Na Índia, aura de invencível de Narendra Modi pode acabar
Até pouco tempo atrás, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, 68, parecia eleitoralmente imbatível. Em 2014, após décadas na minoria parlamentar, o partido Bharatiya Janata (BJP) deu uma sova no Partido do Congresso, graças ao carisma de Modi.
Com uma plataforma que une nacionalismo hindu e modernização econômica, o BJP reduziu o partido do clã Nehru-Gandhi a escombros, com controle de só 3 de 29 estados.
Mas uma sucessão de equívocos tirou parte da aura de invencibilidade de Modi e tornou as eleições da Índia deste ano, que devem se realizar em abril ou maio, imprevisíveis.
A “desmonetização” de 2016, retirada de notas para coibir a informalidade, foi um fiasco que acabou em confusão e falta de dinheiro no país. O ambicioso imposto sobre bens e serviços, embora necessário, teve implementação atabalhoada. E a queda dos preços agrícolas vem enfurecendo os agricultores, eleitorado precioso no país ainda 66% rural.
Nas últimas semanas, agricultores foram às ruas protestar, bloquearam estradas e jogaram fora suas colheitas de cebola, muito consumida na Índia, cujo preço despencou.
Muçulmanos e hindus de castas mais baixas engrossam as filas dos insatisfeitos. No mandato de Modi, multiplicaram-se os episódios de violência da direita nacionalista hindu contra minorias.
Uma prévia do desafio que o BJP terá veio no final do ano, com as eleições estaduais.
O Partido do Congresso venceu em 3 de 5 estados em disputa (Chhattisgarh, Madhya Pradesh e Rajastão). O resultado foi surpreendente, pois dois estados fazem parte do coração hindi da Índia, a maior base de apoio do BJP. O Congresso conquistou muitos votos com sua proposta de perdão das dívidas agrícolas.
Mesmo assim, não se deve subestimar a força de Modi na maior democracia do mundo.
Ele tem o apoio da disciplinada militância hindu e sua capacidade de mobilização, além de usar de forma eficiente as redes sociais, como outros populistas de direita.
Embora tenha cometido alguns equívocos na economia, Modi atraiu volume recorde de investimentos estrangeiros, primou pela ortodoxia fiscal e fez importantes reformas microeconômicas, como a adoção da lei de falências.
Ainda que falte muito a ser feito —como reformas trabalhistas e privatização— os planos do premiê ainda são bem mais pró-mercado do que os do Partido do Congresso.
A figura de Modi, com sua narrativa de um humilde vendedor de chá que chegou ao governo para combater corruptos e modernizar o país, ainda é muito mais atraente do que a de Rahul Gandhi, 48, o relutante herdeiro da dinastia política Nehru-Gandhi.
O Partido do Congresso tentará formar alianças com inúmeras legendas locais para tentar derrotar o BJP. Mas os anos de escândalos de corrupção que mancham a imagem do Congresso ainda são um defeito inegociável para muitos eleitores.