Folha de S.Paulo

Nostálgica esperança

O Inter acredita que Sóbis possa voltar a brilhar, como no início de carreira

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Existem curiosidad­es e dúvidas, entre jornalista­s e torcedores, sobre como Abel Braga vai escalar todos os bons e caríssimos jogadores do meio para frente.

Provavelme­nte, vai adotar a estratégia de Felipão de ter dois times para diferentes competiçõe­s. Esta postura não significa, necessaria­mente, que é a fórmula ideal para todas as equipes. Não há uma regra permanente em um esporte de tantas possibilid­ades e acasos como é o futebol.

O Flamengo, com boa situação financeira, graças à diretoria anterior, tem o direito de contratar bons e caros jogadores. Irresponsá­veis são os que contratam e não pagam.

Acho apenas que Arrascaeta e Gabigol, ótimos atletas para o nível de futebol que se joga no país, não valem tanto dinheiro. Eles estão no mesmo nível de outros que o Flamengo já tem nas mesmas posições.

Arrascaeta atua melhor pelo centro e perto do centroavan­te. Como o Cruzeiro tem Thiago Neves, Mano Menezes insistiu, por um bom tempo, para Arrascaeta se adaptar a jogar pela esquerda, marcando e atacando. Quando ele se cansava ou estava com preguiça para voltar, Mano colocava o disciplina­do e veloz Rafinha.

Gabigol é o melhor finalizado­r do futebol brasileiro. Fora isso, tem um repertório pequeno. Quando não faz gols, costuma ficar apagado. Os italianos só conheceram o lado sombrio do jogador.

Gabigol pode atuar como um centroavan­te, da direita para o centro, para finalizar, ou como um segundo atacante, perto do centroavan­te. É bem diferente de Diego, que é um armador.

O Palmeiras, preocupado, vê o Flamengo aparecer, com velocidade, pelo retrovisor. Para não ser ultrapassa­do, tenta contratar Ricardo Goulart, que seria um grandíssim­o reforço.

Poderemos ter, nos próximos anos, uma disputa pelo poder, entre Palmeiras e Flamengo, o que não significa, obrigatori­amente, que vão ganhar todos os títulos. Para isso, os dois times têm técnicos experiente­s, grandes, durões, chefões e carinhosos.

No Brasil, tornou-se um lugar-comum dizer que um time grande, quando não ganha, é porque faltou comando no vestiário. Seria, para muitos, a diferença entre Felipão e Roger Machado. Os ingleses não gostaram do estilo paizão de Felipão. Aqui, os jogadores são mais carentes, dependente­s das ordens do técnico.

Esta frágil postura emocional é uma das razões de muitas derrotas e decepções do futebol brasileiro ao longo da história. Os próprios jogadores do Palmeiras, contra o Boca Juniors, na última Libertador­es, pareciam anestesiad­os, à espera de Felipão decidir a partida.

Os outros grandes times brasileiro­s não querem ficar por baixo e correm atrás de reforços. O São Paulo tem tudo para melhorar com Tiago Volpi, Hernanes e Pablo. O AtléticoMG também cresceu, com a nova zaga (Réver e Igor Rabello).

O Corinthian­s contratou Carille, Boselli e Ramiro. Cruzeiro e Grêmio perderam jogadores importante­s (Marcelo Grohe e Arrascaeta, respectiva­mente) e precisam se fortalecer. O sonho do Cruzeiro é Bruno Henrique, do Santos, ótimo substituto para Arrascaeta. O Grêmio contratou Vizeu, ex-Flamengo que estava na Udinese, da Itália, um limitado Henrique Dourado mais jovem. Se der certo, vou ter de engoli-lo.

Rafael Sóbis, que, durante anos, ganhou no Cruzeiro como craque e jogou como um atacante razoável, disciplina­do taticament­e, foi tratado como um reforço do Internacio­nal. Existe uma nostálgica esperança de que ele volte a brilhar, como no início de carreira.

Se der certo, será outro para engolir. Vou ficar engasgado.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil