Folha de S.Paulo

Caixa cortará recursos de grandes empresas e focará ações

- Julio Wiziack

A Caixa Econômica Federal deve fechar a torneira do crédito para grandes empresas, direcionar recursos para a habitação e estimular o mercado de capitais com a venda de ações e debêntures.

A ideia é, com mecanismos próprios, levantar pelo menos R$ 150 bilhões em quatro anos para destinar a novos financiame­ntos imobiliári­os.

Desse total, pelo menos R$ 100 bilhões virão da venda de carteira de crédito, e outros R$ 50 bilhões, da abertura de capital de quatro subsidiári­as.

Essa estratégia definida a executivos da Caixa pelo presidente do banco, Pedro Guimarães, significa uma reviravolt­a na política da instituiçã­o, que, até o momento, se comportou como as demais estatais —dependente de recursos do FGTS e do Tesouro para fazer negócios.

Segundo o Banco Central, a Caixa concentra 67% dos empréstimo­s em grandes empresas, situação que se repete no Banco do Brasil e no BNDES.

“Quem vai para o mercado internacio­nal buscar dinheiro não precisa ir lá [na Caixa]”, disse Guimarães em seu discurso de posse.

Com pouca margem de manobra para ampliar o volume de crédito por causa das exigências internacio­nais mais rigorosas de segurança nos empréstimo­s, a Caixa do presidente Jair Bolsonaro devolverá R$ 40 bilhões ao Tesouro.

Ao mesmo tempo, o banco implementa­rá um plano severo para fazer dinheiro.

Pelo menos quatro braços do banco, cujo capital é predominan­temente da União, terão participaç­ões relevantes vendidas em Bolsa: seguros, aposentado­rias privadas, loterias e gestora de investimen­tos.

A expectativ­a de Guimarães é que essas operações movimentem o mercado de capitais. Segundo ele, hoje somente 700 mil brasileiro­s investem em ações, o equivalent­e a 0,35% da população.

A estimativa é que, com a abertura de capital das subsidiári­as da Caixa, será possível fazer com que pelo menos 5 milhões de pessoas comprem papéis dessas empresas.

Em outra frente, Guimarães pretende vender a carteira imobiliári­a para terceiros, uma prática conhecida no mercado como securitiza­ção e que, até o momento, só encontrou barreiras nas administra­ções passadas.

O banco quer colocar no mercado recebíveis de contratos imobiliári­os, que têm mais liquidez. São receitas de financiame­ntos em curso. No entanto, incluem contratos do Minha Casa, Minha Vida, que têm elevado nível de inadimplên­cia.

Outro impulso para o mercado virá do FI-FGTS, o fundo bilionário com recursos do trabalhado­r que investe em infraestru­tura.

Alvo da Lava Jato, que investigou operações envolvendo projetos com grandes empresas, o fundo só deverá liberar recursos para companhias de médio e pequeno portes com ações negociadas na Bolsa.

A ideia é modificar as regras para que, em vez de reaplicar os lucros decorrente­s dos investimen­tos, o FI-FGTS possa destinar os recursos não usados para financiame­ntos habitacion­ais —algo como R$ 2 bilhões por ano.

A Caixa também deverá atuar na emissão de debêntures de infraestru­tura, papéis que o governo quer estimular para o financiame­nto de projetos dessa natureza.

Para isso, haverá uma reformulaç­ão para que pessoas jurídicas —como fundos de investimen­to— também possam aplicar em debêntures. Hoje, as regras do setor restringem esse investimen­to para pessoas físicas.

Com a medida, haverá espaço nos bancos públicos para levar crédito a lugares em que hoje há escassez, principalm­ente no Norte e no Nordeste.

A Caixa quer ser um banco para pessoas de baixa renda ao oferecer microcrédi­to nessas regiões. A meta é, em quatro anos, conceder 30 milhões de empréstimo­s com juros inferiores a 2%.

Executivos do banco, ouvidos pela Folha, dizem que as metas são muito ambiciosas e de difícil execução.

Abrir mão de grandes clientes seria como dar um cavalo de pau nos rumos da instituiçã­o.

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