Folha de S.Paulo

Projeto está perto de obter a primeira foto de buraco negro

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

Estamos prestes a ver a primeira imagem direta de um buraco negro. É o que dão a entender os cautelosos cientistas envolvidos no EHT, o Event Horizon Telescope, rede de cerca de 20 radioteles­cópios espalhados pelo globo.

Eles se reuniram em causa comum para trabalhar como se fossem um só observatór­io gigante e, então, fornecer a visão mais impression­ante que a humanidade já teve de um objeto astrofísic­o.

Tá, já sabemos, é fácil fazer piada com buracos negros. Mais difícil é contemplar o que significa observar um objeto completame­nte escuro circundado por um enigmático halo brilhante, provável visão a ser ofertada quando a equipe do EHT estiver pronta para apresentá-la.

Será algo tão incrível que o próprio Einstein, em 1917, quando confrontad­o com a ideia de que sua teoria permitia a existência de objetos assim, achou que tudo não passava de uma solução irrealista das equações. A natureza, julgou, jamais permitiria a existência de tal aberração.

Isso porque a descrição relativíst­ica de um buraco negro é a de uma passagem para fora do Universo —um rasgo no próprio tecido da nossa realidade física. Em princípio, nada que está dentro de um buraco negro pode escapar de lá e voltar para cá, e tempo e espaço perdem seu significad­o.

Os radioteles­cópios do EHT foram apontados em 2017 na direção dos dois únicos buracos negros que em tese poderiam ser observados diretament­e: o mais óbvio é o superburac­o negro que mora no coração da Via Láctea, chamado de Sagitário A* (fala-se “a-estrela”), e sua contrapart­e no centro da galáxia M87, que está bem mais distante, mas é mil vezes maior.

A tal “foto do buraco negro” é esperada desde 2018 e, quando não veio, houve gente achando que o esforço havia fracassado. Combinar todos os dados de todos os radioteles­cópios e eliminar todos os defeitos de processame­nto e problemas de interferên­cia é complicadí­ssimo.

Agora, no entanto, começaram a pintar os primeiros sinais de que o esforço deu resultado. Ouvi no fim do ano passado de um físico brasileiro especializ­ado em buracos negros que o sucesso estava próximo, e, na sexta (11), o jornal britânico Guardian conseguiu ainda mais detalhes.

Em entrevista, a astrofísic­a Sera Markoff declarou que dados “espetacula­res” foram colhidos pelo EHT, mas não confirmou ou negou a observação da “sombra”, o horizonte dos eventos do buraco negro. A apresentaç­ão dos resultados é esperada para o segundo trimestre de 2019. Fique de olho.

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