Avianca expandiu operações na crise, na contramão de rivais
Fatia de mercado dobra entre 2012 e 2017; arrendadoras querem tomar aviões
Na primeira audiência de conciliação do ano no processo de recuperação judicial da Avianca Brasil, marcada para esta segunda-feira (14), a companhia terá de negociar com as empresas de leasing de aviões que pretendem retomar suas aeronaves.
Uma delas, a Aircastle, quer resgatar dez jatos, que representam mais de 20% da frota atual da Avianca Brasil, segundo informou a Reuters.
Executivos da Avianca avaliam internamente que ainda não deve sair um acordo desta reunião, mas estão confiantes de que receberão proteção da Justiça para atravessar a temporada de vendas de verão sem perder seus aviões.
O otimismo vem do fato de que, ao obter a concessão do pedido de recuperação judicial em dezembro do ano passado, a Avianca também recebeu uma decisão judicial favorável prorrogando o prazo de proteção contra os pedidos de retomada dos aviões com a possibilidade de renovação da medida.
O problema agora é garantir que as vendas de passagens não sejam afetadas pelo noticiário negativo, comprometendo as receitas futuras.
Ao pedir recuperação judicial, em dezembro, a companhia disse que corria o risco de deixar sem voar 77 mil passageiros com bilhetes comprados.
Para atrair mais clientes, a Avianca Brasil lançou em dezembro um pacote agressivo de promoções.
A estratégia está em linha com o perfil empresarial arrojado da família controladora Efromovich —que também tem histórico de atuação em outros ramos, como o de estaleiros, no qual já conhece a experiência da recuperação judicial.
Quando a crise econômica no Brasil atingiu a demanda por passagens a partir de 2014, levando as concorrentes Gol, Latam e Azul a reduzirem suas frotas e frequências de voos, a Avianca Brasil foi no caminho inverso.
Quarta maior dentre as companhias com atuação no mercado doméstico brasileiroi, ela escolheu se expandir em malha, frota e número de colaboradores, elevando de 5,35% para 12,9% sua participação de mercado entre 2012 e 2017, segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Em 2017, o setor começou a sentir sinais de melhora, e a Avianca Brasil deu outro passo ousado, inaugurando voos internacionais.
A empresa saltou de 220 para 290 voos diários entre 2016 e 2018. Em número de destinos, passou de 23 para 29.
No período de expansão, a Avianca Brasil se posicionou com um serviço mais “premium” que o da concorrência, oferecendo diferenciais que pesam sobre os custos.
Além de expandir a frota, motivo que a levou ao pedido de recuperação judicial, a empresa foi umas das pioneiras na América Latina a instalar internet a bordo e outros tipos de entretenimento.
Contra a tendência das grandes concorrentes, que vinham segmentando tarifas, com a cobrança de refeição a bordo, ela manteve perfil sofisticado, sem abrir mão do lanche quente para todas as classes tarifárias.
Na polêmica discussão em torno da franquia de bagagem nos voos domésticos, liberada em abril de 2017, a Avianca Brasil foi a última a adotar a cobrança pelo despacho das malas, apenas em setembro.
Ela também buscou se diferenciar nos serviços dos voos internacionais, em que os passageiros da classe executiva são chamados pelos nomes por comissários que os atendem durante a viagem.
Hoje, as dívidas da companhia com credores listados na recuperação judicial superam R$ 493 milhões.
A capacidade de lidar com o endividamento chegou ao limite quando empresas de arrendamento de aeronaves entraram na Justiça pedindo a devolução dos jatos.
A empresa não atribui os problemas que enfrenta hoje a um possível erro na estratégia de seguir se expandindo na contramão do mercado.
Procurada, diz que o pedido de recuperação judicial foi uma “medida foi protetiva”.
Em nota, a companhia afirma que, “após um 2018 muito ruim, a empresa, assim como suas concorrentes, procurou alternativas para se capitalizar. Como primeira medida, decidiu renegociar com as arrendadoras”.
Segundo a Avianca Brasil, “nada tem a ver com a saúde financeira da companhia”.
Em outras palavras, para o comando da empresa, a recuperação judicial seria um meio de estancar as dívidas e bloquear as tentativas das arrendadoras de retomar os aviões.
Porém, a medida da Avianca é arriscada porque, por outro lado, impacta a imagem da empresa, podendo espantar os consumidores.