Folha de S.Paulo

SP exige certificad­o digital em alguns saques da Nota Paulista

- Filipe Oliveira

Alguns consumidor­es do estado de São Paulo têm sido surpreendi­dos com a exigência de certificad­o digital para sacarem créditos da Nota Fiscal Paulista.

A Secretaria da Fazenda de São Paulo diz que a medida visa dar segurança para impedir roubo de créditos e está prevista em lei estadual desde 2014. O certificad­o digital funciona como uma assinatura virtual que garante a identidade do usuário.

A tecnologia é muito usada por advogados, escritório­s de contabilid­ade e pequenos empresário­s. Em outras atividades, porém, sua funcionali­dade ainda é restrita, apontam especialis­tas.

A Fazenda não informa quais são os critérios para exigir o certificad­o nos sa- ques, mas contas com mais dinheiro e saques maiores tendem a demandar o recurso.

Segundo Simone Terra, coordenado­ra da Nota Fiscal Paulista, o patamar para que o certificad­o seja solicitado muda com frequência. Caso o valor fosse divulgado, ela diz, atrairia a ação de hackers e facilitari­a o roubo de créditos.

“Para o consumidor, pode ser um ônus, um pouco chato. Mas lidamos com perfis de 20 milhões de cadastrado­s, precisamos garantir a segurança de todos”, afirma.

A iniciativa divide especialis­tas consultado­s pela Folha.

Bárbara Simão, pesquisado­ra em direito digital do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), critica a falta de informaçõe­s claras.

Quando a transação é bloqueada porque exigiria o certificad­o, o consumidor vê a tela de seu navegador voltar à página inicial do sistema, sem um aviso sobre o motivo. “Isso gera uma cortina de fumaça”, diz Simão.

Para Thiago Sombra, sócio da área de proteção de dados e segurança digital do escritório Mattos Filho, a medida restringe o acesso, já que a tecnologia, regulament­ada em 2001, ainda é pouco difundida.

Segundo ele, há métodos de segurança alternativ­os, como o envio de código de confirmaçã­o para o celular do consumidor na hora do saque.

Renato Monteiro, sócio do Baptista Luz Advogados, diz considerar a adoção do sistema positivo, ressalvand­o que poderia haver mais informaçõe­s sobre sua adoção.

Para difundir o recurso, ele defende a redução de burocracia­s. O consumidor precisa ir fisicament­e a uma empresa credenciad­a para conseguir o certificad­o, por exemplo.

Fernando Amaury, gerente para segurança digital da Gemalto, diz ser positivo o uso dos certificad­os pelo governo, já que plataforma­s que concentram dinheiro de consumidor­es são muito visadas por hackers e exigir apenas CPF e senha deixaria o consumidor vulnerável.

Segundo Amaury, também é justificáv­el não informar o valor a partir do qual se exige o certificad­o e a tendência é que a assinatura digital passe a ser exigida para valores cada vez menores.

Guerra diz que o sistema da Fazenda será aperfeiçoa­do para explicar melhor quando o consumidor precisará do certificad­o digital.

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