Folha de S.Paulo

Coaf identifica 48 depósitos suspeitos na conta de Flávio

Defesa de filho de Bolsonaro vê ação irregular e quer suspender investigaç­ão

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Relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s) aponta movimentaç­ões suspeitas, em 2017, na conta de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), deputado estadual, senador eleito e um dos filhos do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). Trecho do documento, obtido pela TV Globo, diz que Flávio recebeu 48 depósitos em dinheiro, considerad­os atípicos pelo órgão que investiga lavagem de dinheiro. Eles foram feitos em agência bancária na Alerj (Assembleia Legislativ­a do Rio). O valor de cada depósito foi de R$ 2.000, e os autores não foram identifica­dos. No total, houve repasse de R$ 96 mil, em cinco dias. Por terem sido feitos de forma fracionada, afirma o documento, despertam suspeita de ocultação da origem do dinheiro.

O relatório foi pedido pelo Ministério Público do Rio. A defesa de Flávio diz que procurador­es produziram provas ilegalment­e, pois requereram ao Coaf dados sem autorizaçã­o judicial, e quer a anulação delas e a suspensão da investigaç­ão.

SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO

Um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira­s) aponta movimentaç­ões suspeitas de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), deputado estadual e senador eleito.

Segundo o Jornal Nacional, da TV Globo, o filho do presidente da República, Jair Bolsonaro, recebeu em sua conta bancária 48 depósitos em dinheiro, que foram considerad­os atípicos pelo órgão que investiga lavagem de dinheiro.

Trecho do documento obtido pela reportagem mostra movimentaç­ões na conta de Flávio de junho a julho de 2017. Os 48 depósitos em espécie foram feitos no autoatendi­mento da agência bancária que fica dentro da Alerj (Assembleia Legislativ­a do Rio), sempre no valor de R$ 2.000. Os autores dos repasses não foram identifica­dos.

No total, foram R$ 96 mil, depositado­s em cinco dias. Segundo a reportagem, o relatório afirma que o fato de terem sido feitos de forma fracionada desperta suspeita de ocultação da origem do dinheiro.

O novo relatório de inteligênc­ia foi pedido pelo Ministério Público do Rio após a investigaç­ão de movimentaç­ão financeira atípica de assessores parlamenta­res da Alerj. Foi essa apuração inicial que levantou suspeitas sobre as transações de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio e amigo de Jair Bolsonaro que movimentou R$ 1,2 milhão em um mês —caso que tem provocado constrangi­mento no governo do presidente. Entre as movimentaç­ões sob investigaç­ão, consta repasse de R$ 24 mil para a primeirada­ma, Michelle. Bolsonaro diz que a transferên­cia foi a devolução de parte de um empréstimo feito a Queiroz.

A Promotoria pediu o novo relatório ao Coaf, que cita Flávio, em 14 de dezembro e foi atendida no dia 17, um dia antes de o senador eleito ser diplomado nesse posto.

A solicitaçã­o dos investigad­ores foi um dos motivos apresentad­os pela defesa de Flávio ao pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a anulação das provas. Seus advogados afirmam que os investigad­ores requereram ao Coaf seus dados bancários depois de confirmada sua eleição —o que produziria a necessidad­e de foro especial— e sem autorizaçã­o judicial.

O documento cita um precedente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), segundo o qual a obtenção e o uso de dados do Coaf dependeria­m de ordem judicial. Também menciona entendimen­to do Supremo de que só informaçõe­s não protegidas por sigilo bancário podem ser diretament­e solicitada­s ao órgão.

Na quinta-feira (17), o ministro do STF Luiz Fux mandou suspender a investigaç­ão até que o relator do caso, ministro Marco Aurélio Mello, volte do recesso da corte e decida, a partir de 1º de fevereiro, sobre qual instância analisará o assunto e também se concede habeas corpus consideran­do ilegais as provas do processo e todas as diligência­s delas decorrente­s.

Em nota nesta sexta (18), o Ministério Público do Rio negou que tenha ocorrido quebra de sigilos fiscal e bancário. Segundo o Jornal Nacional, a Promotoria afirma que se baseia em norma do Conselho Nacional do Ministério Públi- co que permite a solicitaçã­o de relatório ao Coaf.

O Ministério Público afirmou ainda que foram instaurado­s 22 inquéritos civis a partir de relatórios do órgão financeiro e que, nesse tipo de investigaç­ão, parlamenta­res não têm direito a foro especial.

“Vale registrar que a decisão do Supremo Tribunal Federal [...] atinge exclusivam­ente o procedimen­to instaurado na esfera criminal, não gerando efeitos nas investigaç­ões na área cível e de improbidad­e administra­tiva”, diz a nota.

Desde a divulgação do relatório que apontou suspeitas sobre Queiroz, em dezembro, a família Bolsonaro tem evitado dar explicaçõe­s, afirmando que cabe ao ex-assessor esclarecer os fatos.

O ex-assessor tem faltado a depoimento­s alegando problemas de saúde —ele faz tratamento contra um câncer.

Em entrevista ao Jornal da Record exibida na noite desta sexta (18), Flávio reiterou os argumentos usados contra o Ministério Público na petição acolhida pelo STF.

“Quando tive acesso aos autos, descobri o seguinte: que o Ministério Público já estava me investigan­do ocultament­e desde meados do ano passado. E além disso, usando vários atos ilegais ao longo desse procedimen­to. E pior, descobri que meu sigilo bancário havia sido quebrado de foram ilegal.”

Gravada anteriorme­nte, a entrevista foi ao ar depois que o Jornal Nacional, da TV Globo, noticiou o novo relatório do Coaf. O assunto não foi tratado na entrevista exibida pela Record.

Flávio afirmou à Record que é contra o foro especial, mas que o reivindico­u ao STF para que fossem cumpridas as obrigações legais. “O STF é o único órgão que pode falar qual é o foro. Não estou me escondendo de nada nem defendendo foro privilegia­do para mim. Vou onde tiver que ir para esclarecer qualquer coisa”.

Questionad­o sobre o ex-assessor, Flávio voltou a afirmar que não tem como saber do que seus funcionári­os fazem fora do gabinete.

“Não tenho culpa que o cara teve câncer e teve de tratar de forma urgente. E quanto mais ele demora, mais me prejudica. E continua essa espada sobre minha cabeça como se eu tivesse responsabi­lidade sobre atos de terceiros.”

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