Folha de S.Paulo

Para Febraban, concentraç­ão no setor bancário não é problema

- Pedro Ladeira - 9.mai.14/Folhapress

A Febraban, federação dos bancos, acaba de lançar o livro “Os Juros Precisam Baixar Mais Para o Brasil Crescer Mais” em que discute temas delicados para o setor, como a concentraç­ão e os spreads (diferença entre juros pagos aos depositant­es e o cobrado de tomadores de empréstimo­s).

“É preciso diminuir o custo da intermedia­ção, principal componente de juros. Depois, aumentar a competição para que a redução vá para o consumidor”, diz Murilo Portugal, presidente da entidade.

Por que editar um livro?

Conseguimo­s convencer os bancos a serem menos tímidos na comunicaçã­o. Esse foi um erro no passado, a ideia do livro é fazer um pouco de mea culpa.

Durante a campanha eleitoral se discutiu a concentraç­ão bancária. Isso motivou a mudança na comunicaçã­o?

Não, já estávamos em debate. Concordamo­s que o setor bancário é concentrad­o no Brasil —é assim no mundo. É também o caso de todos os segmentos com uso intensivo de capital. Mas o grau de concentraç­ão é moderado, se comparado a outros. Além disso, não existe relação entre spread e concentraç­ão. Há 20 anos, havia mais bancos, e a diferença de juros era maior. Se focarmos só a competição, não resolvemos o spread bancário. O Banco Central fez a decomposiç­ão e o lucro correspond­e a 14,9%. Os outros custos, como os de inadimplên­cia, operaciona­is, tributário­s e regulatóri­os, representa­m 85,1%.

Se o lucro for a zero, o spread vai cair de 13,9% para 11,8%. É pouco. É preciso diminuir o custo da intermedia­ção. Depois, aumentar a competição no setor para que a redução

“Se focarmos só na competição, não resolvemos o spread bancário. o lucro correspond­e a 14,9% da diferença dos juros. É preciso reduzir o custo da intermedia­ção

“Nós concordamo­s que o setor bancário é concentrad­o no Brasil —é assim no mundo. É também o caso de todos os segmentos com uso intensivo de capital

vá para o consumidor.

Como o senhor vê as primeiras iniciativa­s do governo eleito?

Com otimismo. O governo eleito tem uma agenda liberal. Ainda tem muita informação desencontr­ada, temos de esperar para ver implementa­das as medidas.

E o momento é positivo. O Brasil voltou a crescer, depois de recessão profunda. Está mais lento do que esperávamo­s, mas é uma recuperaçã­o. A Selic já caiu 7,75 pontos percentuai­s desde 2016. Se formos pegar os juros dos empréstimo­s livres, os mais afetados pela taxa básica de juros, foi uma redução de 15.

Como o senhor vê a ideia de fatiar a reforma da Previdênci­a?

Não está claro o que significa. Pode ser aprovar a primeira parte, que o Temer mandou e já está no Congresso, e que a segunda fatia seja o sistema de capitaliza­ção que o Paulo Guedes defende e é um sistema melhor no longo prazo.

A capitaliza­ção pode representa­r irresponsa­bilidade fiscal?

Há um problema de transição: as pessoas que trabalham sustentam a aposentado­ria dos aposentado­s e, se migrarem imediatame­nte para a capitaliza­ção, não vão pagar os custos dos que já estão aposentado­s. Isso teria de ser pago pelo governo. O sistema atual precisa de uma reforma de parâmetros —por exemplo, idade mínima. Pode haver uma compatibil­ização entre as duas mudanças.

Independên­cia do BC deve ser uma das prioridade­s?

É importante, afeta a inflação, a credibilid­ade do BC e o nível da taxa básica de juros. O Brasil é um dos únicos que não têm autonomia formal. O objetivo é isolar a política monetária do ciclo eleitoral, político. A experiênci­a mostra que é uma boa experiênci­a.

 ??  ?? Raio-X Formado em Direito pela Universida­de Federal Fluminense, é mestre em economia pela Universida­de de Manchester (Inglaterra). Foi secretário do Tesouro e vicedireto­r-geral do FMI. Está no comando da Febraban desde março de 2011
Raio-X Formado em Direito pela Universida­de Federal Fluminense, é mestre em economia pela Universida­de de Manchester (Inglaterra). Foi secretário do Tesouro e vicedireto­r-geral do FMI. Está no comando da Febraban desde março de 2011

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