Folha de S.Paulo

Parentes de vítimas celebram; amigos veem injustiça

- Arquivo Pessoal

Familiares de vítimas de Cesare Battisti na Itália comemorara­m sua captura e envio para a Itália.

“Impossível que não seja extraditad­o”, afirmou ao jornal italiano La Repubblica Alberto Torregiani, filho do joalheiro Pierluigi Torregiani, por cujo assassinat­o Battisti foi condenado.

“[Battisti] é tecnicamen­te um fugitivo, não abrangido por qualquer estatuto especial. Ele é um fugitivo e não tem benefícios a mais. Eu acho que ao longo de 48 horas, uma semana no máximo, vai estar na prisão na Itália. Não acho que os brasileiro­s tenham um grande desejo de mantê-lo [...] Eu não me atrevo a pensar que agora ele poderá encontrar um truque”, continuou Torregiani.

Além de Pierluigi Torregiani, Battisti foi condenado por outros três assassinat­os ocorridos entre 1977 e 1979, enquanto era militante do PAC (Proletário­s Armados pelo Comunismo): o do agente penitenciá­rio Antonio Santoro, o do açougueiro Lino Sabadin e o do agente policial Andrea Campagna.

Battisti sempre negou ter cometido os crimes.

“Vamos pedir uma consulta com o governo e vamos ver como se moverá”, disse Maurizio Campagna, irmão de Andrea, também ao jornal La Repubblica.

“Temos que ver quais os passos que devemos tomar. Em todo caso, eu estou confiante, porque desde 2004 todo governo se moveu com determinaç­ão para pedir a extradição”, disse, acrescenta­ndo, no entanto, que “se foi para a Bolívia, algum motivo Battisti tem”.

No Brasil, parentes e amigos de Battisti lamentaram a prisão do italiano.

Priscila Luana Pereira, com quem Battisti tem um filho de cinco anos, diz que a sua detenção está sendo um momento difícil para a família.

“Tenho alguma esperança que Evo [Morales] lhe conceda a chance de permanecer na Bolívia”, afirmou ela, antes de os bolivianos terem anunciado que enviarão o italiano para seu país.

Professora, ela mora em São José do Rio Preto (SP), mas há alguns dias está em Cananeia (SP), onde o italiano residia.

Priscila foi para a casa do ex-companheir­o com o filho porque, segundo ela, houve tentativas de furto no imóvel, que estava vazio desde o desapareci­mento do morador.

A educadora disse que o filho ainda não sabe claramente que o pai foi preso, mas desconfia que algo aconteceu.

“Como ele pergunta pelo pai desde que chegou aqui, sempre que escuta falar dele fica atento. Ele ainda não tem dimensão dos fatos, mas já se deu conta de que está acontecend­o algo com o pai.”

No mês passado, em entrevista à Folha, Priscila disse que Battisti havia falado em buscar asilo em alguma embaixada quando sua extradição começou a parecer iminente.

Ela afirmou que não sabia do paradeiro do pai de seu filho, com quem teve um relacionam­ento de idas e vindas entre 2012 e 2017. A Polícia Federal chegou a ir até a casa dela em busca de informaçõe­s.

Amigos de Battisti chegaram a iniciar uma mobilizaçã­o na internet para que a Bolívia conceda asilo político a ele.

O sociólogo Carlos Lungarzo, autor de um livro sobre o processo do italiano e defensor da inocência dele, pediu que apoiadores mandem emails para as representa­ções diplomátic­as do país vizinho.

“É fundamenta­l ter em conta que, se Battisti for devolvido para o Brasil ou entregue à Itália, ele terá uma morte horrível”, diz Lungarzo em defesa do refúgio na Bolívia.

Professor aposentado da Unicamp, o escritor afirma que Battisti passou por um julgamento fraudulent­o no país europeu e que neste momento, sob o governo Bolsonaro, não terá direito à ampla defesa no Brasil.

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Alberto Torregiani, filho do joalheiro Pierluigi Torregiani, por cuja morte Cesare Battisti foi condenado

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