Folha de S.Paulo

No Congresso, filhos de eleito embaralham articulaçã­o

Aliados temem que Flávio e Eduardo Bolsonaro atrapalhem negociaçõe­s de líderes e ministros do governo

- Daniel Carvalho e Talita Fernandes

A partir de 1º de fevereiro, o sobrenome Bolsonaro não vai ficar restrito ao Palácio do Planalto. Marcará presença, simultanea­mente, nos painéis de votação da Câmara dos Deputados e do Senado.

Além de inusitada, a onipresenç­a da família no Executivo e no Legislativ­o tem provocado dúvidas entre parlamenta­res experiente­s e estreantes sobre qual será o papel do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filhos de Jair Bolsonaro (PSL).

Além do temor de que o excesso de interlocut­ores gere ruído na comunicaçã­o com a Presidênci­a, há o receio de que a presença dos dois acabe por esvaziar o papel dos próximos líderes de governo e até mesmo o dos futuros ministros responsáve­is pela articulaçã­o política, Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo).

Ainda durante a transição, parlamenta­res dizem, reservadam­ente, tentar entender como funcionará o próximo governo que, apenas na semana passada, começou a se aproximar das bancadas dos partidos. Até então, o diálogo se restringia a bancadas temáticas, como a evangélica.

Um experiente articulado­r avalia que a presença dos filhos no Congresso pode facilitar a relação com o Planalto desde que eles não atropelem os canais institucio­nais.

Esta não é a primeira vez que um presidente da República tem um filho no Parlamento. Sarney Filho (PV-MA) era deputado pelo PFL quando José Sarney (MDB) comandou o país, de 1985 a 1990.

Mas, segundo o deputado, a divergênci­a de ideias impediu que ele fosse um interlocut­or informal de seu pai.

“Eu não tinha relação de liderança nenhuma porque a base de papai era muito mais conservado­ra do que eu. Eventualme­nte, uma pessoa ou outra queria falar com ele e pedia para ver se eu conseguia uma audiência e, às vezes, eu conseguia”, lembra Sarney Filho.

Flávio Bolsonaro afirma descartar a possibilid­ade de ser líder do governo no Senado, mas já se coloca como interlocut­or ao lado de quem for escolhido para a função.

“Estou chegando agora, mas, certamente, por ser um senador e ter acesso direto ao presidente [Bolsonaro], e aos ministros, eu vou estar junto com esse líder do governo que for escolhido no consenso para levar as demandas legítimas dos senadores a quem possa resolvê-las”, disse o senador eleito, na terça-feira (4), em sua primeira visita a uma sessão da Casa após a disputa.

Durante a passagem pelo plenário do Senado, foi cumpriment­ado por futuros colegas de diversos partidos.

Eduardo Bolsonaro também já é alvo de assédio. De olho na indicação da Câmara para o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), candidatos ao posto têm procurado o deputado reeleito.

Apesar de Bolsonaro já ter escolhido Ernesto Araújo para comandar o Ministério de Relações Exteriores, foi Eduardo quem falou em nome do próximo governo fora do país.

“O que vim fazer nos Estados Unidos é também dar os primeiros passos no resgate da nossa credibilid­ade e mandar uma mensagem clara de que não seremos mais um país socialista. E estamos bem animados de estarmos tão próximos dos Estados Unidos”, disse Eduardo em entrevista à TV americana Fox News.

A investidor­es em Washington Eduardo disse que o governo talvez não consiga aprovar a reforma da Previdênci­a.

As declaraçõe­s no exterior incomodara­m integrante­s da base aliada de Jair Bolsonaro.

No fim desta semana, Eduardo protagoniz­ou nova polêmica ao envolver-se em bateboca no grupo de WhatsApp que reúne a bancada do PSL. O clima tenso levou Bolsonaro a convocar uma reunião com a bancada na quarta-feira (12).

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