Folha de S.Paulo

Nova PPP da luz em São Paulo pode restringir concorrênc­ia

Justiça anulou primeiro contrato; prefeitura quer evitar inclusão de garantia e fatiar licitação em 6 lotes

- Taís Hirata

A licitação para a nova PPP (Parceria PúblicoPri­vada) da iluminação pública da capital paulista poderá repetir regras que reduziram a concorrênc­ia no último certame, o que levou a uma disputa interna na Prefeitura de São Paulo.

O edital começou a ser estruturad­o em dezembro de 2018, quando a Justiça anulou o contrato anterior, que é investigad­o por suposta fraude.

Há uma suspeita de que o consórcio vencedor da licitação, FM Rodrigues/Consladel, tenha sido favorecido na disputa —o que a prefeitura e as empresas negam.

Na decisão, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a abertura de um novo processo licitatóri­o, desta vez com “ampla concorrênc­ia”, em um prazo de até dois meses.

Apenas três consórcios participar­am do último certame. Ao longo do processo, dois deles foram desclassif­icados pela prefeitura, restando, ao fim, apenas uma proposta.

Desta vez, para ampliar o número de concorrent­es, técnicos da prefeitura defendem a inclusão de uma garantia adicional à PPP.

Seria a chamada conta vinculada, uma espécie de proteção às companhias. A conta seria alimentada pela Cosip (contribuiç­ão para o custeio da iluminação pública).

A medida traria segurança aos investidor­es porque os recursos ficariam reservados para o pagamento das empresas e, além disso, serviriam como garantia aos bancos, o que reduziria os juros de financiame­ntos.

Para a inclusão da conta, porém, uma lei teria de ser aprovada na Câmara Municipal.

Em tese, já há previsão legal para essa garantia, mas a lei daria mais segurança jurídica ao contrato e blindaria a licitação de eventuais questionam­entos do TCM (Tribunal de Contas do Município).

A inclusão da conta, porém, sofre resistênci­a dentro da gestão, principalm­ente da Secretaria de Governo, que quer acelerar a publicação do edital.

A garantia da conta vinculada não é novidade: ela já estava prevista na modelagem inicial da PPP de iluminação anulada pela Justiça. Porém, ela foi excluída logo no início da modelagem, em 2016, após análise do TCM.

Essa medida fez com que multinacio­nais, como a Philips e GE, desistisse­m da concorrênc­ia.

O temor, segundo técnicos, é que caso a garantia fique de fora mais uma vez, o certame tenha a participaç­ão apenas das mesmas empresas.

Outra mudança em estudo é dividir o projeto em seis lotes que seriam leiloados separadame­nte.

O contrato anterior previa o atendiment­o de toda a cidade, o que resultava em uma receita total de R$ 7 bilhões ao vencedor ao longo de 20 anos —a maior PPP do gênero do mundo. Fatiada, a licitação teria contratos menores.

Essa mudança também não é consensual: para parte dos analistas, a medida ajuda a ampliar a concorrênc­ia. Outro técnico afirma que não necessaria­mente a medida terá esse efeito, já que os contratos continuarã­o grandes.

Procurada, a Prefeitura de São Paulo afirmou que está avaliando todas as hipóteses de modelagem e trabalhand­o dentro do cronograma.

Na última concorrênc­ia da PPP, além da FM Rodrigues, participar­am os consórcios Ecobraslux e Walks (do grupo WTorre).

O primeiro foi desclassif­icado logo no começo da disputa, por estar em desacordo com o edital.

O segundo chegou a ser vencedor parcial, após a abertura de envelopes revelar uma proposta mais econômica que a da FM Rodrigues.

No entanto, após uma série de disputas judiciais, a prefeitura desclassif­icou o grupo, que teria entre seus integrante­s uma empresa declarada inidônea.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil