O território entre realidade e ficção
Vencedor três vezes do festival É Tudo Verdade, Carlos Nader (“Homem Comum”, “A Paixão de JL”) é hábil ao explorar os limites entre linguagens. Em entrevista, o documentarista criticou o descaso com a cultura e relatou “pérola” recebida em parecer de edital público.
Qual será o seu próximo filme?
Estou preparando um filme em que musos e musas fitness refletem sobre questões existenciais.
Vai dar para fazer cinema no Brasil em 2019?
Acho que este governo, diferentemente do Collor, fecharia as torneiras aos poucos, sempre com um olho na reação da sociedade. Torço pelo contrário, é claro, mas antes mesmo dessa eleição eu já andava bem assustado com as consequências práticas das décadas de descaso com a educação e cultura. Exemplo disso: num edital recente, o parecer a um projeto que enviei pedia “a separação entre ficção e realidade, em respeito ao espectador e aos recursos públicos”. É uma pérola tragicômica quase inacreditável dita por alguém no papel de autoridade pública. Se fosse levada a sério, “Cabra Marcado para Morrer” (de Eduardo Coutinho) ou “Limite” (de Mário Peixoto) não poderiam existir.
Que documentário você gostaria de ter feito?
Sinceramente, só os que ainda não fiz. Um autor está condenado a desejar fazer filmes que sejam ostensivamente seus. Mas venero muitos outros. “Jogo de Cena” é um deles.