Folha de S.Paulo

Escolas de Cidadania oferecem formação social e política em SP

- -Rafael Carneiro

Um texto dissertati­vo sobre a percepção de si mesma como cidadã diante da atual conjuntura política brasileira. Esse foi o trabalho final desenvolvi­do por Maria do Céu Magalhães, 52, para a Escola de Cidadania da Cidade Ademar e Pedreira (ECCAP), que oferece formação social e política na zona sul de São Paulo. Agora, a escrevente aguarda ansiosa pelo certificad­o emitido pela Unifesp (Universida­de Federal de São Paulo), que é parceira do projeto há dois anos.

“A coordenaçã­o da Escola de Cidadania deixou a gente bem à vontade em relação a esse trabalho, para que fôssemos criativos. Como passo boa parte do dia no Fórum João Mendes, eu relacionei o cenário político de hoje com a nossa Constituiç­ão, abordando os direitos e deveres da população”, explica a moradora do distrito de Cidade Ademar.

A cada 15 dias, o salão da Paróquia Cristo Ressuscita­do ficava cheio para os encontros de formação. Das 9h às 12h, os mais de 30 alunos aprenderam com especialis­tas sobre o funcioname­nto do sistema político, a legislação trabalhist­a, os movimentos sociais, as questões de gênero, entre outros assuntos.

“É muito interessan­te uma formação como essa, pois as pessoas começam a desenvolve­r um olhar diferente sobre o bairro em que moram, a sua cidade, o país. Elas se sentem mais capazes de cobrar o poder público e de tentar mudar a realidade a partir do seu próprio lugar”, afirma Penha dos Santos, uma das coordenado­ras da ECCAP.

Sobre o fato de os encontros acontecere­m em uma igreja católica, Penha explica que o local foi escolhido apenas por ser um espaço comunitári­o e que não há nenhuma interferên­cia da Igreja nas atividades.

A Escola de Cidadania da Cidade Ademar e Pedreira continuará a formação em 2019. As aulas começam no dia 23 de março e não há processo seletivo para ingressar.

Penha destaca ainda que pessoas de diferentes visões políticas são muito bem-vindas, pois a diversidad­e enriquece o debate. Para que o aluno receba o certificad­o da Unifesp, ele deve ter um mínimo de 70% de comparecim­ento nas atividades realizadas.

A Unifesp também é parceira de outras Escolas de Cidadania. Uma delas é a da Zona Leste (ECZL), que faz seus encontros em Ermelino Matarazzo. Primeira a ser criada, em 2011, a ECZL surgiu a partir de uma experiênci­a do coordenado­r Luís França na Escola de Governo com o professor de direito Fábio Comparato.

“Em conversa com o padre Ticão, líder comunitári­o da zona leste, nós avaliamos a necessidad­e de um espaço de formação e informação cidadã”, conta França.

Hoje, a Escola de Cidadania da Zona Leste é referência de aprendizag­em para muitos moradores. Um deles é a professora de informátic­a Deise dos Anjos, 51, aluna desde o primeiro ano. “Em todo esse tempo, já tive aulas sobre reforma política, descentral­ização do governo municipal e relação entre educação e política. Esta foi dada pelo professor Mario Sergio Cortella”, diz.

Em 2018, as aulas da ECZL foram sobre saúde preventiva e, segundo a coordenaçã­o, o tema foi uma demanda dos participan­tes. No ano que vem, a política volta ao centro da discussão, o que agrada ao conselheir­o tutelar Helio Bezerra, 63. “Sem política a gente não vive”, diz.

Além da ECCAP e da ECZL, há outras sete na capital. Na região metropolit­ana, o espaço de formação está presente em Guarulhos e Mogi das Cruzes. No interior, em Jundiaí e São José dos Campos.

Já passaram pelas escolas mais de 2.500 alunos e cerca de 1.500 certificad­os universitá­rios foram distribuíd­os.

As escolas são autônomas na elaboração das aulas. Em comum, são gratuitas, organizada­s por moradores e buscam colaborar no desenvolvi­mento do senso crítico.

“Já tive aulas sobre reforma política, descentral­ização do governo municipal e relação entre educação e política

Deise dos Anjos professora de informátic­a

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