Trump apoia a entrada do Brasil em clube dos ricos
Em visita aos EUA, Bolsonaro não descarta suporte a ação militar na Venezuela
Em reunião ontem na Casa Branca, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) conseguiu o apoio do presidente dos EUA, o republicano Donald Trump, para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o clube dos países ricos.
O governo brasileiro vê a entrada na OCDE como um selo de qualidade de políticas econômicas. Em troca da anuência norte-americana, o Brasil abrirá mão do tratamento especial na OMC (Organização Mundial do Comércio), que dá prazo maior em acordos comerciais.
Indagado sobre a Venezuela, Bolsonaro não descartou auxílio aos EUA se houver intervenção militar —a fala desagradou a generais brasileiros. Pessoas ligadas ao governo disseram, porém, que isso não ocorrerá e que o presidente deu a declaração para satisfazer Trump.
O ditador Nicolás Maduro acusou Trump e Bolsonaro de fazerem uma “apologia da guerra”.
O presidente Jair Bolsonaro encerrou seu encontro com o líder americano Donald Trump nesta terça-feira (19) em Washington com um trunfo: o apoio dos EUA para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o clube dos países ricos.
Na primeira visita bilateral de Bolsonaro ao país como presidente, o sinal verde dos EUA era o principal objetivo do governo brasileiro, que vê a entrada na organização como um selo de qualidade de políticas macroeconômicas.
Mas o apoio não saiu de graça. Em troca, o Brasil abrirá mão de seu “tratamento especial e diferenciado” na Organização Mundial de Comércio (OMC), que dá ao país maiores prazos em acordos comerciais e outras flexibilidades.
A viagem também coroou o alinhamento ideológico e a afinidade entre os dois líderes.
Na entrevista coletiva no jardim da Casa Branca, eles trocaram elogios e piadas, demonstrando a química entre os dois populistas de direita.
“Sempre fui grande admirador dos EUA, e a minha admiração aumentou com sua chegada à Presidência”, disse Bolsonaro a Trump. “O Brasil e os EUA estão irmanados na garantia da liberdade, temor a Deus, contra ideologia de gênero, politicamente correto e as fake news.”
Trump tampouco economizou nos afagos. “Você fez um trabalho incrível para unir o país. E estou muito orgulhoso de ouvir o presidente usar o termo fake news.”
Os EUA estão em guerra para realizar uma reforma na OMC. Um dos principais objetivos é acabar com a possibilidade de países se autodefinirem como “em desenvolvimento”, classificação que garante tratamento especial.
Washington afirma que China e Índia se beneficiam indevidamente desse mecanismo.
“Seguindo seu status de líder global, o presidente Bolsonaro concordou em abrir mão do tratamento especial e diferenciado na OMC, em linha com a proposta dos EUA”, disse o comunicado dos países.
Ao aceitar isso, o Brasil perde a possibilidade de fazer acordos de preferências comerciais semelhantes aos fechados com Índia e México.
Esses acordos, que reduzem tarifas de apenas parte dos produtos, só são possíveis devido ao tratamento especial.
No entanto, o Brasil vem usando pouco o tratamento diferenciado e, na última leva de negociações, de facilitação de comércio, abriu mão da flexibilidade em quase todos os compromissos.
No proposta dos EUA, países que são membros ou estão em processo de acesso à OCDE, além de membros do G20, não podem se autodesignar em desenvolvimento. Turquia e Coreia do Sul, que já são membros da OCDE, mantêm seu tratamento diferenciado na OMC.
Além disso, o apoio americano não significa que o Brasil esteja automaticamente admitido, mas apenas que os EUA deixaram de vetar a pretensão brasileira.
Para entrar oficialmente na OCDE, o país ainda tem que cumprir uma série de requisitos da organização —a maior parte deles já foi atendida.
Precisa também da aprovação dos europeus, que pressionam para que o próximo admitido seja do continente, já que o último a entrar foi um latino-americano, a Colômbia.
O presidente argentino Mauricio Macri arrancou em abril de 2017 uma declaração de Trump apoiando a entrada do país na OCDE, mas quase dois anos depois a Argentina continua fora do clube.
O Brasil também ganhou status de aliado prioritário extra-Otan, como a Folha antecipou. “Pretendo designar o Brasil como aliado prioritário extra-Otan, e quem sabe, até membro da Otan, vou falar
com o pessoal”, disse Trump.
A designação cabe a países que não são membros da aliança militar ocidental, mas que são aliados estratégicos militares dos EUA. Com isso, o Brasil passa a ter acesso a diferentes tipos de cooperação militar e a transferências de tecnologia.
O apoio na OCDE e a designação de aliado extra-Otan são duas formas de o governo Trump recompensar Bolsonaro por seu alinhamento ideológico e pela aproximação com os EUA.
Nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rous- seff não houve gestos semelhante, devido à menor afinidade entre os líderes —ainda que George W Bush e Lula tivessem boa química, ideologicamente estavam em lados opostos— e porque os governos do PT optaram por maior integração com países em desenvolvimento.
O resultado mais concreto da visita de Bolsonaro foi a assinatura do acordo de salvaguardas tecnológicas que permitirá o aluguel da base de Alcântara, no Maranhão, para o lançamento de satélites.
Negociado há mais de 20 anos, ele pode gerar até US$ 10 bilhões (R$ 37 bilhões) por ano ao Brasil. O acordo agora precisa ser aprovado pelo Congresso brasileiro.