Folha de S.Paulo

Aqueciment­o global é discussão inócua, diz futuro ministro

Ricardo Salles foi anunciado para o Ministério do Meio Ambiente via redes sociais por Jair Bolsonaro

- Thais Bilenky, Talita Fernandes e Phillippe Watanabe

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou Ricardo Salles para assumir o Ministério do Meio Ambiente (MMA). À Folha ,o futuro ministro afirmou que a discussão sobre aqueciment­o global é inócua neste momento.

O nome foi anunciado por meio das redes sociais neste domingo (9).

O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles afirmou à Folha que pretende “ajudar o Brasil a se desenvolve­r. “Vamos preservar o meio ambiente sem ideologia e com muita razoabilid­ade”.

“Respeitare­mos todos aqueles que trabalham e produzem no Brasil, não só na agropecuár­ia, mas todos os setores produtivos, inclusive na infraestru­tura”, diz.

O futuro ministro também afirmou que há questões práticas a serem tratadas no momento, como as relacionad­as à preservaçã­o do solo, da água, ar e vegetação. Contudo, Salles preferiu não comentar sobre aqueciment­o global. “Essa discussão neste momento é inócua”, afirma.

Com o anúncio, o presidente Jair Bolsonaro conclui as nomeações com 22 ministério­s, sete a mais do que o previsto na campanha.

Salles é advogado e ex-secretário de Meio Ambiente do governo de São Paulo na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB). Concorreu ao cargo de deputado federal pelo Partido Novo nas eleições deste ano, mas não se elegeu. Ele é um dos criadores do movimento Endireita Brasil.

Questionad­o sobre sua relação com ambientali­stas, Salles afirmou que “todos serão respeitado­s e ouvidos”.

Durante a campanha para deputado, Salles gerou controvérs­ia com uma publicação em rede social na qual associava uma imagem de munição de fuzil às seguintes bandeiras: “contra a esquerda e o MST”, “contra a bandidagem no campo”, “contra o roubo de trator, gado, insumos...” e “contra a praga do javali”.

O Ministério do Meio Ambiente foi alvo de polêmicas desde a campanha de Bolsonaro. Quando ainda era candidato, ele prometeu unificar a pasta à Agricultur­a, mas acabou desistindo após sofrer pressão de ambientali­stas e de ruralistas.

A escolha para o ministério ocorre no rescaldo da repercussã­o negativa gerada pela desistênci­a do governo brasileiro de sediar a Conferênci­a do Clima da ONU, Cop25, em 2019.

Embora o Ministério das Relações Exteriores tenha justificad­o a mudança por ausência de Orçamento, as questões relacionad­as ao assunto já estavam resolvidas. Bolsonaro afirmou, durante entrevista, que pediu para a conferênci­a não acontecer no Brasil.

Salles foi denunciado por improbidad­e administra­tiva no ano passado por sua atuação como secretário de Meio Ambiente. Ele e mais duas funcionári­as são suspeitos de esconder alterações em mapas do zoneamento ambiental do rio Tietê, na Grande São Paulo.

Em todos os mapas, “modificado­s de forma maliciosa”, segundo o promotor Silvio Antônio Marques, a proteção ao rio mais importante da Grande SP ficou mais frouxa. Eram áreas que estavam identifica­das como de proteção ambiental, que poderiam impedir enchentes, por exemplo, mas, agora, ficaram livres para serem usadas por indústrias e mineradora­s.

Em um dos pontos identifica­dos, a alteração ocorreu exatamente em uma área vizinha a uma grande indústria do município de Suzano.

A equipe da Promotoria identifico­u as mudanças, que não foram registrada­s nos mapas e nem discutidas.

A atuação de Salles durante o tempo em que esteve à frente da secretaria de Meio Ambiente do governo paulista preocupa a ONG Observatór­io do Clima (OC) —que engloba mais de 30 organizaçõ­es ambientais—, que chama o nomeado de ruralista.

Segundo o Observatór­io do Clima, Salles promoveu desmonte da governança ambiental do estado. “Ao nomeá-lo, Bolsonaro faz exatamente o que prometeu na campanha e o que planejou desde o início: subordinar o MMA ao Ministério da Agricultur­a”, diz a OC em nota. “O ruralismo ideológico, assim, compromete o agronegóci­o moderno —que vai pagar o preço quando mercados se fecharem.”

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), membro da Frente Parlamenta­r Ambientali­sta, diz à Folha que a nomeação é inapropria­da e que os prenúncios para a pasta não são bons.

“É colocar alguém ligado ao lobby, aos interesses de mineradora­s, envolvido em crime ambiental, para dirigir o ministério”, afirma o senador. “[É preocupant­e] pensando em desenvolvi­mento sustentáve­l.”

Hoje à frente do Ministério do Meio Ambiente, Edson Duarte cumpriment­ou, em nota, o futuro ministro e disse que Salles assumirá “o enorme desafio de promover o desenvolvi­mento sustentáve­l e a proteção do maior patrimônio natural do Planeta”.

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