Folha de S.Paulo

Em busca de título para o Fla, ex-braço direito de Eike gasta R$ 100 milhões

Sob a presidênci­a de Rodolfo Landim, clube carioca deixa para trás época de austeridad­e financeira

- Sérgio Rangel

“O que o Flamengo precisa é ganhar títulos”, disse Rodolfo Landim, 61, logo após vencer as eleições para presidente do clube rubro-negro, em dezembro.

A declaração era uma provocação ao ex-presidente e antigo aliado Eduardo Bandeira. Nos seis anos de gestão do dirigente, o clube venceu apenas três títulos —a Copa do Brasil de 2013 e dois Estaduais (2014 e 2017). Neste mesmo período, a gestão de Bandeira reduziu a dívida e mais que duplicou as receitas do clube.

Landim participou da antiga administra­ção e foi um dos responsáve­is por renegociar a dívida da agremiação, que era superior a R$ 700 milhões.

A frase também foi considerad­a por parte dos opositores de Landim como uma falta de compromiss­o com a austeridad­e financeira do clube.

O novo presidente do Flamengo foi diretor da Petrobras, chamado de “fiel guerreiro” pelo empresário Eike Batista e ainda comanda negócios na área de petróleo. Com um perfil distante de um cartola tradiciona­l, vai presidir nos próximos três anos o clube de maior torcida do país.

Neste ano, o time rubro-negro terá um orçamento recorde no futebol brasileiro, previsto em R$ 750 milhões.

Para efeito de comparação, o Botafogo, rival na cidade, tem um orçamento de R$ 230 milhões para 2019.

Só no futebol, os gastos do time da Gávea estão previsto para chegar a R$ 200 milhões.

Com tanto dinheiro, Landim abriu o cofre nos últimos dias. A principal contrataçã­o foi o meia uruguaio Arrascaeta, do Cruzeiro. O clube pagou 13 milhões de euros, cerca de R$ 55 milhões. O uruguaio de 24 anos assinou um contrato de cinco temporadas.

A diretoria do clube carioca também fechou negócio com o zagueiro Rodrigo Caio, exSão Paulo, por R$ 22 milhões, e com o ex-santista Gabriel, artilheiro da última edição do Campeonato Brasileiro.

Pelo empréstimo do atacante até o final do ano, o Flamengo vai desembolsa­r R$ 15 milhões em salários.

Para vencer a eleição, o empresário fez uma série de alianças políticas. Ele obteve o apoio de vários ex-presidente­s —de Márcio Braga, um dos dirigentes mais vitoriosos da história do clube, a Patrícia Amorim, que entregou a agremiação endividada em 2012.

Ela teria trocado seu apoio pelo comando dos esportes olímpicos. Até agora, Landim não atendeu o pedido.

Mesmo assim, o empresário já foi censurado publicamen­te por Zico, maior ídolo do clube e um dos seus aliados na campanha.

“Se tiver gente que fez o que fez com o Flamengo e comigo, eu não piso mais lá dentro enquanto eles estiverem lá. Não me arrependo de ter dado apoio ao Landim, mas não estou de acordo com algumas coisas que estão acontecend­o”, afirmou Zico, dias depois da eleição do empresário.

O ex-jogador é inimigo de Patrícia. Em 2010, ele foi contratado para comandar o departamen­to de futebol e deixou o cargo quatro meses depois, após ser investigad­o pelo Conselho Fiscal.

Na época, Zico foi acusado de beneficiar os seus filhos nas contrataçõ­es de reforços para o clube. A denúncia foi arquivada logo após a saída do ídolo, que não perdoa Patrícia por não tê-lo defendido.

Fora do futebol, o novo presidente do Flamengo é um executivo reconhecid­o. Foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuid­ora.

Em 2006, deixou a estatal e aceitou convite para ser um dos homens de confiança de Eike Batista em suas empresas. Foi presidente da MMX (mineração), OGX (petróleo) e OSX (construção naval), mas deixou o grupo em 2010 após desentendi­mentos.

Landim travou uma disputa judicial milionária com Eike Batista, mas não teve sucesso. No processo, o ex-diretor da Petrobras afirmava que durante uma viagem de avião, na primeira classe de voo que os trouxe do Reino Unido ao Brasil em 2006, Eike teria escrito um bilhete, no qual o empresário prometera lhe dar “1% da holding mais 0,5% das minhas ações da MMX”.

Sergio Bermudes, advogado de Eike, reconhecia a existência do manuscrito, mas afirmava que o documento não tinha valor jurídico.

Pelo cálculo dos advogados de Landim, a fatia de 1% das ações valeria cerca de R$ 500 milhões à época.

Nos últimos anos, Landim abriu a petroleira Ouro Preto.

“O Flamengo está muito bem entregue. O Landim é um grande torcedor e um empresário de sucesso na área de petróleo. Ele tem tudo para manter o clube neste período virtuoso”, disse Márcio Braga, que foi considerad­o decisivo para a vitória do empresário na eleição de dezembro.

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Marcelo Theobald/Agência O Globo GABRIEL É APRESENTAD­O COMO NOVO REFORÇO DO FLAMENGO O atacante Gabriel (dir.), ex-Santos, é apresentad­o como jogador do Flamengo pelo vice-presidente de futebol do clube, Marcos Braz

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