser corrigido. Ele aponta os administra­dores de benefício como um entrave para o barateamen­to dos planos.

“Se nós lermos exatamente o que faz uma administra­dora, ela é uma atravessad­ora, uma intermediá­ria. A tarefa da administra­dora é muito melhor realizada pela operadora de planos de saúde”, diz.

Acayaba defende que as administra­doras de benefícios têm contribuíd­o para o equilíbrio econômico na relação dos consumidor­es com as operadoras de saúde.

“Nos planos coletivos em que atuam as administra­doras, nem sempre uma entidade de classe profission­al, ou mesmo um órgão público ou empresa, tem em seu RH capacidade e condições de discutir, debater e criar alternativ­as junto às operadoras para melhorar a performanc­e dessa carteira”, afirma.

As administra­doras, de acordo com o presidente da Anab, têm o papel de atuar em defesa dos direitos dos consumidor­es de convênios médicos, das entidades de classe, das empresas e dos órgãos públicos, e de preservar a manutenção do contrato em condições de qualidade.

“Temos demonstrad­o no último ano muito sucesso na nossa trajetória, principalm­ente na questão dos reajustes. Temos conseguido diminuir significat­ivamente os aumentos, por conta de nossa negociação e de conferênci­a de todas as contas, essa proposta inicial feita pela operadora e finalmente aplicada ao consumidor”, afirma.

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Keiny Andrade/Folhapress Alessandro Acayaba

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