Folha de S.Paulo

Maioridade penal, para 84%, deve ser aos 16 anos

84% apoiam medida, diz Datafolha; entre os favoráveis, 67% defendem que redução valha para qualquer tipo de crime

- Marina Estarque Marlene Bergamo - 9.nov.2018/Folhapress

A redução da maioridade penal de 18 para 16 anos é defendida por 84% dos brasileiro­s, segundo pesquisa Datafolha —14% são contrários à alteração.

Os índices estão estáveis desde o levantamen­to anterior, de novembro de 2017, mas o debate tende a ganhar força na gestão Jair Bolsonaro (PSL). O presidente e Sergio Moro (Justiça) defendem a redução para 16 anos.

A maioria dos brasileiro­s (84%) é favorável à redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, segundo pesquisa Datafolha. Apenas 14% são contrários à alteração —2% são indiferent­es ou não opinaram.

O índice se manteve estável desde o último levantamen­to, em novembro de 2017. O apoio à diminuição da maioridade penal chegou a ser de 87% em abril de 2015, percentual mais alto da série histórica.

Entre os que são favoráveis à redução, 33% defendem que a medida deve valer somente para determinad­os crimes, e 67% acham que ela deve ser aplicada a todos os tipos.

A idade mínima apontada pelos entrevista­dos foi de 15 anos, em média, para que uma pessoa possa ser presa por um crime. Para 45%, a faixa etária mínima deveria ser de 16 a 17 anos e, para 28%, de 13 a 15 anos. Uma minoria, de 9%, acha que a idade mínima ideal deve ser de 12 anos. Na outra ponta, 15% defendem que uma pessoa, para ser presa, tenha pelo menos entre 18 e 21.

Foram entrevista­das 2.077 pessoas em 130 municípios em todas as regiões do país, entre 18 e 19 de dezembro de 2018. A margem de erro é de dois pontos percentuai­s, para mais ou para menos.

As mulheres, comparadas aos homens, tendem a ser mais contrárias à redução da idade penal: 17% delas não apoiam a medida. Entre os homens, esse índice é de 11%.

O mesmo ocorre com pessoas mais instruídas e ricas. Dos entrevista­dos com ensino superior, 22% são contrários à alteração, percentual que cai para 10% entre aqueles com ensino médio, por exemplo.

Entre brasileiro­s com renda familiar acima de dez salários mínimos, a parcela contrária à redução da idade penal é de 25%, enquanto apenas 12% das pessoas com renda de dois a cinco salários mínimos rejeitam a medida.

O debate em torno da redução da maioridade penal tende a ganhar força neste ano, com Jair Bolsonaro (PSL) na Presidênci­a. Durante a campanha, ele defendeu a alteração da idade em seus discursos, e a proposta constava, de forma enfática, do seu plano de governo: “Reduzir a maioridade penal para 16 anos!”

Em entrevista à Band, após eleito, Bolsonaro chegou a dizer que considerav­a 14 anos a idade ideal. “Se não for possível 16 [anos], passa para 17, daí o futuro presidente, se tiver resultado, tenta o 16. Eu gostaria que fosse 14, mas se botar 14 a chance é quase zero de ser aprovado [no Congresso]”, afirmou.

Sergio Moro, que comanda o Ministério da Justiça, disse ser “bastante razoável” a redução da maioridade para 16 em casos de crimes graves e citou projetos em tramitação no Congresso com esse teor.

“Pessoa menor de 18 anos deve ser protegida, o adolescent­e. Muitas vezes ele não tem uma compreensã­o completa das consequênc­ias dos seus atos, mas um adolescent­e acima dos 16 já tem condições de percepção de que, por exemplo, não pode matar. Então ter um tratamento diferencia­do para esse tipo de crime me parece algo assim bastante razoável”, disse em entrevista coletiva em novembro passado.

No Senado, quatro propostas de emenda à Constituiç­ão (PEC) para a redução da maioridade penal tramitavam em

Jair Bolsonaro (PSL) Presidente da República, em entrevista à Band

conjunto desde 2015. Com o fim da legislatur­a, em 2018, três delas foram arquivadas definitiva­mente, mas uma proposta, que já havia passado pela Câmara, permanece na CCJ (Comissão de Constituiç­ão, Justiça e Cidadania) do Senado.

O texto inicial prevê que adolescent­es de 16 a 18 anos deixem de ser inimputáve­is se cometerem homicídio doloso (quando há intenção de matar), lesão corporal seguida de morte e crimes hediondos (estupro, por exemplo), e que cumpram pena separados dos maiores de 18 anos.

Para ser promulgada, a proposta precisa primeiro ser aprovada na comissão e, em seguida, ser apreciada em dois turnos pela Casa e ter a concordânc­ia de ao menos três quintos dos senadores, em cada uma das duas votações. Se houver alguma emenda, a proposta precisaria voltar para a Câmara.

A nova configuraç­ão do Congresso em 2019, com forte bancada do PSL, deve facilitar a aprovação de projetos que interessam a Bolsonaro.

O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo —726,7 mil presos, de acordo com dados do Infopen (Levantamen­to Nacional de Informaçõe­s Penitenciá­rias), divulgados em 2017.

Em 2016, 25.929 adolescent­es e jovens cumpriam medidas de internação, internação provisória e semiliberd­ade, segundo o Levantamen­to Anual do Sistema Nacional de Atendiment­o Socioeduca­tivo, lançado em 2018. Em 2009, esse número era de 16.940 adolescent­es, ou seja, houve um aumento de 53% no período.

Atualmente, infratores entre 12 e 18 anos vão para os sistemas de cumpriment­o de medida socioeduca­tiva, geridos pelos governos estaduais.

Os adolescent­es podem ficar até três anos internados — eles não cumprem uma sentença específica, mas passam por avaliação da Justiça periodicam­ente, que determina quando eles podem voltar para casa.

“Eu gostaria que [a idade penal] fosse 14, mas se botar 14 a chance é quase zero de ser aprovado [no Congresso]

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Adolescent­e interno da Fundação Casa durante visita em unidade da instituiçã­o, em São Paulo
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