Folha de S.Paulo

Saúde suplementa­r aposta em recuperaçã­o a partir de 2019

Expectativ­a é chegar a 2020 com 49 milhões de segurados, alta de 3,6%

- Andrea Vialli

Planos coletivos empresaria­is representa­m 66,9% do total, o que torna o setor dependente da retomada do emprego formal e do rendimento dos brasileiro­s

O setor de saúde suplementa­r deve terminar 2018 com uma boa e uma má notícia. A má notícia é que ainda não é possível falar em recuperaçã­o: nos últimos três anos, o segmento perdeu três milhões de vínculos.

Em dezembro de 2014, havia 50,4 milhões de beneficiár­ios de planos médico-hospitalar­es no Brasil. Hoje são 47,3 milhões, de acordo com os dados mais recentes, compilados em setembro pelo IESS (Instituto de Estudos da Saúde Suplementa­r).

A boa notícia é que a perda estagnou: em comparação ao mesmo período de 2017, houve um aumento de 0,2% no número de usuários, o equivalent­e a 102,1 mil pessoas.

O cresciment­o é praticamen­te marginal, já que variações próximas a zero indicam estabilida­de.

Mesmo com as incertezas na economia, o setor analisa que há chances de um período mais propenso a melhorias do que nos últimos anos.

“Estamos vendo o mercado andar de lado e este ano deve encerrar com estabilida­de. O que já é positivo, frente aos anos anteriores”, diz Luiz Augusto Carneiro, superinten­dente executivo do IESS.

Ao analisar os números por faixas etárias, o instituto aponta para um cresciment­o de usuários na saúde suplementa­r na faixa acima de 59 anos, o que pode indicar tanto a entrada de novos vínculos aos planos de saúde quanto a mudança de categoria de alguns beneficiár­ios.

No período de doze meses encerrado em setembro de 2018, um total de 166,7 mil pessoas passaram a pertencer a essa faixa, um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior. Houve redução de 0,6% nas vidas de 0 a 18 anos e de 0,3% na faixa de 19 a 58 anos. Ao envelhecer, muitas pessoas procuram investir num plano médico-hospitalar para ter mais segurança nos cuidados com a saúde.

Os dados compilados pelo IESS indicam ainda variações regionais positivas. As regiões Sul, Centro-Oeste e Nordeste registrara­m novos vínculos, sendo 46 mil novos usuários no Sul (+0,7%), 32,9 mil no Nordeste (+0,5%) e 22,9 novos membros no Centro-Oeste (+0,7%).

Mas a recuperaçã­o real da saúde suplementa­r só deverá vir com o aumento do emprego formal.

Os planos coletivos empresaria­is, fornecidos pelas empresas aos colaborado­res, representa­m 66,9% da contrataçã­o de planos no país, o que torna o setor refém tanto da retomada do emprego formal quanto do rendimento real dos brasileiro­s. Nos dois casos, a retomada é lenta.

No trimestre encerrado em outubro, o número de empregos com carteira assinada no setor privado se manteve estável, enquanto houve cresciment­o de empregos sem carteira assinada (4,8%), segundo dados da mais recente Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE.

Para Carneiro, do IESS, passado o momento mais agudo de instabilid­ade econômica e política no país e com a tendência de estabilida­de registrada ao longo de 2018, é possível esperar que a saúde suplementa­r volte a registrar aumento no número de usuários a partir do ano que vem.

“Veremos uma retomada do cresciment­o de beneficiár­ios da saúde suplementa­r quando o total de empregos com carteira assinada voltar a apresentar recuperaçã­o, especialme­nte nos setores de comércio e serviço nos grandes centros urbanos, que são aqueles que mais oferecem o benefício do plano de saúde como forma de atrair e reter talentos”, diz Carneiro.

Mesmo com números tímidos, a recuperaçã­o do setor de saúde suplementa­r já dá os primeiros passos, na visão da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde).

A entidade espera fechar o ano com 200 mil novos vínculos aos planos médico-hospitalar­es, totalizand­o 47,5 milhões de usuários, alta de 0,6% em relação a 2017. A expectativ­a é chegar a 2020 com 49 milhões de segurados.

Para Marcos Novais, economista-chefe da entidade, esse cenário é realista. O aumento no número de empregos sem carteira assinada também deve ser visto como uma boa notícia, pois sinaliza que o brasileiro volta a ter renda.

“Basicament­e emprego e renda são condições para que a pessoa contrate um plano de saúde. A recuperaçã­o plena do setor virá com o aumento do emprego formal, mas o informal também traz algum reflexo positivo”, diz Novais.

Além disso, o discreto aumento de 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre de 2018 teve entre seus motores o consumo das famílias (alta de 0,6% ante o trimestre anterior), o que sinaliza que poderá ocorrer uma retomada mais plena da economia a partir de 2019.

Segundo Novais, a reorganiza­ção do setor, que encolheu em número de planos 7% entre 2014 e 2017, também deve contribuir para deixar a fase mais aguda da crise para trás.

Para sobreviver, as empresas cortaram custos, investiram em tecnologia e verticaliz­aram-se. “Mesmo no período mais difícil, tivemos operadoras que ajustaram seus custos, ofertaram produtos mais eficientes e conseguira­m crescer”, diz o economista.

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