ESCOLTA Satélite de observação põe Peru no mapa
Para que investir no espaço quando há tantos problemas para resolver aqui embaixo? Essa ladainha foi muito repetida no Peru desde 2014, quando o governo fechou um acordo de € 150 milhões (R$ 667 milhões nos valores de hoje) para adquirir um satélite de observação da Terra, o PerúSAT-1.
O pacotaço comprado da Airbus incluiu satélite, lançamento, centro de recepção e processamento das imagens, treinamento e suporte, e o lançamento ocorreu em Kourou, na Guiana Francesa, em 2016.
Na semana passada, a agência espacial peruana (Conida) promoveu um workshop internacional para discutir os resultados após dois anos de operações do PerúSAT-1, a que compareci a convite da Airbus e da Conida. O satélite de 430 kg está numa órbita polar de 694 km de altitude, e de lá, com seu telescópio, pode tirar fotos de qualquer lugar da Terra com resolução de 70 cm por pixel.
Ninguém na América Latina tem à disposição um satélite tão poderoso. E, pelo que se vê nas apresentações, os peruanos têm explorado bem o potencial. “Estamos numa nova era”, resumiu o general Carlos Caballero, chefe institucional da agência peruana.
As imagens têm sido usadas por múltiplas instituições públicas para aperfeiçoar mapas cartográficos e lidar com desastres naturais, como as enchentes ocasionadas pelo “El Niño costeiro” que afetou o Peru no ano passado.
As imagens também dão suporte a atividades tão díspares quanto vigilância do desmatamento da Amazônia peruana, apoio à agricultura, descoberta de focos de mineração ilegal e fiscalização de obras.
Não seria mais barato simplesmente comprar as imagens de algum fornecedor? Bem, o Peru fazia isso até então, a um custo médio anual de cerca de € 2 milhões (R$ 8,9 milhões) por umas dez imagens. Agora, o país tem mais de 30 mil por ano, e o satélite, uma vida útil de pelo menos dez anos. Faça as contas.
Isso sem falar no incremento à relevância geopolítica do país, que já fechou acordo para intercambiar imagens com a Coreia do Sul e está em conversas com o Brasil para ceder imagens em troca de uso do SGDC-1, o satélite brasileiro de telecomunicações.
O governo peruano estima que, em um ano de operação, o PerúSAT-1 recuperou todo o custo e agora já opera no azul.