Folha de S.Paulo

‘Venci’, diz baixista que foi expulso dos Sex Pistols e depois voltou

- Ivan Finotti

são paulo Foi a quinta vez que Glen Matlock, 62, o baixista original dos Sex Pistols, apareceu no Brasil. Desta vez, ele veio para cantar e tocar violão no show “Illegal”, de Supla, que aconteceu na noite de sábado (12) no Sesc Belenzinho. Sex Pistols, para quem não conhece, foi a banda que fez o punk explodir (n)o planeta em 1977, com o álbum “Nevermind the Bollocks”.

Mas Matlock não tocou no álbum. Foi expulso antes das gravações, substituíd­o por Sid Vicious, que tampouco tocou porque não sabia tocar nada.

Matlock, entretanto, assina em coautoria 10 das 12 canções do disco amarelo, incluindo os clássicos “Anarchy in the UK” e “God Save the Queen”.

Questionad­o se iria cantá-las e tocá-las no show em São Paulo, confirmou ambas, além de “Pretty Vacant”. “Essa eu fiz a letra”, contou. Quem foi à apresentaç­ão pôde ouvir as três músicas do grupo.

Matlock acabou de lançar um álbum solo, em outubro de 2018, “Good to Go”, puro rock’n’roll, disponível nas plataforma­s de streaming.

É verdade que você foi expulso dos Sex Pistols porque gostava

de Beatles? Isso é bobagem. Invenção do Malcolm McLaren. Eu saí porque eu e John [Lydon, o cantor, também conhecido como Johnny Rotten] não nos dávamos bem. E Malcolm havia inventado essa banda de caricatura­s.

Eu queira estar numa banda de verdade. Quando eu estava nos Sex Pistols, éramos uma versão do The Who, sabe? Uma banda de garotos para a garotada. E depois virou algo diferente. Acho que foi um pouco desonesto.

Você e John trocaram uns

murros? Não chegou a tanto. Era mais discussão mesmo. [Pessoalmen­te], ele era como se apresentav­a no palco. O tempo inteiro. Bem podre. O que o fazia ser bom no palco não é o que você necessaria­mente quer sentado ao seu lado.

Como era o método de composição das canções no Sex

Pistols? Basicament­e, alguém vinha com uma ideia e nós todos ficávamos brincando em cima. Johnny ficava no canto cantando, colocando algumas palavras.

A maioria foi assim, mas não todas. Em “Pretty Vacant”, eu escrevi a letra. Em “Submission”, eu e Johnny trabalhamo­s nos versos juntos. Daí a banda entrava e mexia um pouco. E começávamo­s a brigar.

E sua relação com Sid Vicious, que te substituiu? Sid não tocou no disco. Steve [Jones, guitarrist­a] tocou o baixo. Mas Sid era meu vizinho. Em 1978, toquei num show dele para que ele tivesse dinheiro para viajar para os EUA. Ele era realmente junkie, bem ruim. Era um bom cantor. Não sabia escrever uma letra, mas cantava bem.

Você ganha uma grana de direitos autorais por ter composto essas músicas? É, mais ou menos. Não o suficiente. Então tenho que trabalhar. Que é o que estou fazendo aqui. Em seguida vou à Argentina tocar com alguns amigos de lá. Tenho sorte que me chamam para coisas.

Se arrepende de ter deixado

os Sex Pistols em 1977? Foi o que foi. Ficou grande, mas era maior ainda em 1996, quando me chamaram para voltar para a banda e fazer a turnê [que passou pelo Brasil]. Poderiam ter chamado qualquer baixista do mundo, mas me chamaram. Então acho que venci no final.

Você ainda toca punk rock?

Não. Meu último disco é rock’n’roll. Mesmo com os Sex Pistols, nós não começamos com uma banda punk. As pessoas começaram a chamar assim depois.

Parece que você é um grande fã dos Faces [banda de Rod Stewart e Ron Wood nos

anos 1970], certo? Sim, e eu fui do Faces. Houve uma volta [em 2010], com Mick Hucknall, do Simply Red, no vocal substituin­do Rod Stewart. Foi a melhor coisa que fiz na vida. E agora Ronnie Wood é meu vizinho, eu sempre encontro com ele passeando com o cachorro em Little Venice [zona oeste de Londres].

Como conheceu Supla? Não me lembro bem, mas o Supla é um cara que, se vou para Los Angeles, ele está lá; se eu vou para Nova York, ele está lá. É engraçado.

Uma vez ele me telefonou, estava em Londres e eu perguntei o que ele estava fazendo. “Vou ver futebol, assistir West Ham versus Millwall. Vamos lá?”, ele disse. “Futebol?”, respondi. “Sim, vou lá para ver as brigas.” Eu disse “Supla, faz dez anos que não tem briga de torcidas aqui”. No dia seguinte, abro o jornal e está lá: uma enorme pancadaria. E o Supla lá no meio [risos]. Este é o Supla.

“[Johnny Rotten] era como se apresentav­a no palco. O tempo inteiro. Bem podre. O que o fazia ser bom no palco não é o que você necessaria­mente quer sentado ao seu lado

Glen Matlock

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Divulgação Glen Matlock, que foi expulso dos Sex Pistols, na juventude

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