Folha de S.Paulo

Consumir mais proteína ajuda a prevenir a perda de músculos em idosos

Estudo diz que combinação de exercícios com whey protein gera maior musculatur­a; suplementa­ção precisa de indicação médica

- Phillippe Watanabe

Que caldinhos e alimentos leves para os mais velhos que nada. Uma boa alimentaçã­o para a terceira idade tem que contar com um bom filé, ovos, grãos e até suplementa­ção proteica, se for preciso, para que não haja perda muscular, muito comum com o avanço dos anos.

Uma pesquisa publicada na revista especializ­ada Geriatrics & Gerontolog­y Internatio­nal comparou a musculatur­a de três grupos: mulheres idosas que só faziam exercícios físicos, mulheres que só tomavam suplementa­ção proteica (conhecida como whey protein) e mulheres que combinavam os exercícios e a ingestão de whey.

As voluntária­s, que tinham entre 65 e 80 anos, foram acompanhad­as por 24 semanas. Aquelas que combinaram exercícios com suplementa­ção tiveram um ganho significat­ivo de massa muscular. O mesmo ocorreu, mas em menor escala, com as que só faziam exercícios. As que só tomavam a suplementa­ção não apresentar­am ganho de musculatur­a.

O padrão se repetiu na análise de força de preensão palmar (a força nas mãos) e na velocidade de marcha dos idosos. O estudo —com algumas limitações, como o curto tempo de acompanham­ento e o fato de ter sido feito só com japonesas saudáveis— reforça dados importante­s para a terceira idade.

A preocupaçã­o com os músculos dos idosos não é estética (mas não tem problema se for também, claro). O maior problema é a condição conhecida como sarcopenia. A falta de músculos acaba afetando atividades diárias e aumenta a chance de morte por quedas e infecções.

Segundo Maisa Kairalla, geriatra da Unifesp, alguns sinais de fraqueza podem ser percebidos com o caminhar lento, a necessidad­e de ajuda dos braços para se levantar do sofá e até o arrastar de chinelos pela casa.

No Brasil, a condição afeta cerca de 15% da população idosa em geral, mas a proporção aumenta com a idade e chega a 46% nos maiores de 80 anos.

“Ter massa muscular é a coisa mais importante do envelhecim­ento”, diz Myrian Najas, nutricioni­sta da Unifesp (Universida­de Federal de São Paulo). “Ser uma pessoa ativa que faz exercícios físicos e come de forma adequada aos 70 anos é perfeito.”

Mas o cenário ideal é difícil de ser alcançado na vida real, segundo os especialis­tas. Primeiro, pelos níveis de sedentaris­mo no país, que vêm aumentando, segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde.

Desde 2002, a taxas de inatividad­e no Brasil cresceu mais de 15%. Dados de 2016 mostram que 47% dos brasileiro­s não se exercitam o suficiente.

Entra nessa conta também a diminuição da prática de esportes e exercícios com o avanço da idade, de acordo com dados da pesquisa Práticas de Esporte e Atividade Física, da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.

O outro empecilho tem a ver com os costumes alimentare­s dos idosos, com maior consumo de carboidrat­os.

“Além da perda natural de massa muscular, problemas de dentição e falta de apetite fazem com que os idosos comam menos proteínas. Isso somando ao menor nível de atividade física faz com que eles percam muita massa”, diz Nelson Iucif, diretor do departamen­to de nutrologia geriátrica da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).

As dificuldad­es na cozinha tambémpode­mfazerdife­rença, Nelson Iucif diretor do departamen­to de nutrologia geriátrica da Abran diz Kairalla. “O idoso muitas vezes não quer cozinhar ou não tem quem cozinhe para ele. Ele precisa ter força, capacidade de deglutir, ter calma e precisa fazer a comida.”

Segundo um estudo publicado no British Journal of Sports Medicine, o ideal é ingerir, diariament­e, 1,6 g de proteína por quilo — ou seja, 112 g se você pesa 70 kg.

Mas, por tudo isso, dificilmen­te somente a alimentaçã­o balanceada dará conta da perda muscular na velhice. Os especialis­tas afirmam que uma dieta completa e variada é importante nessa fase da vida —e nas outras também, claro—, com consumo de diferentes tipos de carne, ovos, leite, carboidrat­os, grãos e proteínas vegetais.

Daí a importânci­a da suplementa­ção, somada ao exercício físico, com o objetivo de ganho de massa muscular.

“Começamos a envelhecer aos 28 anos, e isso é progressiv­o”, afirma Kairalla, que ressalta que não se pode esperar a velhice chegar para pensar no assunto. “Aos 50 anos, você tem que ter uma ótima reserva muscular, cognitiva, respiratór­ia, social e financeira para conseguir suprir os próximos 50. Você precisa poupar para gastar e nunca é tarde.”

Tudo isso quer dizer que todo idoso precisa tomar suplemento proteico?

Não necessaria­mente. Para Najas, sem a prática de exercício não vale a pena. Para outros especialis­tas, é melhor tentar melhorar os hábitos alimentare­s primeiro para ingerir proteínas na comida.

Não é indicado que idosos tomem suplementa­ção sem orientação de geriatras, nutricioni­stas e nutrólogos, que calculam as quantidade­s necessária­s para cada um, sem risco de afetar os rins.

Os especialis­tas também precisam indicar, entre as diversas opções do mercado, a suplementa­ção mais indicada para cada caso.

“Precisamos educar para envelhecer. Isso precisa ser falado desde cedo. Todo mundo vai envelhecer, uns melhores e outros piores. É preciso dieta balanceada, consumo proteico e atividade física. Fica a dica”, diz Kairalla.

“Problemas de dentição e falta de apetite fazem com que idosos comam menos proteína. Com pouca atividade física, eles perdem muita massa muscular

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