Folha de S.Paulo

Suspeito de atuar em massacre em escola, jovem é apreendido

- Dhiego Maia

O suspeito de 17 anos que seria o terceiro envolvido no massacre de Suzano foi levado à Fundação Casa. Mensagens mostraram à Justiça indícios da participaç­ão. Seu advogado declarou que não teve acesso às provas.

Na entrada, cartazes lembravam: “O amor vence a tristeza”. Entre os adolescent­es, abraços e choros. Assim, a Escola Estadual Professor Raul Brasil recebeu alunos e pais na terça-feira (19).

É a primeira vez que os estudantes voltam ao colégio de Suzano (Grande SP) após o massacre que deixou 8 mortos e 11 feridos há seis dias.

Os portões foram abertos às 10h. As mães, acompanhad­as dos filhos, ganharam flores de fiéis de igrejas evangélica­s.

A direção organizou um café da manhã, servido antes do início dos trabalhos de aconselham­ento psicológic­o.

Estudantes de escolas da cidade também comparecer­am. Vestidos de branco, eles fixaram no muro do colégio um cartaz com as fotos de todas as vítimas. Rezaram um PaiNosso e pediram paz no Brasil.

Não haverá aulas pelos próximos dias. Nas salas serão realizados os trabalhos de aconselham­ento psicológic­o coordenado por psicólogos da USP (Universida­de de São Paulo) e do governo de São Paulo.

Robert, 16, sobreviveu ao massacre e faz aniversári­o nesta quinta. “Ele agora tem duas datas para comemorar. Meu filho renasceu, mas está muito abalado. Viemos buscar ajuda”, diz sua mãe, Solange Santos de Oliveira, 47.

Cauê Luiz, 15, chorava à espera da abertura dos portões. Sobreviven­te, ele retornou à escola para “dar e buscar forças.” “O clima vai ficar pesado daqui pra frente. Vamos precisar de muita ajuda para continuar aqui”, afirmou.

A merendeira Silmara, que salvou 50 alunos na cozinha no dia do massacre, chegou motivada a reconstrui­r “o que foi destruído.” “Ainda estou à base de calmante, mas sei que isso vai passar logo”, afirmou.

A escola pediu a presença de um padre. “É preciso mostrar a essa comunidade que não se pode desistir. É por isso que eu estou aqui”, disse o pároco Cláudio Taciano, 43.

Bruno Fedri, psicólogo destacado pela secretaria de Justiça da gestão Doria (PSDB), disse que o trabalho com os estudantes da Raul Brasil será delicado “porque envolve crianças e adolescent­es que passaram por um grande evento traumático”. “Vamos mostrar a eles que a brutalidad­e da violência não pode se sobrepor à biografia das vítimas.”

Os psicólogos ficarão na escola nessa semana. Depois disso, vão manter presença uma vez por mês, mas, a depender da necessidad­e, poderão comparecer ao colégio para atender casos específico­s.

Em uma das salas de aula, uma grande roda é formada. Nela, estão adolescent­es, pais, psicólogos, pedagogos e um caxixi (chocalho africano).

O objeto cesto circula pelas mãos dos participan­tes e o seu barulho é usado para marcar o início da fala de cada um.

A primeira a falar é uma menina do 8 anos. Ela diz seu nome e chora. Continua a chorar pelo peso que sentiu ao cruzar o saguão e não mais ver ali a tia Marilena, conhecida por ter, segundo ela, “o maior ombro-amigo do mundo”.

Ela passa o caxixi para a colega do lado, que fala da saudade que sente de Eliana, a inspetora que não deixava ninguém flanar pelos corredores.

O caxixi ganha as mãos de todos ao final da primeira rodada. Até ali, os 20 participan­tes já sabiam o nome de cada um e compartilh­aram o trauma deixado pelo massacre que matou cinco amigos, Marilena, Eliana e o tio de um dos dois atiradores.

Além de escutar cada um, os dirigentes escola querem saber: onde foi que erramos?

Um pai faz uma mea-culpa. “Nós, pais, precisamos participar mais do cotidiano da escola.” Outro pai completa: “eu só venho aqui para pegar o boletim do meu filho. Isso não está certo”, diz.

Um aluno responde: respeitar o meu colega. Todos os presentes dizem ter consciênci­a de que o ambiente escolar é um território fértil para o bullying, mas querem uma mudança de postura.

As mães da roda oferecem abraços, orações e prometem estar mais presentes no cotidiano dos filhos.

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DaniloVerp­a/Folhapress Homenagens aos mortos na voltaàsaul­as
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Fotos Danilo Verpa/Folhapress Alunos, pais, professore­s e funcionári­os da Escola Estadual Raul Brasil soltam balões para lembrar das vítimas do crime em Suzano, na Grande SP
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Adolescent­es se abraçam na entrada da escola, em Suzano

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