Para Febraban, concentração no setor bancário não é problema
A Febraban, federação dos bancos, acaba de lançar o livro “Os Juros Precisam Baixar Mais Para o Brasil Crescer Mais” em que discute temas delicados para o setor, como a concentração e os spreads (diferença entre juros pagos aos depositantes e o cobrado de tomadores de empréstimos).
“É preciso diminuir o custo da intermediação, principal componente de juros. Depois, aumentar a competição para que a redução vá para o consumidor”, diz Murilo Portugal, presidente da entidade.
Por que editar um livro?
Conseguimos convencer os bancos a serem menos tímidos na comunicação. Esse foi um erro no passado, a ideia do livro é fazer um pouco de mea culpa.
Durante a campanha eleitoral se discutiu a concentração bancária. Isso motivou a mudança na comunicação?
Não, já estávamos em debate. Concordamos que o setor bancário é concentrado no Brasil —é assim no mundo. É também o caso de todos os segmentos com uso intensivo de capital. Mas o grau de concentração é moderado, se comparado a outros. Além disso, não existe relação entre spread e concentração. Há 20 anos, havia mais bancos, e a diferença de juros era maior. Se focarmos só a competição, não resolvemos o spread bancário. O Banco Central fez a decomposição e o lucro corresponde a 14,9%. Os outros custos, como os de inadimplência, operacionais, tributários e regulatórios, representam 85,1%.
Se o lucro for a zero, o spread vai cair de 13,9% para 11,8%. É pouco. É preciso diminuir o custo da intermediação. Depois, aumentar a competição no setor para que a redução
“Se focarmos só na competição, não resolvemos o spread bancário. o lucro corresponde a 14,9% da diferença dos juros. É preciso reduzir o custo da intermediação
“Nós concordamos que o setor bancário é concentrado no Brasil —é assim no mundo. É também o caso de todos os segmentos com uso intensivo de capital
vá para o consumidor.
Como o senhor vê as primeiras iniciativas do governo eleito?
Com otimismo. O governo eleito tem uma agenda liberal. Ainda tem muita informação desencontrada, temos de esperar para ver implementadas as medidas.
E o momento é positivo. O Brasil voltou a crescer, depois de recessão profunda. Está mais lento do que esperávamos, mas é uma recuperação. A Selic já caiu 7,75 pontos percentuais desde 2016. Se formos pegar os juros dos empréstimos livres, os mais afetados pela taxa básica de juros, foi uma redução de 15.
Como o senhor vê a ideia de fatiar a reforma da Previdência?
Não está claro o que significa. Pode ser aprovar a primeira parte, que o Temer mandou e já está no Congresso, e que a segunda fatia seja o sistema de capitalização que o Paulo Guedes defende e é um sistema melhor no longo prazo.
A capitalização pode representar irresponsabilidade fiscal?
Há um problema de transição: as pessoas que trabalham sustentam a aposentadoria dos aposentados e, se migrarem imediatamente para a capitalização, não vão pagar os custos dos que já estão aposentados. Isso teria de ser pago pelo governo. O sistema atual precisa de uma reforma de parâmetros —por exemplo, idade mínima. Pode haver uma compatibilização entre as duas mudanças.
Independência do BC deve ser uma das prioridades?
É importante, afeta a inflação, a credibilidade do BC e o nível da taxa básica de juros. O Brasil é um dos únicos que não têm autonomia formal. O objetivo é isolar a política monetária do ciclo eleitoral, político. A experiência mostra que é uma boa experiência.