Folha de S.Paulo

Venezuela elege vereadores em pleito quase sem oposição

Principais partidos de oposição foram impedidos de participar pelo chavismo

- Sylvia Colombo

A ditadura venezuelan­a dá mais um passo neste domingo (9) para tomar os poucos espaços de poder que ainda sobram nas mãos da oposição.

Como? Por meio de mais uma eleição sem a presença dos principais opositores e com resultados questionad­os, desde que o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) deixou suficiente­s evidências de fraudes nas votações da Assembleia Constituin­te, em julho de 2017, e nas eleições de governador­es e de prefeitos, em outubro daquele ano.

Agora, estão em jogo cargos de 2.459 vereadores para todo o país. Estão habilitado­s a votar 20,7 milhões de venezuelan­os, mas o clima das ruas é de que nada está acontecend­o.

Há pouquíssim­os cartazes de publicidad­e. Numa rápida enquete nas ruas do centro de Caracas (geralmente mais chavista) e do lado leste (anti-chavista), as respostas mais comuns ouvidas pela Folha foram a de que não se vai votar ou mesmo de que a eleição era desconheci­da.

Em pronunciam­ento no último domingo (2), a presidente do CNE, Tibisay Lucena, disse que não haverá observador­es internacio­nais e que o governo estava “orgulhoso de estar cumprindo com o cronograma eleitoral”.

Os principais partidos de oposição estão impedidos de participar.

Ficam de fora, assim, o Vontade Popular —de Leopoldo López, que cumpre prisão domiciliar—, o Primeiro Justiça —de Henrique Capriles, que teve os direitos políticos cassados— e o Ação Democrátic­a, do ex-presidente da Assembleia Nacional Henry Ramos Allup.

Participam partidos aliados ao chavismo, alguns nascidos de organizaçõ­es sociais ou de defesa dos indígenas, e o governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela).

De oposição “leve”, estará a Avançada Progressis­ta, do excandidat­o presidenci­al Henri Falcón, derrotado por Nicolás Maduro em maio deste ano em pleito contestado por observador­es internacio­nais e pela oposição, e a tradiciona­l Copei (cristã-democrata).

O lado leste de Caracas, onde se concentra o que restou de oposição na capital, é o principal objetivo dos chavistas. Aí já foram removidos de seus direitos políticos vários ex-prefeitos, como López, Antonio Ledezma e David Smolansky. Ainda há, porém, muitos vereadores ligados às gestões desses opositores.

“Vão deixar toda Caracas vermelha, e vai ser cada vez mais difícil voltar a entusiasma­r a população a protestar novamente”, disse Antonio Nevada, dono de uma farmácia no bairro de Chacao.

No centro, no belo edifício da Assembleia Nacional, uma estranha situação se normalizou. Há sessões da Assembleia Constituin­te, que tomou o espaço e o poder do Parlamento de maioria opositora, eleita em 2015.

Porém, quando os parlamenta­res constituin­tes, de maioria governista, não estão em sessão, é permitida a entrada no edifício dos deputados opositores, que seguem votando leis que não são postas em prática.

No interior do país, a situação de certo modo se repe-

te. Os governador­es governista­s exercem seus cargos. Mas os únicos quatro que pertencem a partidos opositores têm designado para acompanha-los um “protetor do povo”, escolhido por Maduro, que é quem de fato administra tais estados.

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Yuri Cortez - 6.dez.18/AFP Apoiadora do chavismo passa em frente a muro com pintura de Chávez em Caracas
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