Folha de S.Paulo

R. Kelly e Michael Jackson são acusados de abuso em filmes

Documentár­ios ouvem menores de idade que teriam sido vítimas dos músicos

- Thiago Ney

“Você gosta de meninas adolescent­es?”

“Quando você diz adolescent­es, de quantos anos de idade nós estamos falando?”

A pergunta e a resposta acima são de uma entrevista feita em 2008 pelo jornalista-americano Touré com o cantor R. Kelly.

A entrevista foi realizada pouco tempo depois de Kelly ter sido inocentado de 14 acusações de pornografi­a infantil contra menores de idade. A principal peça da promotoria naquele caso era um vídeo de 27 minutos que mostra um homem, supostamen­te R. Kelly, tendo relações sexuais com uma menina que teria 14 anos.

Agravação foi descoberta e entre gu eàpolíci apelo jornalista Jim DeRogatis, do Chicago Sun-Times. Ela data de 2001, quando o cantor tinha 34 anos.

Em julho de 2017, o mesmo DeRogatis publicou no Buzzfeed uma enorme reportagem em que acusa Kelly de comandar uma espécie de seita sexual em que mantinha seis meninas longe de suas famílias e controlava o que elas comiam, como se vestiam e com quem falavam ao telefone. O cantor nega todas as acusações.

Um dos principais nomes da música pop americana (com mais de 30 milhões de cópias de discos vendidos; três troféus no Grammy; colaboraçõ­es com Lady Gaga, Jay-Z, Céline Dion, Whitney Houston, Justin Bieber, entre muitos outros) R. Kelly é alvo de denúncias de abuso sexual contra menores desde o final dos anos 1990.

A partir de entrevista­s com dançarinas, cantoras de apoio, empresário­s e assessores que foram próximos ao cantor, o documentár­io “Surviving R. Kelly” esmiúça as acusações contra o autor de hits como “I Believe I Can Fly”.

Com roteiro e direção de Nigel Bellis e Astral Finnie, o filme tem cerca de seis horas, divididas em seis episódios que foram exibidos nos Estados Unidos pelo canal Lifetime entre 3 e 5 de janeiro —ainda não há exibidor no Brasil.

Com média de quase 2 milhões de espectador­es por episódio, o documentár­io praticamen­te monopolizo­u o noticiário pop neste início de ano, principalm­ente nos EUA. Lady Gaga soltou um comunicado em que se diz arrependid­a por ter chamado R. Kelly para participar da música “Do What You Want”, de 2013, e que tiraria a canção das plataforma­s de streaming.

“O que estou ouvindo sobre as acusações contra R. Kelly é absolutame­nte assustador e indefensáv­el. Sinto muito, tanto pela minha má atitude de quando era mais jovem quanto por não ter falado nada mais cedo”, escreveu a cantora no Twitter.

Outros que também trabalhara­m com Kelly e pediram desculpas foram o rapper Chance the Rapper e a banda francesa Phoenix.

Um dos depoimento­s mais fortes do documentár­io é o da cantora de apoio Jovante Cunningham, que excursiona­va com R. Kelly.

Ela afirma que, em um ônibus utilizado em turnês, viu o cantor fazendo sexo com a então novata Aaliyah.

“Nós passamos por muita coisa, vimos muita coisa. Ele destruiu muita gente, não sei dizer o quanto as pessoas ainda sofrem por coisas que acontecera­m 20 anos atrás.”

O episódio no ônibus teria ocorrido pouco antes de Kelly e Aaliyah se casarem, em 1994. Ele tinha 27 anos. Ela, 15. A cantora teve documentos que falsificav­am sua idade para 18 anos. A pedido da família dela, o casamento foi anulado seis meses depois. Talentosa cantora, Aaliyah morreu em um acidente de avião em 2001.

Em 1996, Kelly casou-se com Andrea Lee, que era uma dançarina de seus shows. O casamento durou até 2009. Lee acusa Kelly de ter sido várias vezes agredida por ele.

Uma das três filhas do casal, a cantora Buku Abi (cujo nome real é Joann Kelly), escreveu na semana passado em sua conta no Instagram:

“Rezo por todas as famílias e mulheres que foram afetadas pelas ações do meu pai. Acreditem, eu fui profundame­nte afetada por tudo isso. O mesmo monstro que vocês estão enfrentand­o é o meu pai. E sei muito bem quem e o que ele é. Eu cresci naquela casa.”

Em meio ao movimento #MeToo, que procura revelar e combater o abuso sexual, outro documentár­io aponta a câmera para uma celebridad­e pop acusada de abuso sexual contra menores.

Além de elencar as principais denúncias contra Michael Jackson, “Leaving Neverland” joga luz principalm­ente sobre a relação entre o cantor e dois meninos —hoje homens na faixa dos trinta anos. Os dois afirmam que foram abusados sexualment­e pelo cantor quando tinham sete e dez anos de idade.

Em junho de 2005, Jackson foi inocentado de dez acusações, entre elas a de ter molestado sexualment­e um menino de 13 anos.

“Leaving Neverland” será exibido pela primeira vez no Festival Sundance, que será realizado nos EUA entre 24 de janeiro e 3 de fevereiro. Já foi comprado pelo inglês Channel 4 e pela HBO.

Os representa­ntes do espólio do cantor disseram em comunicado que o documentár­io é “mais uma produção ultrajante e patética que tenta explorar e lucrar com Michael Jackson”.

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